13 novembro, 2008

ACDP:cuidado com as «companhias»!

Bem, tudo aponta para esta ideia: a recente formação da Associação de Cidadãos do Porto (ACDP), parece ter sido a mola percussora do acordar para a mobilização cívica do Porto. Mais não fosse por isso, já valeu a pena ser criada.
Subitamente, surge do nevoeiro do silêncio tripeiro, o Movimento "Onde vais cidade?", ao que parece, já constituído há algum tempo. Com ele, vêm alguns políticos e figuras públicas que se têm mantido tímidas e caladas, durante demasiado tempo. Sinceramente, não sei se esta súbita dinâmica da cidadania portuense será caso para nos regozijarmos ou para nos preocuparmos, ou, no mínimo, para nos precavermos.
Quando os cidadãos, com parquíssimos recursos cívicos, são impelidos pelo sufoco da insustentabilidade económica e política a organizar-se em movimentos e associações, por não confiarem na classe política, não vejo com bons olhos esta colagem dos políticos (sejam de que partido sejam) aos cidadãos, sobretudo, em pré época eleitoral. Nada de confusões, que ninguém tenha pressa para puxar do cardápio da indignação contra o que acabo de dizer, acusando-me de pessimista ou de desmancha prazeres, porque estou de acordo com a ideia, mas não tanto com o conteúdo.
Os grupos, movimentos cívicos, seja lá para que fins forem gerados, só podem servir os seus objectivos se forem coesos e descomprometidos com organismos de cariz político-partidário. Para mim, é improvável que, quando os partidos políticos dão sinais de imobilismo, de desorientação ideológica e até hierárquica, onde a auto-regeneração é bloqueada pelas próprias linhas conservadoras do boss e seu «fiel» aparelho, possam «restaurar-se» junto dos cidadãos, colando-se à suas iniciativas, sem se terem previamente desvinculado dos respectivos partidos. É uma "salada russa", de difícil digestão. Na minha opinião, não passará nunca de um processo de intenções, de uma profusão de ideias e interesses contraditórios onde a luz (objectivo) jamais se fará.
Os actores políticos devem resolver os seus assuntos, as suas divergências dentro dos próprios partidos, ou então, sairem deles para se juntarem depois aos cidadãos e poderem falar com propriedade de movimentos cívicos. Os papéis estão a ser invertidos. Pior do que isso, estão a ser distorcidos, porque deviam ter sido os partidos da oposição os primeiros a mobilizar a sociedade portuense para as grandes causas que a flagelam e definham (como o centralismo) e a verdade é que não o têm feito. Não foi ontem, nem há um ano, que os problemas do Porto se fizeram sentir, foi precisamente, há 34 anos, meu senhores! E já houve quem dissesse (e ainda diga) que a culpa deste castigo, também é "nossa", só que, pessoalmente, sempre me insurgi contra esta irresponsabilidade, e por isso ignoro de todo qual terá sido a minha quota de culpa!
Todos, mas todos os partidos da esquerda à direita, até aqui, mostraram-se conformados com a situação actual, e não vi nenhum a destacar-se (por exemplo) na promoção da discussão pública sobre a Regionalização. Por medo, oportunismo, ou carreirismo? Os debates televisivos sempre são mais confortáveis e dão bom dinheiro, já sabemos, mas, às vezes é preciso sair do sofá. Não é?
A propósito da eventual candidatura de Elisa Ferreira à Câmara do Porto, escrevi aqui que, caso ela não se demarque da mediocridade política de alguns seus «camaradas» e perceba constituir um erro tremendo seguir-lhes os "conselhos", dará um tiro no próprio pé e obrigará os portuenses a aturar Rui Rio mais um mandato com toda a inoperância e prejuízo que isso acarretará. Se não for capaz de ver ratoeira tamanha, então, ficaremos pelo menos a saber que Elisa Ferreira não seria uma boa Presidente de Câmara!
Suponho que, este pequeno esboço de "incompatibilidades" entre parceiros da mesma "turma" (leia-se, de partido), deve fazer pensar melhor os mais entusiastas sobre o pragmatismo desta súbita união dos políticos às associações de cidadãos do Porto, que mais parece uma provocação.

7 comentários:

  1. Pois é, ... cheira-me a tentativa de 'enquadramento' pela clique política do costume.

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  2. Sinceramente não me acredito muito nisso...

    Esperar para ver.

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  3. Ou, dividir, para "abortar"...

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  4. Esperemos que não.
    Seria extremamente grave que tão ilustres cidadãos se comportassem de forma oportunista e sabotassem iniciativas sérias de interesse colectivo por ganhos políticos de escasso valor.
    Estou certo que um eventual lugar na vereação da cidade não é estímulo suficiente para haver tentativas de alienar apoios a outras associações e movimentos pró-Porto.
    Penso que a eventual colaboração é possível e que os elementos desse novo movimento estarão disponíveis a tal, sem serem guiados por uma agenda oculta.

    Sobretudo, a actuação do novo grupo não irá chocar com a ACDP, pois parece que pretendem actuar a um nível mais relacionado com políticas municipais, o que apesar de importantes, não serão o maior dos nossos problemas.

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  5. Penso que, em pricipio, a aparição de grupos cívicos com o objectivo de lutar contra o marasmo portuense, é de aplaudir. Diria mesmo que quantos mais melhor. O destino final seria desejavelmente um entendimento e fusão dos vários movimentos,criando-se deste modo o partido regional que é para mim a condição sine qua non para começar a fazer ouvir a nossa voz nos centros de decisão centralistas, a começar pela Assembleia da República. A alternativa é o estado de coisas actual em que as vozes que se levantam aqui na cidade não chegam a Lisboa, que prossegue, sem olhar para o lado,os seus planos castradores para o resto do país. Exemplos recentes? As portagens das SCUT. Deu o governo alguma vez sinal de ter ouvido e ponderado as razões que nos assistem contra as portagens? E o hub da Ryanair?Fomos ou não lixados? E o caso da gestão autónoma do ASC? Há algum indício de que o governo mostre abertura para discutir honestamente a proposta apresentada pelo Porto? Alguém duvida como isto vai terminar?

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  6. Estes movimentos tem obrigatoriamente que ter objectivos concretos e um plano para ser seguido.

    Podem aparecer mil e um movimentos, mas se ficarem pelas conferências de imprensa (às quais apenas alguns prestam atenção) e não "concretizarem", então mais vale ficarem sossegadinhos.

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  7. Gostava de ter a Elisa Ferreira à frente da CMP, mas parece-me que há muita gente que não tem o mesmo interesse, e quase aposto que a maioria nem é de cá (do Porto, claro!)

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...