Tenho duas opiniões antagónicas àcerca da comunicação virtual. Por um lado, permite aos cidadãos de todo o mundo trocarem opiniões sem sequer se conhecerem pessoalmente. Por outro, propicia aos frouxos e pobres de espírito, excelentes oportunidades para - a coberto do anonimato -, destilarem fel acumulado e insultarem, em vez de comentarem seriamente os seus pontos de discórdia. Esta, é uma das razões por que prefiro expressar-me no blogue e abdicar de maior visibilidade nas redes sociais como o Facebook onde os comentários são bem mais imoderados e impessoais. Só o tempo que ia perder a eliminar essa peçonha chamada anónimos, justifica a opção de me ficar pelo blogue. Prefiro assim.
Costumo acompanhar, e por vezes comentar, na blogosfera portista, que é o mesmo que dizer que conheço a angústia por que estão actualmente a passar. Mesmo aqueles que, com louvável contenção, preferem esconder o que lhes vai na alma a criticar o FCPorto, a sua estrutura directiva, o seu presidente, ou o seu treinador. Pensam talvez que essa postura lhes confere um ascendente de amor clubista superior aos que dizem o que pensam.
Em Portugal, a crítica é ainda vista como uma coisa perniciosa, quase profana, um manifesto do mal. Ainda me lembro, com muita saudade, de uma espécie em vias de extinção (ou mesmo já extinta) chamada críticos de televisão que muito contribuíram para ensinar os espectadores a avaliar mais a substância e a dispensar o fútil. Estou-me a recordar de um chamado Mário Castrim, que nos anos 70 assinava uma rúbrica no Diário de Lisboa, dedicada aos conteúdos de televisão. Hoje, se ainda fosse vivo, faria corar de vergonha os produtores de tv da actualidade. Os Big Brothers e os Dias Seguintes iam cedo à falência, mas o público passava a ter outro tipo de exigências...
Bem, mas vamos ao que interessa. Como é possível ficar indiferente ao FCPorto da actualidade e ao seu Presidente? Como é possível continuar a confiar num homem que já não é o mesmo? Os tempos mudaram, é verdade. Não podemos pedir que os métodos de acção de Pinto da Costa de hoje sejam os mesmos do passado, como sempre se impunha quando queria fazer ouvir a sua voz. Mas deixar de ter voz, ou falar de banalidades, não parece ser a melhor adaptação aos novos tempos.
Hoje o FCPorto tem uma "ferramenta" poderosa que outrora nunca teve, ao contrário dos clubes do regime que sempre foram privilegiados pelos media privados e do Estado, e contudo não tem sabido usá-la para defender os seus interesses legítimos. Tem o Porto Canal, mas Pinto da Costa raramente lá vai. Chama aos estúdios alguns autarcas do Norte e despreza o da própria cidade, apesar da amizade entre Pinto da Costa e Rui Moreira. Mas que raio de amizade será esta? Do tipo vai-vem, como a que parece ter com o presidente do Marítimo?
Ao contrário de outrora, o FCPorto de hoje promove jogadores antes de mostrarem o seu valor e de se integrarem no clube. Os jogadores usam o canal para spots publicitários de moda, como Quaresma (caprichoso), e recentemente com Osvaldo, que nem sequer teve ocasião para provar ser uma mais valia para o clube. Estimula-se a vaidade individual, antes da exigência desportiva, e espera-se que os jogadores entendam a mensagem como um sinal de rigor e austeridade. Jogadores e treinador, foram entregues a si próprios. O Presidente hoje já não aparece, como fazia antes, nos momentos chave para os defender da pressão dos media. Quando aparece, chega sempre tarde, para dizer nada. Será falso isto? Haverá algum portista honesto que não concorde com esta descrição?
Sábado, o treinador Lopetegui vai ter um teste derradeiro, mas Pinto da Costa também... Se falhar, se não vencer em Alvalade, nada estará perdido, mas não deixará de ser um retrocesso de 2 pontos. Nada estará perdido, é verdade... Mas, colocará Pinto da Costa a sua teimosia à frente dos interesses do FCPorto e voltará a reforçar a confiança em Lopetegui?
Falemos claro. Houve épocas, não interessa agora como nem quando, que Pinto da Costa despediu treinadores com o campeonato a decorrer (cinco), sendo que o último foi Paulo Fonseca, portanto não é nada de insólito. A questão que se põe é: terá mesmo o presidente portista confiança nas competências do treinador, ou irá mantê-lo apenas porque acha que não vale a pena arriscar noutra pessoa? O momento, não é o ideal para ir ao mercado, mas então porque não o fez com calma no início da época passada e foi buscar Lopetegui cujo currículo era pouco mais que o de seleccionador dos Sub-19, 20 e 21 de Espanha? Não foi uma aposta de risco? Portanto, corremos riscos na pré-época e agora tememos fazê-lo com Lopetegui a revelar óbvias dificuldades nos momentos decisivos? O risco é dele, é certo, mas isso para os portistas pode significar mais uma época sem ganhar nada, mas também o fim da confiança em Pinto da Costa...
Falemos mais claro ainda. Nada me move contra Lopetegui, até simpatizo com ele. Já o apoiei muitas vezes, mas nada é perene, porque antes do mais, move-me tudo a favor do FCPorto. Não quero ver o nosso clube transformado num museu passadista, nem muito menos num palco de vaidades e oportunismos. Quero continuar a ver o FCPorto como um grande clube de futebol que é, de grandes jogadores, com ALMA e ALEGRIA, e não esta amostra tristonha que vemos agora.
Lamento deixar no ar uma ideia demasiado negativa, mas tenho poucas expectativas na manutenção do primeiro lugar no Campeonato. Não vejo solidez, constância, força anímica, nem qualidade que me convençam. Estou apenas a traduzir com honestidade aquilo que os meus olhos vêem desta nossa equipa.
Mas, nada é impossível. Mais do que uma victória em Alvalade, interessa-me saber se equipa e treinador terão estaleca para manter a fasquia alta para o que resta das competições em curso.
PS-Nada do que está aqui escrito ensombra o muito de bom que Pinto da Costa trouxe ao clube. Há um tempo para tudo. Se as capacidades estão intactas, os méritos têm de ser traduzidos em acções. Se essas acções não têm a mesma objectividade, se ignoram sócios e apoiantes, é porque chegou o tempo de parar e dar o lugar a outros. O arquivo registará o passado e só ficará imune a desvios se houver a modéstia de reconhecer que o nosso tempo passou.