21 janeiro, 2015

Pois bem. Mas, qual será a resposta para tanta hipocrisia?

David Pontes
A palavra proibida
Nunca mais me esqueci de uma apresentadora de televisão que em conversa com um convidado exclamou: "Que horror! Não me fale de regionalização que fico logo maldisposta". A frase instintiva, dita com entoação de "tia" de Cascais, cristalizou para mim a reação que muita gente tem sempre que o tema versa a reorganização do Estado com a criação, prevista na Constituição, de uma estrutura de poder intermédia entre o Governo central e os municípios.
De pouco adianta recordar que Portugal persiste como um dos países mais centralizados da Europa, ou que o princípio da subsidiariedade - a tomada de decisões tão próximas quanto possível do cidadão - é um dos vetores de governação da União. O assunto tem má imprensa em Lisboa e a maior parte dos políticos recusa ter uma discussão razoável sobre o assunto, mesmo que pressionados pela necessidade de reforma do Estado.
Bem pode o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, lembrar em crónica que "87% da despesa pública está centralizada, assim como a esmagadora parte do monstro da dívida pública", cabendo aos municípios a responsabilidade somente por 2,5% desta dívida. Bem pode porque do lado do seu partido, do PSD, o silêncio sobre o assunto é quem mais ordena.
E, no entanto, foram notáveis do PSD que vieram este fim de semana defender a regionalização, num seminário organizado pela Federação Distrital do Porto do PS, que teve o condão de fazer ouvir de novo a palavra proibida. Rui Rio considerou que a "regionalização podia ser talvez o maior abanão para alterar o sistema político" atual, enquanto Silva Peneda referiu que o desafio passa por "demonstrar que podemos ter com a regionalização um Estado mais barato e mais eficiente".
Na plateia, estava António Costa, que diz ter aprendido com a experiência de autarca e promete, se chegar a Governo, avançar, não com a palavra proibida, mas com uma "descentralização". Se calhar, já não seria mau, mas aqueles que, fora da capital, estão fartos de esperar pela regionalização sabem bem que o mais provável é que, como os seus antecessores, aquele que chegue a ser primeiro-ministro rapidamente passe, como a apresentadora, a exclamar: "Que horror!".
(do JN




                                                                                                         












































                       


Nota de RoP:  
Okey, o diagnóstico está feito há muito, e é o correcto. Agora pergunto: por que é que os homens da comunicação social quando o tema é a Regionalização não vão mais fundo? Por que é que quando estão frente a estes artistas (Rui Rio e António Costa) não os encostam à parede confrontando-os com as suas históricas falsas promessas e não lhes perguntam se estão dispostos a dar garantias aos eleitores e que não recuarão, se forem eleitos? Garantias que, obviamente não passariam pela simples palavra de honra, porque essa, há muita que a perderam, digo eu.










19 janeiro, 2015

Humor é isto. Realista, logo, inatacável.

Cartoon ELIAS O SEM ABRIGO DE R. REIMÃO E ANÍBAL F.

Então, em que ficamos senhores jornalistas, a Liberdade é ou não é incondicional?

Estado não cumpre e assobia para o lado
Afonso Camões
O Estado português deixa que se violem sistematicamente o segredo de justiça e o direito de reserva da vida privada, e assobia para o lado. Posso testemunhá-lo. Disse isso mesmo à Senhora Procuradora-Geral da República, de quem se espera que seja a guardiã dos direitos de cidadania. E que faça o que lhe compete.
Explico-me.
Primeiro, o romance de cordel.
Desconheço a dimensão da matilha, mas sei que, ainda que pouco inteligente, obedece ao dono que a mandou ir "chatear o camões". Só percebeu a terminação, mas veio. Literalmente.
Razões sanitárias inibem-me de dizer o nome da Coisa publicada que nas últimas horas, e provavelmente nas próximas, mente com todas as letras, procurando atingir o meu nome, Afonso Camões, e, por esta via, tentar minar os laços de confiança e de credibilidade na relação com os leitores que fazem do Jornal de Notícias um grande jornal nacional, sustentável, vencedor e orgulhoso da sua pronúncia do Norte.
A Coisa publicada - que lidera em Portugal o triste campeonato das condenações e dos crimes por difamação, abuso de liberdade de imprensa, de violação do direito de reserva da vida privada e outras malfeitorias escritas que tais - mente e manipula, sabe que o está a fazer, mas vai ter que responder por isso, mais uma vez. Associa-nos a um fantasioso plano conspirativo para a tomada do poder na comunicação social, a mando do antigo primeiro-ministro José Sócrates. Esse mesmo, aperreado há 59 dias sem culpa formada, detido preventivamente por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
A "novidade" que trazem, de mau "jornalismo", é velha de mais de 40 anos, tantos quantos os da relação de amizade que mantenho, com gosto e desde a minha juventude, com Sócrates.
E dizem que o avisei que ia ser detido. E que terá sido em maio, quando eu integrava a comitiva do presidente da República à China e a Macau. Ora, se o avisei, e se foi em maio, eu era administrador e presidente da Agência Lusa. Logo, não estava jornalista, muito menos diretor do nosso Jornal de Notícias. E, pelos vistos, nem sequer havia processo.
É verdade: disse-me um jornalista do grupo empresarial da Coisa que a prisão de Sócrates estava iminente. Esse mensageiro cometeu um erro: quando se tem uma informação relevante, o primeiro dever de cidadão de um jornalista livre, pesados os seus direitos e responsabilidades, é para com os seus leitores.
Ele deveria ter publicado a informação, que lhe veio, disse-me depois, por um seu camarada, diretamente da investigação, liderada pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador Rosário Teixeira. Erro maior, criminoso, é ser verdade essa possibilidade: que a fuga de informação veio dos agentes da justiça, ou seja, de onde menos podemos admitir que se cometam crimes de violação do segredo de justiça.
Sim, eles falam com jornalistas!
Durante meses, o caso parecia ter ficado por ali.
Mas basta uma pequena ponta de verdade para sobre ela fazer cair a sombra de uma grande mentira. Depois da detenção de José Sócrates, a 21 de novembro, mas comentada há meses nos meios políticos e jornalísticos, começou a circular nos corredores da intriga que eu teria avisado o antigo primeiro-ministro da sua iminente detenção. Mas, agora, já como diretor do JN, o que configuraria uma grave violação do Código Deontológico. A mentira chegou, plantada, a vários jornais, mas teve sempre perna curta.
O ataque à minha reputação, mas sobretudo à independência e à credibilidade do nosso Jornal de Notícias, levaram-me a pedir uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República. Joana Marques Vidal recebeu-me quinta-feira à tarde, dia 15, na presença do meu diretor-executivo e do diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Amadeu Guerra, que tutela a investigação ao caso Sócrates, liderada pelo procurador Rosário Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre.
Narrei à procuradora parte dos factos aqui descritos. Mostrei-lhe séria preocupação pela intentona em curso, lesiva e violadora dos meus direitos, liberdades e garantias, e, sobretudo, o gravíssimo atentado à credibilidade deste JN centenário, que atravessou regimes e revoluções, mas que não é nem nunca poderá ser utilizado como instrumento de uma qualquer guerra empresarial, na disputa pelo controlo dos média portugueses.
Falei a Joana Marques Vidal das escutas de que estaria a ser alvo, da violação do segredo de justiça, da tentativa de condicionamento da minha liberdade enquanto diretor de jornal e jornalista, e da necessidade de a procuradora-geral, como guardiã dos direitos dos cidadãos, atuar para impedir esta violência e a continuação destes crimes. Disse-nos nada poder fazer e, candidamente, aconselhou-nos a consultar um advogado...
Diz a Coisa publicada que foi Sócrates que me fez diretor do Jornal de Notícias.
Sou honrosamente diretor deste grande jornal, com o voto unânime do seu Conselho de Redação, depois de ter aceitado o convite dos meus administradores, com o apoio do Conselho de Administração deste grupo empresarial. É perante eles que respondo. E é aos nossos leitores que dou a cara, cada dia.
Aqueles que se cruzaram comigo ao longo de 35 anos de carreira, que me orgulha a mim, aos meus filhos e amigos, sabem a massa de que sou feito.
Trabalhei com zelo e lealdade sob Freitas Cruz, Feytor Pinto, Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Francisco Balsemão, Cunha Rego, Vasco Rocha Vieira. Nos últimos anos, enquanto administrador da Lusa, trabalhei sob sete ministros, ao longo de três governos de diferentes famílias.
Não sou de deixar ninguém para trás. E guardo em casa, entre outras honrarias, a medalha de mérito da minha terra e a Medalha de Mérito Profissional que me foi atribuída em nome do Estado português.
Mas voltemos à audiência na Procuradoria-Geral da República. O diretor do DCIAP, Amadeu Guerra, considera que "não há política neste caso" e, sem que eu o tivesse questionado, sublinhou a confiança dos seus "homens no terreno" (estou a citá-lo), negando, primeiro, ter ouvido as escutas, mas, depois, confirmando ter ouvido mas não tudo.
No dia seguinte, a 16, a Coisa publicada bradava o primeiro folhetim da fantasia conspirativa, pretendendo atingir o presidente do Conselho de Administração da Global Media, Daniel Proença de Carvalho, e os seus administradores.
Quem é essa gente, que atira a pedra escondendo a mão?!
Há mais de 400 anos, Filipe II de Castela, aquele que residiu em Lisboa, topou-lhes o caráter nos avoengos, em carta enviada à mãe para Madrid: gente rasteirinha, daqueles que "sofrem mais com a ventura alheia do que com a dor própria". Dói-lhes de inveja que sejamos sãos, a crescer e melhores do que eles. E estão outra vez enganados: aqui, na casa, cumprem-se regras herdadas de gerações de grandes jornalistas, ao longo de 127 anos, e gostamos de roçar a nossa na língua portuguesa. Mas antes mortos do que na imundície em que esgravatam.
Mais luz sobre este lance põe a descoberto, também, o mais sujo e antigo dos truques das guerras comerciais que todos conhecemos: atirar lama sobre os produtos e as empresas da concorrência, para ganhar vantagem no mercado. É nessas práticas que se revelam os carateres.
Não disputaremos tal terreno.
A liberdade de imprensa não pode ser utilizada em nome do lucro ou de agendas empresariais. Nada é mais importante do que a liberdade. E são ignóbeis quaisquer tentativas de submeter a liberdade a agendas pessoais - sejam elas privadas, ou mesmo públicas.
Não podemos permitir que, a coberto de um caso mediático, empresas nossas concorrentes utilizem a mentira para tentarem ganhar vantagem.
A meses de duas eleições que convocam os portugueses para importantes escolhas, a quem aproveita a tentativa de condicionamento do JN?
Este jornal tem critérios e depende exclusivamente deles. São os da ética e do rigor profissional. Não tem ambições políticas e é indiferente a quem as tiver. Não deve obediências a partidos, autarquias, clubes, empresas ou qualquer sacristia. Mas não é nem será neutral na defesa das grandes causas, pela liberdade e dignidade do homem como medida de todas as coisas.
Contra o centralismo, a miséria, a ignorância, a inveja e a tirania, não gostamos do jornalismo mole, narcótico ou redondinho. Ao contrário, apreciamos e procuraremos acolher e cultivar a prosa culta, comprometida, por vezes revoltada - e sempre, sempre inconformada. Um jornal são milhões de palavras. E quem as escreve escreve-se a si também, no seu registo histórico.
O JN é um exercício de memória contra o esquecimento. Na batalha contra as desigualdades e na afirmação da solidariedade inclusiva, em primeiro lugar na relação de vizinhança, aí esteve e aí estará sempre o Jornal de Notícias.
Como eu compreendo o Papa Francisco quando, há poucos dias, disse que se alguém lhe ofendesse a mãe "deveria estar preparado para levar um soco". Por mim, hesito em ir às fuças cobardes de quem me quer ofender, porque resisto à ideia de meter as mãos na enxovia.
Até lá, o Senhor lhes perdoe, que eu não posso.



  (do JN)

18 janeiro, 2015

Haverá Democracia sem Liberdade ?



E  Liberdade  sem Democracia? Era a esta última questão que gostava de ter uma resposta, mas também ela honesta, sem subterfúgios, da parte de alguns fanáticos da Liberdade. Pela parte que me cabe, considero que para ambas funcionarem não devem ser nunca separadas, de contrário é como esbarrar numa parede. Foi por essa razão que ontem falei dos jornais desportivos e do péssimo serviço que prestam à Liberdade, e por conseguinte à Democracia. Paradoxalmente,parece que nem todos levam a sério aquela eloquente máxima que sugere barrar a nossa liberdade sempre que começa a liberdade de outrem. Quase toda a gente gosta de a evocar, mas lá está, mesmo quando se trata de discutir a liberdade, a eloquência depende do momento. Quando as belas frases colidem com certas conveniencias, tudo se esfuma da memória. A isto, chama-se corrupção intelectual consciente.

Há quem pense que o futebol é coisa de gente menor, de analfabetos, de grupos socialmente desinseridos que encontram nesse desporto um veículo para transferir as frustrações do quotidiano, para o bem, e para o mal. Não posso negar em absoluto esta ideia, porque contém alguma parte de verdade, o que não deve e não pode, é ser generalizada, porque isso seria refutar a realidade, seria negar o cada vez maior envolvimento no futebol de todo o tipo de pessoas, de todas as classes sociais, desde políticos, jornalistas, artistas, a grandes empresários. Mas o futebol, pelo menos em Portugal, é antes de tudo, um barómetro perfeito para medir a marcha da Democracia e da Liberdade. Por isso, há na comunidade intelectual contemporânea um tremendo fosso preonceituoso que os afasta da realidade quando se trata de debater os valores da Liberdade. Ao "esquecerem-se" do futebol e sobretudo de tudo o que gravita à sua volta, os intelectuais honestos cometem um erro crasso, porque é nele, mais do que na sociedade em abstracto, que podem detectar as maiores contradições e hipocrisias na discussão da Democracia, já que nunca é possível dissociá-la da Liberdade.  

Programas ditos desportivos, onde pouco se fala de desporto e muito se promove a clubite fanática de uma determinada região/cidade (Lisboa) do país, jornais igualmente intitulados como desportivos com iguais objectivos, onde encaixa a difamação e os julgamentos na praça pública, são uma parte importante do que gravita à volta do futebol que os intelectuais, por soberba ou cobardia, desprezam, mas  que os ajudaria muito a analisarem a sociedade real em que vivemos, assim como a aprofundar os valores da Democracia, e a aceitar, sem fundamentalismos nem receios, algumas condicionantes à Liberdade de expressão. Se o fizessem, talvez hoje a intelectualidade nacional tivesse gerado massa crítica capaz de bloquear qualquer fluxo de jornalismo fundamentalista travestido de programa desportivo como os que conhecemos, ou quem sabe, tivesse contribuído seriamente para a descentralização do país com a promoção de dabates políticos sobre a regionalização. Como sabemos, esta temática tem sido recorrentemente ignorada pelos políticos e jornalistas, e só nos é prendada por altura das eleições, como aliás o integríssimo Rui Rio e ex-anti-regionalista começa a considerar seguramente sem fins eleitoralistas... Claro que, no que me diz respeito já não vou em promessas, vou mais em garantias. Sérias.

Resumindo e concluindo: eu que amo a Liberdade como poucos, que não dou recados a ninguém para dizer o que penso, que não tenho medo de represálias, e não o tive, mesmo no tempo da outra senhora, não consigo abranger esta ânsia absolutista de Liberdade sem a implementação de algumas regras, sem a colocar nunca em perigo. Todo o abuso à liberdade de expressão é condenável, como o excesso de qualquer outra coisa. Ah, e não me venham com a verborreia lírica do recursos aos tribunais, quando  atentarem contra a nossa dignidade, porque isso é outra demagogia, outra miragem intelectual de quem ignora o preço da Justiça neste país.

Quando alguém me provar que o que se produz em jornais desportivos e em certos programas de televisão são puro exercício de Democracia, e que alguns comentadores participantes não são condicionados na sua Liberdade pelas chorudas avenças que lhes pagam, talvez eu mude de opinião. Mas, não vão poder fazê-lo, porque os próprios jamais terão coragem de o admitir, e lamentavelmente a minha opinião será a mesma de sempre.  

14 janeiro, 2015

Do "jornalismo" à Liberdade

Para quem tenha dúvidas sobre a hipocrisia de certos jornalistas, cartunistas, ou simples moços de recados que, fieis às suas incongruências, cantaram recentemente hosanas à Liberdade e aos valores ocidentais, tenham a bondade de ler as primeiras páginas dos jornais desportivos durante o tempo que quiserem e digam lá se essa gente merece algum respeito. 

O sectarismo, o desprezo pelas normas mais básicas da democracia, a pulhice e o proteccionismo clubista, são a imagem de marca corrente. Em Portugal, há três diários desportivos, não há um único que paute a sua linha editorial pelo fair play desportivo. Um (O Jogo), há uns anos atrás ainda dedicava alguma atenção ao FCPorto, agora rendeu-se ao centralismo e procura competir com os dois pasquins de Lisboa copiando-lhes a arbitrariedade. A cedência ao imperialismo do Terreiro do Paço, falou mais alto que o amor à descentralização (para não dizer à terra), por isso criou duas edições, uma para o Norte e outra para o Sul. Não fossem os donos disto  tudo zangar-se (não é só o Ricardo Espírito Santo, não)...  

Todos, sem excepção, rendem homenagem ao Benfica, provando ao Mundo, e a quem ainda consegue ter algum sentido ético e de Justiça que há pessoas, muitas das quais jornalistas,  que não merecem viver em democracia, nem em Liberdade. Porque, pessoalmente, não acredito que, uma e outra coisa possam ser disfrutadas em toda a plenitude, sem normas, nem limites. 

Senão, experimentem "livremente" regar uma planta com ácido sulfúrico e digam-me depois se ela consegue vingar. E por que é que, quem gosta de usar ácido sulfúrico há-de ter limitações à Liberdade? Afinal, não é assim que essa gente pensa?


13 janeiro, 2015

Alô, Alô?! Sr. Pinto da Costa, está lá?

Receio bem que este novo estilo  de dirigir o FC Porto de Pinto da Costa, brando e omisso, possa ser de facto, o princípio do fim de ciclo que os nossos principais adversários andavam a vaticinar. Creio mesmo que ninguém minimamente atento às ocorrências do nosso futebol, não reserve as mesmas suspeições.

Assim mesmo, é muito estranho o aparente alheamento de Pinto da Costa com o que está a acontecer no Campeonato Nacional. Nunca me passou pela cabeça ter de chegar tão prematuramente a esta conclusão, porque apesar dos 77 anos que já leva o melhor Presidente de Clubes português de todos os tempos, não se vislumbravam nele quaisquer sinais de cansaço ou de desmoralização.

Admitindo que o seu distanciamento face ao que se está a passar (o favorecimento obsceno das arbitragem ao Benfica, com influência directa na classificação-geral) se possa dever a questões de saúde, parece-me perigoso, e um tanto humilhante para os portistas que Pinto da Costa não lhes diga nada e os mantenha num intrigante estado de suspense, enquanto o campeonato vai avançando com os rivais de Lisboa a amealharem pontos imerecidos, a comandarem a Liga à custa de arbitragens escandalosas e do apoio incondicional da comunicação social do regime.

Isto, em Pinto da Costa era inconcebível há alguns anos atrás. Afinal, que terá acontecido de tão grave para ter provocado tamanha mudança no seu comportamento? O Processo Apito Dourado foi desgastante, mas terminou com a absolvição de todas as acusações que lhe engendraram. O problema de saúde foi aparentemente resolvido com uma operação bem sucedida ao coração.  Então, o que estará a falhar para Pinto da Costa ter mudado tanto?

A hipótese da estratégia, já aqui foi considerada, mas logo descartada, por parecer inverosímil, e admití-la, só faria algum sentido se a remissão ao silêncio implicasse a abdicação prévia do campeonato, para no final poder provar que se manteve sempre calado e que quem reclamou e beneficiou com isso foi o Benfica. Sendo tudo isto previsivelmente factual, com o sacrifício  da perda de (mais) um campeonato, o que ganharia o FCPorto com tão absurda estratégia num país como o nosso, onde muito se fala de seriedade, de liberdade e de democracia, mas o que se pratica é uma coisa totalmente diferente?

O certo, é que muitos sócios e simpatizantes portistas andam realmente preocupados com esta situação há já algum tempo, sentindo que não estão a ser minimamente esclarecidos sem verem o clube a ser devidamente defendido fora do campo, onde tudo está a ser ilegalmente decidido. Seria caso para pasmar que Pinto da Costa não tivesse plena consciência do que se está a passar, embora possível por factores desconhecidos, mas não pode nem deve continuar remetido ao silêncio, porque do outro lado isso pode ser interpretado como um momento de fraqueza, e muito provavelmente como um sinal de quem se sente comprometido, ou inseguro, o que já foi claramente aproveitado nas últimas jornadas para intensificar o fartar vilanagem do costume e alimentar a moral da prole benfiquista, que continuará seguramente nas próximas jornadas.

De resto, tudo isto parece estranho, surreal. Até o Porto Canal foi, e é, uma decepção. E o Presidente do FCPorto também se revela ausente, demasiado passivo com o que lá se faz, caso contrário talvez não assistíssemos ao recurso sistemático, abusivo mesmo, de gravações sobre gravações para preencher o imenso vazio de ideias, nem víamos o triste espectáculo de presenciar programas desportivos (como os 90 minutos à Porto de ontem) onde as imagens e a voz dos comentadores bloqueavam durante longos segundos, uma e outra vez, provando que dentro daquela casa não há quem super-visione as emissões, não há um verdadeiro dirigente. Júlio Magalhães não é o homem que o Porto precisa porque nem tem ideias, nem competência. Lamento dizê-lo, mas é realmente o que penso.

Quanto ao FCPorto e a Pinto da Costa, fico a aguardar com muita curiosidade pelo desfecho deste mórbido jogo de silêncio quando tudo acabar e nos restar apanhar as canas da festa dos outros... Nesse dia, toda e qualquer explicação será inoportuna. Diria mais: será uma verdadeira provocação. 


12 janeiro, 2015

Je suis Rui Valente


É impossível ficar-se insensível e não ter repugnância pela forma cobarde e impiedosa como aquele polícia já ferido, caído no passeio, foi abatido. O mesmo digo em relação a todas as outras vítimas do jornal francês Charlie Hebdo, embora tivessemos sido poupados a assistir a essa outra chacina. Como qualquer pessoa normal, fiquei impressionado com aqueles actos abjectos em Paris, pelo que repudio toda e qualquer causa que pretenda justificá-los. Aquilo não é nada, é pura alienação, porque não há causas no mundo que justifiquem fundamentalismos desta natureza, sejam elas quais forem.


Mas, se tragédias como estas devem ser denunciadas, repudiadas e severamente punidas, usá-las indiscriminadamente para alimentar audiências e tesourarias de órgãos de comunicação social, não deixa de ser uma forma errada de prestar um bom serviço à causa da Liberdade.  E é a propósito da badalada e tão maltratada Liberdade que quero acrescentar umas coisinhas ao côro unanimista de convertidos à causa dos Je suis Charlie . Sim, umas coisinhas algo inoportunas, dado o ainda muito recente estado de choque geral do Mundo com os acontecimentos de Paris, mas que convirá não esquecer.

Sendo um apreciador confesso do cartune inteligente, tal não significa que todos os cartunes sejam inteligentes e inevitáveis hinos de Liberdade. Em certos casos (raros) até pode acontecer. Na hipótese intermédia, o cartune pode não também não passar de uns azedos rabiscos de alguém zangado consigo mesmo, descarregados sobre outrem. Em análise extrema, pode até exprimir um estado de alma de alguém tão transtornado como os próprios  terroristas, autores da barbárie em Paris...

Senão vejamos. Quando um cartunista de um país ocidental faz publicar bonecos satíricos susceptíveis de ofender figuras públicas do seu próprio país, como poderá ele admitir que um fanático qualquer terá capacidade para interpretar com fair play democrático esse tipo de sátira? Dir-me-ão que o cartune não tem de ser politicamente correcto, formativo, pedagógico. Pois bem, mas é bom lembrar que os alvos das sátiras não foram dirigidos a espíritos democráticos, mas sim para gente com conceitos sociais e religiosos extremados e sem qualquer sentido de humor. Num outro prisma, será a mensagem errada, o desenho agitador, a caricatura hostil, a ironia mordaz, a única e máxima expressão de Liberdade? Tendo em conta os visados, não seria mais sagaz optar por outra estratégia, quando se insinua aos quatro ventos como supremo objectivo dos jornalistas o fim  dos fundamentalismos e das tiranias 
mundanas?

Neste contexto,  parece-
me algo desasjustada e até abusiva a utilização da bandeira da Liberdade. Não seria mais profícua e gloriosa a pedagogia? Teremos todos esquecido aquela historinha antiga, mas sábia,  que nos ensinou como apanhar "moscas"?  O "mel" não será mais  eficaz que o "fel"? Sei que não é de moscas que falamos. É de homens desintegrados, desesperados, dispostos a tudo para se sentirem importantes, ainda que para isso tenham de morrer e  matar inocentes. Eles não têm causas, fazem a causa. Nem que seja espalhar o terror pelo Mundo. Acham que gente com esta mentalidade é confiável, que se conquista (ou domina) com cartunes? Que valerá a pena desenhar uns bonecos incompreensíveis aos destinatários, arriscar a própria vida, e sobretudo a vida de quem nunca fez nada para ofender quem quer que fosse?

Há quem tome o bom senso por medo. Que confusão, que estupidez. No caso da barbárie parisiense não houve heróis. Os que assassinaram, também já foram mortos. Quem ganhou? Sabem? A Liberdade? Errado! Já o disse infinitas vezes, mas nunca cansarei de repetir: toda a Liberdade será uma fícção enquanto houver fome no Mundo. E quem diz fome, diz desemprego, diz também Portugal, diz Passos Coelho, diz Troika, diz Angela Merkel, diz União Europeia.

As religiões,  são o bode expiatório da maior das tiranias: o capitalismo. Dêem-lhes uma vida digna, que com o tempo, os fundamentalistas em vez de se fanatizarem por Alá, de decapitarem cabeças, e de se perderem aterrorizando Mundo, vão querer é regressar cedo a casa, para junto da família, depois de um dia de trabalho. Mas para isso precisam de paz duradoura e de progresso social.

Era por esta LIBERDADE que gostava de ver o Mundo lutar.  Unido. Os cartunes não vão libertar nada, vão apenas abalar consciências, temporariamente. Depois, tudo voltará à (a)normalidade.

08 janeiro, 2015

Absolutamente de acordo, caro arquitecto



Nota de RoP:
Quando todos se entusiasmavam com a movida do Porto, partilhei desse entusiasmo, mas sem demasiada euforia, pelas mesmas razões aqui evocadas pelo Arq. Gomes Fernandes. Podem confirmá-lo aqui

05 janeiro, 2015

Sócrates ensinou-me que se for preso a TVI vai-me entrevistar à cadeia

Terminado que foi mais um ano de incompetência e de malfeitorias do actual Governo, resta-nos o recurso da fé pela fé, para esperarmos que em 2015 algo mude para melhor. Está provado e comprovado, que [mais uma vez], Portugal não consegue eleger gente com gabarito e capacidade para governar, privilegiando a qualidade de vida e os interesses fundamentais da população, que é para isso que os Governos servem. Fado, é isto mesmo, e não fui eu quem o baptizou de canção nacional...

Ontem, quando me preparava para pagar a gasolina na EN13 num posto perto de Vila do Conde, dei com dois indivíduos a falar alto e bom som, sobre o caso do momento: a prisão de Sócrates. Não posso reproduzir exactamente a curta conversa, mas era mais ou menos isto: "olhe amigo, por acaso, eu até admirava o Sócrates, mas se ele realmente fez aquilo que se diz, então que pague por isso, mas cá para mim isto cheira-me a politiquice. Dizia o outro: pois é, eles são todos iguais, é tudo a mesma coisa. E repare que isto aconteceu depois de uma sondagem dar o PS como vencedor das próximas eleições. Não está certo prenderem um gajo sem antes terem provas. E mais não ouvi, porque paguei e fui à minha vida.

Já no carro, dei comigo a pensar naquela conversa de ocasião e como a comunicação social pode baralhar a cabeça das pessoas e levá-las a ceder à semente das emoções que lhes é injectada como se de cerveja à pressão se tratasse. Poucos pensam no papel e nas dificuldades dos juizes, e menos os que se interessam pelo caminho a seguir para estancar a génese do problema, que como sabemos é a violação do segredo de Justiça. Era isto, que eu gostava de ouvir o povo discutir, visto ser a corrupção o tipo de crime mais difícil de investigar e de provar. Assim, parece que o importante da avaliação destes casos é saber a que partido pertence o suspeito, ou se simpatizamos, ou não, com ele.

Era na tecla da violação do segredo de justiça que eu gostava de ver a oposição no Parlamento carregar com persistência, até obter a decisão de priorizar a discussão para se chegar à solução do problema. Mesmo estando em minoria, é precisamente nestes casos, em que momentaneamente "todos" estão de acordo na necessidade de mudança, que a oposição pode tirar dividendos políticos e marcar pontos de verdadeira utilidade pública. Não me parece é que a perseverança dos partidos da oposição seja bastante para lá chegar... Porque, não tenhamos ilusões, o que aconteceu agora a Sócrates não é novo, no futuro, muitos mais segredos de justiça vão ser transgredidos e o choradinho do dolce fare niente vai-se voltar a ouvir.

Mas, independentemente do desfecho do caso Sócrates, há uma conclusão que se pode daqui retirar, que é a falta de categoria dos políticos contemporâneos. Já falei de Mário Soares e da triste figura que as suas manifestações de solidariedade ao amigo lhe emprestam, por isso não vou repetir-me. Apenas digo que, se Sócrates fosse o homem excepcional que devia ser para merecer o cargo de 1º. Ministro, nunca cederia à soberba de viver acima das suas possibilidades, visto ser esse o argumento que ele próprio supostamente alegou para  recorrer ao financiamento do amigo e viver como um lorde em Paris. Só isso, define a mentalidade dos políticos de agora. Se eles fazem questão de passar a mensagem de que são pessoas como as outras não é por humildade, porque a humildade pressupõe alguma capacidade para lidar com uma vida sóbria, coisa que Sócrates não foi capaz. A humildade dos políticos serve para "normalizar" comportamentos que de outra forma chamariam demais a atenção, como o que se constata agora das supostas relações com o amigo em matéria privada, pelos empréstimos e transferências de dinheiro. Como cidadão, não é este tipo de político que quero a governar-me, quero  gente que porventura já não existe, mas assim mesmo não estou disposto a abdicar desses padrões de exigência. Nem que isso implique nunca mais voltar a exercer o meu direito ao voto.

É nesta mesma onda que navego em relação ao actual Governo. Para mim, Passos Coelho é mais um candidato a qualquer lugar importante para si próprio. O objectivo não é muito diferente do de Sócrates, e de outros que abandonaram o Governo, para se governarem... em Bruxelas.

Lamentavelmente, a ralé política goza de grande amplitude e é transversal às siglas partidárias. Só os partidos da oposição se safam. Resta-nos saber se é por ainda não terem provado do inebriante perfume do poder.

29 dezembro, 2014

Soares, socialista ou anarca?

Soares, anarquista?

Lamento desiludir os fãs de Mário Soares, esse homem abençoado, a quem um dia os jornalistas baptizaram [positivamente] de animal político, vá-se lá perceber porquê. Pensando bem, até se percebe, se avaliarmos o que há de comum entre as partes: um e outros, detestam a Lei.

Não precisava de o dizer, porque não é por fazê-lo que me tornarei mais credível aos olhos de quem me lê: foi em 25 de Abril de 1976  que votei no Partido Socialista de Mário Soares, para as primeiras eleições legislativas, dando assim o meu contributo individual para a sua ascensão a 1º. Ministro do Portugal democrático. Decorrido o tempo necessário para fazer o balanço da sua actuação enquanto Ministro, e posteriormente de Presidente da República, não só deixei de acreditar no socialismo democrático do Partido Socialista, como deixei de levar a sério Mário Soares. Nunca votei à direita do PS, excepto quanto votei (pensava eu), nessa primeira vez, no PS... 

Em vésperas do Novo Ano podia abster-me de falar de política e da hipocrisia de que se alimenta, mas não quero. As cartas de amor de Sócrates para Soares, e deste para Sócrates, foram o rastilho. Antes de prosseguir, faço questão de lembrar o papel importante de Soares no combate ao Estado Novo, que lhe valeu três anos de prisão, mas Cunhal também lutou e foi detido durante quinze anos, oito dos quais em completo isolamento e (goste-se, ou não) nunca meteu as suas ideias comunistas na gaveta. Cunhal, foi sempre fiel aos seus ideais políticos, por isso, nunca me senti traído por ele. Mário Soares não, enganou-me, e isso faz toda a diferença.

Há pessoas com sorte na vida, Mário Soares é um desses casos felizes. Conquistou a fama, e viveu deitado na cama da boa imprensa, sem nada ter feito de relevante para o desenvolvimento do país. Hoje vive de um prestígio construído pelo próprio, sustentado habilmente numa relação de não agressão com os media, que não se furtaram a retribuir, com os encómios deslocados que conhecemos. 

Mário Soares podia ser aquilo que os media tentam fazer dele, um grande estadista, um visionário, mas não é, nem nunca será. Por uma simples razão: acredita no funcionamento das instituições democráticas como um anarquista. Despreza a Lei. Ora, não foi na qualidade de anarca que Soares se apresentou aos portugueses, nem como maçãofoi como líder do Partido Socialista, de uma social democracia de inclinação esquerdista, como ele mesmo dizia. A verdade, é que Soares nunca encaixou lá muito bem nessa designação, portou-se sempre como um contestatário vaidoso, contribuindo com isso para difundir na população uma ideia errada de democracia, onde tudo pode ser contestado, excepto ele. 

Mário Soares é também conhecido por desautorizar publicamente a ordem pública, fê-lo uma vez com um agente de autoridade, em termos pouco condizentes com a sua condição de Presidente da República. Fê-lo mais recentemente, ao se recusar a pagar uma multa a expensas próprias, por excesso de velocidade do seu motorista, na A8. Divertido, sem dúvida... Mas, conviria que não levasse tão longe a brincadeira.

Politicamente, gostava de ver a solidariedade que agora anda a manifestar a Sócrates virada a favor dos nortenhos, contra o centralismo, mas para isso não está ele virado. Não vê, não sabe, ou não quer saber.

Ao menos agora, que saiba respeitar a Justiça, como se não bastasse a pouca vergonha com os Bancos e demais escândalos que ficaram por resolver, até hoje...


22 dezembro, 2014

Sugestão pré-natalícia para os adeptos do FCPorto

ISTO, TAMBÉM É POVO... 
Antes que chegue o Natal, gostaria de apresentar uma sugestão ao imenso universo portista, sócios, claques, e simples adeptos: que usassem cartazes, cânticos, e sobretudo humor inteligente,  para protestarem civicamente, não só contra as arbitragens, como contra os paineleiros das televisões intitulados portistas, que mais não fazem, que imitar mercenários dispostos a vender o clube ao diabo a troco duns euros. 

Por antecipação premonitória, suspeito que este tipo de iniciativas não sejam lá muito bem acolhidas pela actual Direcção do FCPorto, até porque agora parecem andar tolhidos de medo de falar (vá-se lá saber por quê), facto que se calhar justificava também umas palavrinhas de repúdio pela forma demasiado transigente como o Presidente tem reagido à discriminação dos árbitros com o nosso clube. 

Creio ter chegado o momento dos portistas mostrarem ao Presidente e a toda a Direcção, que não estão a gostar do modo como o clube está a lidar com a adversidade, muito passivo, quase indiferente, e o que é mais grave, um tanto distante do sentir dos adeptos. Isto é perfeitamente legítimo, desde que apresentado de forma correcta, sem ameaças nem tumultos que possam alimentar a perfídia dos nossos adversários. Isto pode e deve ser feito sem nunca deixar de apoiar o clube. Pinto da Costa não pode é negar-lhes o direito de opinar. Se reagir negativamente, será mau sinal...

Seria importante transmitir para dentro da SAD que o FCPorto não é apenas uma empresa cotada em bolsa, que vive sobretudo do interesse dos adeptos pelo desporto em geral, especialmente pelo futebol, que acima das transacções comerciais realizadas com jogadores, estão as victórias, se possível, com bom futebol. Importaria também enfatizar, que continuam a respeitar o Presidente por tudo o que fez pelo clube, mas que não querem ver em Pinto da Costa um vício muito habitual nos políticos, que é ignorar os cidadãos que os elegeram quando se  cansam, não do poder, mas de governar.

Para que uma diligência desta natureza surta efeito, será fundamental que os portistas se unam, que não se dispersem, que esqueçam pontuais divergências, mas que entendam a importância de falar a uma só voz. Sei como é difícil gerar uma dinâmica absolutamente consensual, quando sabemos de que estirpe são feitos certos "portistas", como o António Oliveira, e outros do género, mas parece-me urgente tomar uma decisão antes que as coisas se degradem, de tal modo, que hipotequemos as provas em disputa nesta época, tanto no futebol, como nas modalidades.

Os sócios, não podem limitar-se ao papel contemplativo de mero espectador, têm de dar provas para dentro da estrutura directiva que também têm uma palavra a dizer no que se relaciona com a gestão e os interesses do clube. Os blogues fazem o que podem, não têm privilégios executivos. Um cartaz, um conjunto de cartazes mordazes, assertivos, com sentido de humor, num estádio cheio de gente pode ter mais impacto que mil blogues juntos. Os blogues só servem para libertar a alma, quiça para influenciar [este é o meu modesto contributo], não para decidir.

Em relação às claques, não sei absolutamente como lidam com a actual situação. Acho-os mais disciplinados, mas curiosamente menos interventivos. Seria muito importante também ter o seu contributo.

Por fim, espero não ter de reescrever tudo o que disse, de outra forma, para reafirmar a condição sine qua non  para uma boa empreitada:  protestar com objectividade, com humor, mas com muita elevação. De modo a não dar pretextos a Pinto da Costa de suspeitar da autenticidade do propósito.

Que a Justiça seja feita!

É óbvio, e claro, que julgar alguém antes do tribunal é uma atitude condenável. Já não  é tão claro e menos  óbvio, que as sociedades estejam devidamente organizadas à altura de o impedir. Estou a falar da violação do segredo de justiça, como já perceberam. Mas se estivermos a falar de sociedades como a nossa, nesse caso, o que é óbvio e claro em países civilizados passa a ser discutível e obscuro, em Portugal.  Ainda que o saibam, considero relevantíssimo enfatizar um detalhe em forma de lembrete: as sociedades são organizadas por homens, com identidade e residência registados no país que os elege.  Ponto.

Dito isto, vejo como [mais uma] imensa hipocrisia, o chinfrim que sempre se levanta quando alguém é detido antes de ser julgado e os jornais publicam excertos das investigações. Em primeiro lugar, porque a resolução deste problema já podia estar encontrada, se os partidos com assento no Parlamento o quisessem. Creio mesmo que seria o tema mais fácil de forçar consensos, se avaliarmos o incómodo aparente que a violação do segredo de justiça provoca em todos os partidos políticos. Aqui, os partidos mais pequenos podiam ter um papel fundamental e uma excelente oportunidade para pressionar a coligação do Governo e o Partido  Socialista. O consenso teria de ser o resultado menor, não outro, sob pena de gerar suspeição aos partidos ou aos deputados que de alguma maneira o tentassem boicotar. Sinceramente, não me parece assim tão impossível acabar com esta pouca vergonha, bastando para tanto blindar a sério as instituições de investigação, sob controle apertado de uma autoridade restrita a uma pessoa de reputação insuspeita que assumisse toda a responsabilidade. Se há raros casos em que a centralização se justifica, é o da investigação criminal. Democratizar a investigação, para mim, é ridicularizá-la.

Anda muita gente (nem toda, já sabemos) incomodada com a prisão de Sócrates, agora imaginem só o que seria se o juiz fosse vulnerável às pressões que lhe estão a fazer e o deixásse em liberdade e se pouco depois ele fugisse, como fugiu o Vale e Azevedo...  E aquele padre pedófilo que conseguiu regressar impunemente para o Brasil, a sua terra? O que diriam? Que o juíz era corrupto, que estava feito com Sócrates? E o que acham que faria Duarte Lima se não estivesse em prisão domiciliária, pensam que ia ficar por cá? Para o Brasil não iria seguramente, mas o Mundo ainda assim é grande para quem tem os bolsos cheios...

Podem-me dizer que outros há que fizeram tanto ou pior do que aquilo de que Sócrates é acusado e ainda vivem à vontade entre nós como se fossem uns senhores, e têm razão. Mas num país onde estávamos habituados a não tocar nos poderosos, já é um passo. Agora, vamos esperar para ver o que que acontece a esses parasitas do BES...

18 dezembro, 2014

E o enigma prossegue

Quando uma liderança cai na apatia, quando não reage às adversidades e se afasta da realidade, arrisca-se a perder-se. E se essa liderança tem a ver com a gestão de um clube como o FCPorto, se esse afastamento da realidade traduz indiferença pelos sentimentos dos adeptos, pode estar a dar os primeiros passos para um período regressivo da sua história, de ciclo imprevisível. 

Ontem, assisti ao jogo de hóquei em patins do FCPorto com o Benfica, no Dragão-Caixa. A classificação geral apontava para um grande equilibrio entre as duas equipas, o que fazia adivinhar um jogo renhido, de resultado incerto, mas com ligeira preponderância para o FCPorto, por jogar em casa.

Quando o jogo começou ainda tive a ilusão que o FCPorto acabaria por vencer a partida, porque com o pavilhão cheio, a presença de Pinto da Costa e o apoio das claques, tudo parecia reunido para um final feliz. Pura ilusão. O FCPorto sofreu o 1º.golo, a seguir o 2º. e a partir daí nunca mais se encontrou. Resumindo: nova victória do Benfica na nossa casa, agora no hóquei.  

Normalmente, a explicação para estas situações é delegar responsabilidades nos treinadores, e a bem da verdade, há que dizê-lo, já não é a primeira vez que Tó Neves falha em jogos decisivos. O ano passado claudicou contra o Barcelona, não por incompetência, mas por notória desmotivação mental. O mesmo não se pode concluir do caso de ontem, porque ainda há muito campeonato a disputar, mas o facto é que os jogadores não estiveram à altura daquilo que podiam fazer. Mas esse não é o único problema, porque se a fragilidade mental revelada pela equipa de futebol com os principais concorrentes na própria casa se pode dever à juventude do plantel, não será também desprezível a influência das arbitragens na tabela classificativa, aspecto a que a direcção do FCPorto de agora parece estar esquiva. E isso, é tudo o que os simpatizantes e os próprios atletas, não querem que aconteça. Tem de se admitir (por que não) que os jogadores estejam a reagir a uma crise de liderança, como os adeptos, que já nem se manifestam.

Os portistas, nestes últimos anos, mesmo os mais afoitos, andam preocupados com a gestão do clube em termos desportivos, e penso que só não explodiram, porque o capital de confiança no presidente ainda é muito forte. Mas, Pinto da Costa parece não estar a perceber o que se passa,  não está a sentí-los, a compreendê-los, porque a sua postura não é aquela a que estavam habituados, um homem resiliente, dedicado ao clube, pragmático e de objectivos bem definidos. Se não voltar a 180º, se não encontrar rapidamente o antídoto para este estado letárgico, num ápice, pode hipotecar todo o prestígio que tanto  lhe custou ganhar.

Fui daqueles que me insurgi, não vai muito tempo - talvez uns 3 anos - contra os que papagueavam o discurso de fim de ciclo do FCPorto usado pelos nossos adversários, que davam como "finito" Pinto da Costa. Naquela altura não via motivos para lhes dar razão, porque a margem de confiança tinha um currículo forte e brilhante a que se segurar. Agora, já não sei bem o que pensar. Pinto da Costa anda demasiado calmo e ocupado com assuntos de outra natureza que não os que o clube precisa. Fazer de cicerone do museu do clube não é censurável, se comedidamente, apoiar um ex-1º Ministro em apuros, tolera-se, embora se compreenda mal, agora ignorar as manigancias que os clubes da 2ª. circular andam a tramar, sem fazer um único comentário, é indesculpável, quase suicidário.

A liderança do FCPorto de agora, cheira a orfandade. Que tristeza.


17 dezembro, 2014

Solidariedade ou masoquismo?

Pinto da Costa

Pode até compreender-se a atitude solidária de Pinto da Costa com Sócrates, levando em consideração o que ele mesmo passou, quando a máquina centralista* o tratou abaixo de cão no célebre processo Apito Dourado. A semelhança dos casos começa, e acaba aí, com o folclore da violação do segredo de justiça.

De resto, durante todo esse longo processo iniciado em 2004 e que só foi definitivamente encerrado em 23 de Setembro deste ano, realizaram-se dezenas de programas e escreveram-se centenas de artigos tendo como alvos a abater Pinto da Costa e o FCPorto. Tiveram mesmo tempo e total liberdade para realizar um filme baseado no processo Apito Dourado com o nome "Corrupção".

Apesar da devassa pública, da macabra exposição a que foi sujeito, da mais infame conspiração que há memória movida a um dirigente desportivo, não me recordo de ter visto Santana Lopes, José Sócrates, Jorge Sampaio ou Cavaco Silva, alternadamente no poder todos esses anos, saírem a terreiro, repudiando tudo o que se estava a passar, e muito menos a solidarizarem-se com Pinto da Costa. Ainda hoje, há políticos, e outras figuras públicas, que  falam em vários programas desportivos de Pinto da Costa como se ele não tivesse sido absolvido, usando a má língua como argumentos de defesa clubista com toda a naturalidade. 

Por tudo isto, e porque nunca vi Sócrates a corporizar publicamente a mesma solidariedade que Pinto da Costa agora lhe deu, não entendo e lastimo esta sua iniciativa. Além de que, a amizade que Pinto da Costa poderá ter por Sócrates só pode ser circunstancial, porque sendo o presidente portista um anti-centralista (como faz constar), é estranho que preze muito um homem que, tal como Passos Coelho e os primeiros ministros que os precederam, cuspiram não só na regionalização como acentuaram o centralismo.

De resto, se alguém ainda tiver dúvidas sobre esta hipocrisia que acorde, abra bem os olhos e veja como está o país. E já agora, que veja com está o futebol...

*«Pinto da Costa diz que a única coisa que o centralismo não conseguiu tirar ao Porto foram os campeonatos». 

Olhe que não, Presidente, olhe que não.

Ler o resto aqui, era então Sócrates 1º. Ministro...


Mais: o vídeo do filme Corrupção ainda não foi desactivado do YouTube.


16 dezembro, 2014

Não reconheço este Presidente!


Não  tenho memória de ver,  ou ouvir, José Sócrates apelar ao bom senso  e  à moderação  da comunicação social quando Pinto da Costa  foi  perseguido  e caluniado no forjado  processo Apito Dourado.  Pelo contrário. Tanto ele, como a maioria  dos  políticos, encolheram-se,  foram  muito  tímidos, e parcos em palavras,  em matéria de  solidariedade, e alguns até fizeram coro com o floclore dos media. Eu lembro-me!

Por isso,  pasmei ao saber há momentos, que Pinto da Costa  tinha ido  visitar Sócrates à prisão. Se agora a amizade é partilhada desta maneira, então  prefiro ter inimigos. Ficava bem mais animado se visse Pinto da Costa a gastar as  energias em casos  mais  pragmáticos para os interesses do clube, como por  exemplo, o colo que a  Comissão de Arbitragem  vem mimando  o Benfica.   Além disso, está  a pôr-se  a jeito  para os amiguinhos  de Lisboa gozarem a bandeiras despregadas com esta nobre acção.

Sobre a temática, adivinham-se  para os próximos tempos"lindos" programas de televisão, mas não vão ser no Porto Canal...

14 dezembro, 2014

Espero que Pinto da Costa não tenha ido jantar com o "Orelhas"

«Pois bem. Se é esta a linha de conduta que a Direcção do FCPorto decidiu escolher para levar até ao fim do campeonato, se não ousa dar um murro na mesa para dizer basta, garanto-vos desde já que o campeão já está decidido, e nem preciso de vos dizer quem é. O FCPorto não será campeão, nem dentro, nem fora do campo.». 

Escrevi aqui este parágrafo a propósito da remissão ao silêncio da parte dos responsáveis do FCPorto face à forma vergonhosa como são nomeados os árbitros para os jogos do FCPorto, ao contrário do que acontece com o Benfica, que nos jogos mais difíceis tem tido todo o tipo de ajudas da parte dos mesmos, facto que tem contribuido significativamente para a diferença pontual com as restantes equipas e o tem mantido na frente do campeonato.   

Com isto, não quero dizer que o FCPorto perdeu o jogo desta noite absolutamente por causa do árbitro, mas que contribuiu outra vez para o insucesso da equipa azul e branca, também contribuiu. Fê-lo com subtileza, mas não resistiu como tem sido habitual a mostrar o cartão amarelo a um jogador do FCPorto (Danilo) e depois disso a poupá-lo aos jogadores* do Benfica que não se cansaram de dar porrada em Jackson Martinez e Brahimi. Esta dualidade de critérios é exercida com uma precisão cirúrgica. Este é um ponto.    O outro, que lhe está associado, é o contributo de cumplicidade patenteada na permissividade que atrás citei, pela Direcção do FCPorto com estas situações, incluindo o próprio Presidente.

Uma outra questão é a forma de jogar do FCPorto. E não me refiro apenas à equipa principal. Como acompanho os jogos da formação, verifico que o modelo de jogo é praticamente o mesmo, em todos os escalões, ou seja, muita posse de bola, para o  lado, para trás e até para o guarda-redes, mas sem grande profundidade no desenvolvimento das jogadas de ataque, quando os adversários se fecham muito no seu meio campo, o que torna o jogo muito aborrecido para quem gosta de bom futebol. Só quando a equipa contrária se abre, é que os nossos jogadores decidem aproveitar para trocar a bola entre si, e a partir daí procurar o golo. 

De uma forma menos evidente, isto acontece também no escalão principal. Os defesas, e mesmos os médios, usam e abusam dos passes para trás e para o guarda redes - o que é um risco, porque não raro a bola é interceptada pelos adversários, em vez de olharem para a frente para colocar a bola no compalheiro melhor colocado, e se desmarcar para romper a defesa contrária.  Na equipa de Lopetegui estes movimentos pouco dinâmicos são disfarçados pela mais valia técnica dos jogadores, mas são muito semelhantes aos escalões mais baixos. Salta à vista. 

Mas esta noite aconteceream outros azares - além das bolas no poste e dos golos falhados -, Brahimi, mais uma vez, não existiu. Já lá vão 3 ou 4 jogos... O que se passará com o rapaz? Não  faço a mínima ideia, mas o treinador terá de lhe perguntar, porque até pode estar a precisar da sua ajuda. Portanto, além dos falhanços de golos cantados, sobretudo nos primeiros 15 minutos, jogamos com menos um jogador (aquele a quem reconheço a melhor qualidade). Depois, vieram os erros defensivos. Se devido à pobre exibição de Maicon no último jogo nas Champions até concordei com a opção de Marcano, é contudo imperdoável que se sofra um golo proveniente de um lançamento de linha lateral permitindo a passagem livre da bola por toda a defesa até Lima a empurrar com a barriga para o fundo das redes. E Fabiano também não foi competente a agarrar a bola no primeiro remate que não levava muita força deixando para Lima recarregar e fazer o 2º golo.

Por conseguinte, não me interessa muito falar da posse de bola quando ela não chega à baliza adversária em condições para marcar, porque me lembra o choradinho típico dos nossos adversários da 2ª- circular. Este FCPorto não pode continuar a permitir que uma equipa qualquer jogue no Dragão alegremente, circulando a bola até chegar à nossa área com a frequência que temos observado. Isto só acontece porque o FCPorto nem sempre imprime uma intensidade de jogo constante, esmagadora. Vimos isso acontecer com várias equipas de segunda linha, com planteis muito mais baratos que o FCPorto, que se movimentavam com toda a naturalidade no Dragão como se estivessem a jogar em casa.

Tudo isto me parece assentar no mesmo problema de base: a comunicação.

Se o FCPorto nem com o Porto Canal consegue transmitir para o exterior as mensagens importantes, como a relação de hostilidade da comunicação social para com o clube, como denunciar as arbitrariedades que já referi, e a nível interno, não sabe incutir no espírito de jogadores [e treinadores] estrangeiros a realidade do clube, como e quando será que o vai conseguir?

É no que dá o aburguesamento, o excesso de vedetismo. Por isso contrariei sempre quem nos acusava de bairrismo, quem achava que devíamos ser mais moderados. O bairrismo é uma fonte precisosa para beber a garra, a vontade de ser melhor. Ora, se a maioria do plantel é constituída por jogadores estrangeiros e se a política de comunicação do FCPorto é a pobreza que sabemos, como é que podemos ter jogadores formatados para vencer?

Talvez o senhor Pinto da Costa saiba responder. Só espero é que no fim do jogo de ontem não tenha ido felicitar o Filipe Vieira...  

Será que ainda vamos ganhar alguma coisa este ano?

É verdade que André Almeida do Benfica foi o 1º. a  ver o cartão amarelo, antes de Danilo, mas não é menos verdade que a quantidade de faltas poupadas aos jogadores do Benfica foi bem evidente. A dualidade de critérios existiu porque o rigor do árbitro não foi o mesmo para as duas equipas.



10 dezembro, 2014

Porto, Norte e a Liberdade

O Norte, e o Porto em particular, são um verdadeiro caso de estudo. Por incrível que pareça, uma região e uma cidade que sendo agora muito mais discriminadas que no tempo de Salazar, conseguiram um feito invulgar, que é manter-se frequentemente no top do que melhor se faz em Portugal. 

A cidade do Porto, não é só o FCPorto, Serralves ou a Casa da Música. O Porto é agora a atracção turística do momento. Fala-se até que o Porto está na moda, termo que me desagrada pelo carácter efémero da expressão. O Porto está implantado no Douro, essa região maravilhosa, banhado por um rio com o mesmo nome, que sobe da foz (no Porto), serpenteia entre a Régua, Vila Nova de Foz Côa e Miranda do Douro, até se estender à nascente na Serra de Urbião, em Espanha. Um rio, em cujas margens escarpadas se produzem os vinhos de mesa mais premiados internacionalmente, além do icónico e inegualável Vinho do Porto.

O Porto, tem também Manoel de Oliveira, o realizador de cinema mais famoso do país, apesar de ser menos considerado em Portugal - um país que se deixou vergar à prepotência centralista da capital - do que em França, terra onde é habitualmente homenageado.  O Porto tem Sobrinho Simões, na ciência, e também Rui Reis, o cientista português com mais mais prémios internacionais, e um conjunto razoável de outras figuras ligadas a todas as áreas sociais e culturais que é desnecessário elencar. No empreendedorismo, não faltam casos de sucesso entre jovens recém-licenciados, apesar da falta de apoios financeiros. Criatividade não falta.

Mas o Porto, como outras cidades do Norte, tem colhido os mais altos louvores em áreas tão importantes como a Educação, a Cultura e a Saúde. Já nos habituamos com a fama das Universidades do Porto, do Minho e de Aveiro. Na área da saúde, apesar das crises económicas e da implícita redução de recursos, o Porto tem sido destacado pela boa gestão dos seus centros hospitalares. O hospital de S. João foi um dos pioneiros a angariar louvores, agora é o de Santo António, aquele que conseguiu maiores consensos como o melhor hospital do país, seguido do Hospital de Santa Maria Maior em Barcelos, também do Norte. Naturalmente, que tudo isto tem de ser lido à luz da realidade, sem exageros.

No campo da educação, as escolas do Norte, nomeadamente a Nossa Senhora do Rosário, e o Colégio Luso Francês, ambos do Porto, têm igualmente alternado entre si os primeiros lugares do ranking dos melhores estabelecimentos de ensino do país.

Todos estes louvores, devem ser avaliados por um prisma de competência, pela dedicação de quem dirige e trabalha nas respectivas áreas, e não propriamente pelos apoios que o Estado lhes faculta, porque, note-se,  em alguns casos nem sequer existem.

Assim mesmo, é para a região de Lisboa que se têm concentrado paradoxalmente as atenções dos sucessivos governos, para onde são desviados fundos europeus destinados a outras regiões, por serem as mais pobres e as menos beneficiadas...

O Norte, principalmente o Norte, tem boas razões para afirmar que a revolução de Abril só o prejudicou. Não em termos de competencias - porque isso prova-o o que atrás está escrito, e porque depende mais das próprias pessoas do que do regime -, mas em termos de autonomia regional. Esta liberdade de expressão em que vivemos, que muitos misturam e confundem erradamente com Democracia, dopou completamente a capacidade de autonomia das regiões.

Em termos de centralização, hoje o Norte sofre mais que no tempo da ditadura. Sendo assim, é caso para perguntarmos para que nos serve uma democracia que consegue oprimir e discriminar uma região bem mais que sofreu em ditadura?

A resposta improvável até poderia resvalar para a ditadura, mas ninguém de bom senso a deseja. Mas também não pode continuar a concentrar-se na solução menor de uma democracia vulnerável escrita com minúsculas.


09 dezembro, 2014

Polifonia territorial desafinada



Mais tardiamente do que a maioria dos países da Europa, Portugal atravessou nas últimas décadas um processo de suburbanização. Os núcleos históricos das principais cidades esvaziaram-se, de forma menos ruidosa do que as regiões rurais, ao mesmo tempo que em volta dos centros urbanos foram nascendo novas colunas de prédios e dinâmicas sociais. A imagem de um território marcado pela dicotomia litoral-interior é simplista: entre os dois polos existe uma diversidade de modelos de transição, em que se encontra de tudo um pouco - parques industriais paredes- -meias com habitações, espaços rurais resistentes entre autoestradas e polos urbanos, cidades que cresceram demasiado depressa e tentam acomodar-se o melhor que podem.
Não será por acaso que hoje se olha para o movimento de revitalização da Baixa do Porto (págs 18 e 19) com um léxico emprestado a programas de repovoamento do interior. As realidades são distintas, mas um denominador comum: falta gente. Por motivos diferentes, urbano e rural dão sinais de um país que não tem sabido crescer equilibrado e que tem na demografia e ordenamento do território problemas sérios.
Prestes a começar um novo ciclo de financiamento comunitário, seria bom ter fé na capacidade das recentemente criadas comunidades intermunicipais para repensar as estratégias de desenvolvimento e o reequilíbrio de um país que fala a muitas vozes. A polifonia pode ser dissonante - e é-o quando, apesar de tanto se falar em sinergias e redes, cada parceiro tenta sempre fazer sobrepor a sua voz à do vizinho.
O desenvolvimento de um país passa pela sua capacidade de ter as pessoas nos sítios certos. Cidades com gente lá dentro. E um território equilibrado, com ideias e dinâmicas próprias onde quer que seja.
Inês Cardoso

  


(do JN)