14 abril, 2008

Caro Dr. Rui Moreira

Desde que o Dr.Rui Moreira começou a aparecer nos écrans da extinta da NTV (e graças a ela), tornei-me seu admirador. Não com a admiração patética e acéfala de um militante partidário, mas com o sentimento de estar perante uma personagem nova e arejada que poderia vir a ser importante para a "revolução" económica e social de que o Porto urgentemente precisava (já não falo do Norte, para não aparecer por aí alguém apressado a lembrar-nos que o Porto não é o Norte, etc., etc.).

E, será justo reconhecê-lo que o Dr. Rui Moreira já é uma pessoa importante no panorama regional e até nacional . Importante - leia-se - porque tem feito coisas realmente importantes, em defesa dos interesses regionais, passe a redundância. As iniciativas que tem promovido não passam despercebidas a ninguém e, considerando as limitações das suas responsabilidades, fez mais pela nossa região, do que outros com maior poder e estatuto político.

Mas, até ao aparecimento da NTV, o meu amigo, não existia para o país real, porque como sabe, o país real, neste pequeno rectângulo de terra, é um outro bem mais pequeno, que não aquele que é constitucionalmente reconhecido e que prefere chamar-se, Lisboa.
Não sou só eu quem o diz, são os próprios lisboetas ou quem por eles fala que o confirma. Qualquer pessoa atenta já reparou que, até quando falam do país, os jornalistas quase esqueceram o seu verdadeiro nome, optando por substituí-lo pelo de Lisboa. Usam com muito mais frequência o termo "o governo de Lisboa" do que "o governo de Portugal". Detalhes, dir-se-à, mas podem ser detalhes perigosos.

Com o tempo, os mídia passaram desta abstracta expressão ("o governo de Lisboa"), para outra ortograficamente igual, mas mais concreta e localizada, com escalas de valor tão abusivas quanto inadequadas, e o hábito instalou-se. Até hoje. E não estamos a falar de futebol, como vê.

Aqui temos portanto, caro Rui Moreira, como, "pormenores" aparentemente fúteis e inócuos, se podem transformar num traiçoeiro barril de pólvora de explosão imprevisível. Essas futilidades raramente surgem isoladas e desenquadradas de outros contextos onde as reacções populares ficam mais expostas, como é o caso do futebol que nós tanto apreciamos. A questão que importa realçar, é que esses contextos quase sempre têm uma relação directa com as assimetrias regionais, com a pobreza, com o desemprego e - o pior deles todos - com a injustiça económica e social.

Parece-me pois utópico, pensarmos ser possível separar as águas porque, quer queiramos ou não, elas podem correr em leitos diferentes a montante, mas cruzam-se e misturam-se no percurso e, se não forem previamente "tratadas", podem redundar, a jusante, em autênticas "inundações" ...

Se o Rui Moreira por alguma vez se deu à maçada de ler os meus comentários, já terá percebido que não sou propriamente simpático com os políticos, que não me deixo envolver nas suas verdades. Mas acredite que gostaria de um dia poder mudar a minha opinião para um registo mais positivo, mais confiante, mais respeitável. Só que, enquanto o resultado do seu trabalho fôr o que se sabe e está bem à vista, não serei eu quem se comoverá com as suas angústias carreiristas. E falo assim, porque gostaria de lhe transmitir uma mensagem pessoal de confiança, caso esteja nos seus horizontes dedicar-se à política com espírito de missão.

A diplomacia não é um defeito, é uma arte, mas é para os diplomatas. Acredito mais depressa que ela possa resultar na prática governativa (se acompanhada de coragem e visão política), do que num programa desportivo como o "Trio de Ataque", porque o fanatismo arrogante de certos participantes associado a uma notória arbitrariedade do respectivo "moderador", pode não a matar, mas que lhe retira a eficácia, isso retira.

Portanto, caro Rui Moreira, não se deixe cair na armadilha de ver guerreiros e guerras sempre que lê um comentário excessivo ou deselegante de um adepto mais apaixonado do nosso FCP, porque não quer imediatamente significar que pertença a uma claque de arruaceiros ou de energúmenos. Há pessoas mais "pacientes" do que outras, e muito provavelmente não serão as primeiras quem mais razões de queixa terão para se impacientarem.

A paz, só é possível quando as partes compreendem o ponto de partida da guerra e o reconhecem. E caricaturando a "guerra" de que fala no contexto desportivo do programa em que participa, não me parece que o Rui Moreira esteja propriamente acompanhado de pacificadores. Sobretudo, e em especial, de dois senhores.

Como reza o ditado: as máscaras, como as mentiras, podem aguentar-se durante algum tempo na vida, mas não se aguentam muitas vezes a vida inteira.

3 comentários:

  1. Completamente de acordo até porque nós sabemos como era no passado futebolistico.Eramos simpáticos óptimas pessoas, desportistas exemplares que recebiam com fidalguia, mas não ganhavamos nada.Quando começamos a ganhar a incomodar a reivindicar direitos a lutar de igual para igual...logo vieram as campanhas de desacriditação, as mentiras repetidas até à exaustão, etc, etc,
    Isso no desporto como na política e veja-se o exemplo do Ministro da Administração Interna, lá estava no camarote da Luz( seria na qualidade de adepto da Académica ou do Benfica?)mas, quando foi Ministro da mesma pasta o Dr.Fernando Gomes foi completamente trucidado por ter ido ver um jogo às Antas.
    Por isso eu digo que isto não vai lá com paninhos quentes só com a força da razão e dando um murro na mesa.
    Obviamentes sem trauliteirismo nem má-criação.
    Um abraço

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  2. Ainda vou vendo gente atenta, que vê o mesmo que eu, e que parece mais ninguém vê. E assisto perplexo ao silêncio instalado. Promiscuidade tem sítio e personagens. Os encontros fortuitos da presidência da Liga, ou as presenças assíduas de governantes na Luz são normais. No Porto e no Dragão é que sáo promíscuas. Mas o Porto não é o Pinto da Costa, como a lógica redutora destes maquiaveis à moda do Casal Ventoso pretendem. São milhares de pessoas dignas, com opções respeitáveis, mas que se pretende ignorar.E enxovalhar. Num país sem respeito por si, onde os governantes se comportam do modo que se vê, não podemos esperar muito. Eu vejo o FCP desde os anos vinte. Praticamente desde que começou o futebol. Primeiro pelos olhos do meu pai, a partir dos anos quarenta com os meus.
    Nunca vi nada que enobrecesse esta gente que agora pretende assumir uma máscara pseudo justiceira. De mim não têm nenhum respeito. E ver-me representado, por convite dos algozes de meia tijela, claro, por quem me quer convencer que isto não é uma guerra, ou é cínico ou ingénuo.

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  3. Caro Victor Sousa

    Percebo bem a s/ revolta. Eu sinto-me muitas vezes assim e, o resultado de muitos anos a ver estes fulanos a envenenar a nossa cidade, a nossa gente, os nossos afectos culturais e clubísticos, fez com que hoje sinta uma profunda alergia a Lisboa.
    As pessoas de Lisboa não têm culpa disso? Podem até não ter, mas vêm o que nós vemos e parecem não se incomodar muito com a qualidade do espectáculo...
    Mas, apesar disso tem de admitir que não temos todos a mesma forma de reagir a estas situações e, às vezes umas bofetadas de luva branca como o Rui Moreira sabe dar, não susrtem maus efeitos.
    Ainda ontem chegou e sobrou para o APVasconcelos.
    O problema, é que o "moderador" faz sempre com que o menino do costume tenha a palavra final...

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