10 julho, 2008

O inesperado regresso do PREC

NOTA PRÉVIA - O facto de ter estado "fora do ar" durante uma dezena de dias, levou-me a não poder comentar a actual pouca vergonha do futebol português, logo no seu início. Hesitei sobre se deveria, agora, acrescentar comentários a um assunto já super-comentado. Decidi-me por, mesmo tardiamente, exprimir algumas rápidas opiniões dada a gravidade e importância de tudo o que se está a passar. Não li o que se escreveu entretanto na blogosfera (excepto o Renovar o Porto) por isso poderei estar a repetir argumentos já publicados. Se assim for, as minhas desculpas, mas trata-se de coincidência de ideias e não de plágio.


Sinto-me rejuvenescido! Voltei aos tempos pós-25 de Abril. Os condimentos estão aí: o PREC, os saneamentos selvagens, as empresas em auto-gestão. Foi isto, sem tirar nem pôr, o que se passou no CJ da FPF. Toda esta situação é vergonhosa, mas que os "intelectuais" anti-futebol não embandeirem em arco dizendo que é mais uma prova de que o futebol é um pântano. Não, pântano é a Justiça em Portugal. A justiça desportiva não é mais do que uma emanação da justiça civil. Àqueles que digam que a raíz dos problemas é o facto dos conselheiros do CJ serem indicados pelos clubes e, consequentemente, sentirem maior compromisso com quem lá os pôs do que com a JUSTIÇA (eu partilho desta opinião) eu lembro a esses que também no Tribunal Constitucional ( a mais alta instância da Justiça portuguesa) os seus membros são nomeados mais por interesses partidários do que pelo seu conhecimento da Constituição ( concedo no entanto que a categoria intelectual dos juízes, num e noutro caso, é bem diferente). O problema não está então no futebol, está no país. No futebol a situação agrava-se pela falta de nível de muitos dos dirigentes que conseguiram subir aos diferentes poleiros. Administrativamnte, fora das quatro linhas, o futebol é o que forem os dirigentes. Quando estes, na sua maioria, são o que são, espera-se o quê?

O presidente da Liga, na sua enorme vacuidade e comprovada incapacidade, diz que "começou uma nova era no futebol português". Porquê, será que o senhor pensa em demitir-se? Por seu lado o presidente da FPF, esse monumento vivo aos "rolhas" deste país, como habitualmente mais interessado na sua sobrevivência do que na saúde do futebol, assobia para o lado e lava as mãos como Pilatos, argumentando que o CJ é um órgão autónomo, confundindo propositadamente a real autonomia do ponto de vista de administração de justiça, com uma total e absoluta autonomia sem limites e sem regras que o transformaria num organismo inimputável. O CJ é um orgão da Federação portanto o presidente desta não pode abstrair-se dos seus disparates, caso contrário pergunta-se a quem presta contas o CJ. Ao Presidente da República, ao Menino Jesus?

Mas a irresponsabilidade do Sr.Madail vai mais longe. Ele sabe pertinentemente que há um problema jurídico para resolver, que consiste em decidir se houve uma ou duas reuniões e se a segunda é legal ou ilegal, pois esta decisão condiciona a validade ou a nulidade das pretensas sentenças tomadas na reunião do orgão, nessa altura já em "auto-gestão revolucionária". O senhor presidente da FPF decide no entanto enviar aos envolvidos ( Boavista e PdC) os acordãos da chamada "segunda reunião". Isto só quer dizer uma coisa: o senhor presidente considera que esta segunda reunião, efectuada depois do saneamento do Dr.Gonçalves Pereira, é legal e as suas decisões são para cumprir. Por outras palavras, o Sr.Madail, que proclama insistentemente a sua "imparcialidade absoluta", tomou formalmente partido por um dos lados. Exemplar! Como se não bastasse, enviou o mesmo acordão acusatório à UEFA, não ignorando os problemas que vai causar indevidamente ao seu filiado FC Porto.

Um último apontamento para lembrar, se necessário fosse, que tudo isto é mais uma
batalha na guerra que o Benfica desencadeou com o intuito de ganhar na secretaria aquilo que não conseguiu dentro das quatro linhas.

Eu quero acreditar que ainda há Justiça em Portugal, apesar de todos os sinais emitidos que indicam que ela está gravemente enferma. Se houver, e agora com a questão no âmbito dos Tribunais Administrativos, nem Pinto da Costa nem o Boavista serão condenados. Digo-o com honesta convicção, sem qualquer parcialidade clubística ou bairrista.

1 comentário:

  1. Seja bem vindo caro Rui Farinas!

    Espero que tenha aproveitado bem as férias para descansar o espírito, porque a coisa por aqui não está para optimismos. O mais difícil foi conseguido: estão a revelar-nos um país muito mais repugnante do que imaginávamos ser. Esta gente não presta.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...