21 outubro, 2008

Boavista 2.0

Há uns dias atrás enviei um desafio para a Baixa do Porto em que propunha a recolha e organização de sugestões que pudessem vir a integrar um projecto para a renovação da Av. da Boavista.

Aqui vai o meu contributo inicial:

A - Transportes públicos

Na Tertúlia do Guarani, realizada em Janeiro de 2005, a minha honestidade foi posta em causa por ter tido o atrevimento de referir que os doze minutos do metro a descer a Avenida, grande recorde possível apenas com um magnífico e ambicioso plano, nem eram grande coisa, pois esse tempo era já à altura suficiente para um autocarro descer a Avenida até à Fonte da Moura, utilizando a faixa central (comprovado por experiência diária).
Obviamente que nas horas de ponta isto pode não ser possível pois o autocarro só entra nesta faixa depois do Bessa, mas utilizando uma faixa total entre as duas rotundas, o tempo poderia até ser encurtado.

Fazendo contas rápidas:

Medindo no Google Earth, a AB mede 4,93 Quilómetros.

Sem paragens, a uma velocidade média de 30 Kms/h, 10 minutos seriam suficientes para uma autocarro fazer a avenida toda (e até à Fonte da Moura são apenas 2,85 Km).
Pelas minhas contas, a AB tem 15 paragens, o que um tempo de paragem médio de 40 segundos, levaria o percurso para os 20 minutos. Admito que este valor pode pecar por defeito – nunca contei o tempo de paragem.

Não parece nada mau para um meio tão Neandertal como o autocarro, certo? No site da STCP podemos ver que actualmente, sem trânsito, não anda muito longe disto – a linha 502 leva 8 minutos no percurso entre a Casa da Música e o Castelo do Queijo.

Os tempos podem ser melhorados, ao encurtar a paragem, o que é possível ao adoptar-se um sistema como o do metro, em que o andante é validado na própria paragem.

Postos estes factos, entendo que não há grande necessidade de ter outros transportes colectivos na AB, uma vez que o canal central pode ser utilizado para um meio talvez um pouco menos eficiente, mas que exige um investimento de curto prazo seguramente menor.

Outra vantagem dos autocarros, é a sua flexibilidade – a inexistência de carris, permite que a faixa bus possa ser gerida de acordo com as horas de ponta, podendo ser estabelecida a sua utilização alternada mediante a hora do dia, pelo menos em zonas menos sensíveis e sem paragens - creio que a única zona entupida nos dois sentidos na hora de ponta é a a do acesso à VCI - As zonas de condução alternada poderiam ser assim mais estreitas, permitindo o alargamento dos passeios e a instalação de equipamentos como esplanadas, “ancoramento” de bicletas, etc.

A utilização do autocarro deve ser fomentada, havendo algumas condições que podem ser criadas, como melhores abrigos ou criação de uma marca própria, Linha da Boavista, que poderia corresponder a um shuttle entre as rotundas. Há exemplos inspiradores que poderiam aqui ser aplicados, como a rede de transportes de Curitiba, promovida pelo Jaime Lerner, da qual destaco, como tendo aplicação directa, os autocarros biarticulados e os abrigos destacados na página Wikipedia .


B - Vias amigáveis para bicicletas

A afectação de duas faixas de rodagem a corredores bus e a necessidade de alargamento dos passeios não darão margem de manobra para colocação de ciclovias. Concordando com o Alexandre Gomes, não vejo também grande necessidade, uma vez que uma via sempre a subir (quem desce também sobe) não é muito amigável. Veria antes com bons olhos, um sistema de transportes como o TriMet, tansportes intermodais de Portland (EUA), cujos autocarros estão preparados para transportar bicicletas, e que neste caso fariam a ligação entre o metro na CdM e o Parque da Cidade / Foz.



Poderia ainda assim ser reservada uma faixa para bicicletas apenas no sentido descendente, sem comprometer grandemente a largura dos passeios.

Ficam aqui as minhas primeiras sugestões. Aguardo comentários.

7 comentários:

  1. Penso que a alternativa apresentada é muito válida, sobretudo porque é uma solução que possibilita alterar o perfil transversal da avenida privilegiando o peão e permite maior espaço de manobra para regularizar e dignificar a maior Avenida do país, que actualmente é um espaço desqualificado, semelhante a um estradão.

    Entre estradão e canal ferroviário, prefiro ideias que entendem a avenida como ela deveria ser, o grande eixo URBANO do Porto Ocidental.

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  2. Benvindo Miguel Barbot!

    Iniciou em "beleza" a sua coraboração no RoP. Este tipo de assuntos são muito importantes para a cidade e vêm cobrir uma lacuna que havia neste espaço.

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  3. Muito obrigado pelo comentário.

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  4. Caros amigos,

    Estou inteiramente de acordo com a utilização do autocarro, com um sistema mais aperfeiçoado, na Av.Boavista! Penso que com a possibilidade de alargamento dos passeios poderia criar-se uma via para bicicletas, a exemplo de muitas cidades europeias, nomeadamente como a de Bona na Alemanha! O subir e descer não será um factor a ter em conta, na minha opinião pessoal!

    Abraço,

    Renato

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  5. Concordo inteiramente com o primeiro ponto, embora ache que o trólei seria uma melhor alternativa que o autocarro por ser não poluente e não ficar muito mais caro. Em relação ao segundo ponto, discordo.
    A Av. da Boavista tem uma inclinação muito reduzida (eu sei-o bem que já a subi muitas vezes de bicicleta). Se nem na nossa maior avenida, uma rua larga e sem curvas, podemos ter uma ciclovia então onde vamos ter?
    A colocação de transportes públicos capazes de transportar bicicletas é uma solução complementar, não alternativa à ciclovia. Quem quiser andar de bicicleta, anda, quem não quiser (ou não puder), leva a bicicleta no autocarro ou trólei.
    Ciclovias como as que se fazem em Portugal, tipo estradinhas à beira mar, pouco me interessam. Ou temos uma rede de ciclovias pela cidade ou então a bicicleta nunca poderá ser uma alternativa de transporte viável. É um disparate criar-se ciclovias que não estão articuladas com outras ciclovias.
    Reforço esta questão. Para muitas pessoas, a ideia de subir uma rua com um mínimo de inclinação de bicicleta é aterradora. Mas para muitas pessoas, isso não é um problema. A cidade deve oferecer alternativas de transporte não poluentes para ambos os grupos.

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  6. Caro kandimba,

    Posteriormente actualizarei o post com os comentários que for recebendo. A ciclovia é obviamente bem-vinda desde que não implique ineficácias do sistema de transporte público (este uma verdadeira alternativa ao transporte privado. Obviamente que os dois podem co-existir em detrimento da qualidade de circulação do trânsito privado.

    Já agora, foi com agrado que travei conhecimento com os seus blogs, que irei consultar com regularidade.

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  7. Caro Kandimba,

    Já consultei os seus blogues e decidi anexar o "O Verde e o cinzento" à lista de favoritos, como forma de retribuir o seu gesto de simpatia.

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