08 janeiro, 2009

A (in)cultura do ministro

Nota prévia:
Já tinha este post pronto quando vi que o Rui Valente tinha efectuado um link para o JN. Hesitei na sua publicação, mas decidi-me a fazê-lo em lugar de deixar um comentário na respectiva caixa.


Notícias da imprensa de hoje, informam os portuenses que este ano, tal como no ano passado, não terão ópera. O (portuense) ministro da Cultura anunciou ontem que o protocolo que o ministério tinha com a Casa da Música e com o Círculo Portuense de Ópera, não será renovado. Não serei directamente atingido, na medida em que não sou apreciador de ópera, mas se aqui levanto a questão é por imperativo moral. Por um lado, entendo que os muitos amantes de ópera do Grande Porto não merecem ficar privados desse espetáculo. Pode mesmo considerar-se que a decisão do ministro é uma machadada na actividade cultural da nossa cidade, já que espetáculos de ópera terão sempre que ser subsidiados, e não só em Portugal. Por outro lado é lamentável a ignorância demonstrada pelo ministro, ainda por cima quando se trata da sua cidade. Com efeito, o que diz Pinto Ribeiro é que a Casa da Música tem um orçamento elevado, e que se os portuenses querem ópera, a CdM que a faça. Subsidiar o Coliseu, como tem sido norma? O ministro diz que não, afirmando que esta sala funciona poucas noites por ano, querendo significar que não quer subsidiar um "elefante branco". Ignorância. O presidente do Coliseu diz que nos últimos anos a sala funcionou em média 160 noites, com quase 300 mil espectadores, o que a mim me parece bom. Acresce que a CdM não tem fosso de orquestra, o que é uma boa razão para não ter ópera. O ministro da cultura também aqui mostra a sua ignorância... O protocolo que o Coliseu tinha com o ministério, assinado no tempo de Manuel Maria Carrilho - um visiense que muito fez pelo Norte - significava a concessão de uma verba que dava para a produção de duas óperas. Agora acabou, o que também asfixia e põe em causa a continuidade do Círculo Portuense de Ópera.

Acho que já estamos habituados a ser prejudicados por originários do Porto (nem lhes chamo portuenses) ou do Norte, que vão para Lisboa, tornam-se "assimilados" e parece envergonharem-se das suas origens. Quando dispoem de poder são piores do que os outros, pensando que assim se elevam na consideração das elites lisboetas e se tornam "um deles". Apesar da habituação a estas aberrações, continuo a sentir revolta quando confrontado com situações deste género. Mas a revolta sobe mais quando tomo conhecimento de que o agora recusado subsídio do governo ao Coliseu, traduzia-se no equivalente a €15 por espectador. Para o São Carlos o mesmo governo dá o equivalente a € 311. Vinte vezes mais!

Fico à espera que um desses centralistas que volta e meia aparecem na blogosfera com comentários "situacionistas", nos venha explicar a razão destas discrepâncias escandalosas. Sim, porque eu tenho a certeza que haverá boas e fortes razões para isso, só que a nossa ignorância e tacanhez de espirito de provincianos, ainda não nos permitiu atingir a Verdade Absoluta, só acessível a quem respira o ar privilegiado da Capital.

3 comentários:

  1. "O (portuense) ministro da Cultura..."

    Tem piada, mas eu não sabia que ele era portuense. Sabia que a namorada era, agora ele, não sabia, tal deve ser o entusiasmo e a forma que o "senhor" fala das origens. Concordo, os piores são os que vão dali lá para baixo. Não passam de uns complexados, com vergonha das origens, que a primeira coisa que fazem, é fazer tudo para perderem o sotaque e falarem como os tios e as tias de Cascais.
    Quanto há questão e o assunto focado, eu até gosto de ópera, mas a questão, e como você diz, não é essa...é que para lá para baixo há dinheiro para tudo, como se está a ver com as obras e mais obras - agora é para preparar a cidade para as comemorações do centenário da República - e para nós, nunca há verbas para nada...!
    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. Há uns anos o Herman fazia um boneco sobre o "Inginheiro que era do nuorte, carago ".
    O ultimo sketch dessa série resultou numa ida do " inginheiro " a Lisboa e ... milagre ... operou-se uma metamorfose quando o " gajo do Nuorte " passou aos poucos a falar com o sotaque alfacinha.
    Excelente crítica, infelizmente é o que se pasa com muita gente ida daqui...
    Para não falar nos piores, os que cá ficam e nos vão traindo.
    E não são poucos, feitos com o poder central obtendo inumeras benesses.
    Louvo e admiro um amigo meu, empresário, que sempre se recusou a mudar a sede da empresa para Lisboa, ganhou concursos e estourava de riso ao ver a cara espantada quando alguem de lá descobria que a Empresa tinha aqui a sua Sede.
    Daí que infelizmente não seja surpresa estes constantes ataques à nossa Cidade e neste caso à sua Cultura...
    Mas acredito que um dia destes ainda lhes iremos dar o troco.Assim nós queiramos.

    ResponderEliminar
  3. Isabel P.Lima andava a estudar o novo acordo ortográfico há 3 anos.Foi-se embora,veio agora o LENTES GROSSAS armar ao pingarelho e assinar o acordo ao fim de 15 dias de governação!Que tristeza!Nós é que descobrimos o Brasil...As novas gerações já vão falar com sotaque do BRAZIU...Está no SUL já deu em GAYVOTA.Esquecem as origens... Adolfo Dias

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...