02 fevereiro, 2009

A culpa,não é de todos nós, é dos poderes «ocultos»

Nunca é demais, insistirmos na desmontagem dos mitos que os «poderes ocultos» inventam para nos distraírem e permanecerem inimputáveis relativamente às crises que nos vão servindo em doses industriais, sem descanso. Um desses mitos, por exemplo, é aquela lengalenga da culpa pela depauperação económica e social do Porto (e Norte), "ser, de todos nós".
Há que reconhecer alguma habilidade na forma como os poderes «ocultos» constroem esses mitos e os fazem passar para a opinião pública com alguma facilidade. Constroem-nos, aproveitando a corrente de outros mitos, como são os programas do estilo "Prós e Contras" das segundas-feiras, da RTP, onde se costumam reunir as primeiras figuras da vida política e económica, para discutirem, de forma assaz «preocupada e democrática» os grandes problemas do país.
As coisas passam-se quase com realismo, tendo em conta a dinâmica que a moderadora Fátima Campos Ferreira empresta ao programa, com perguntas aparentemente incómodas para os convidados e a troca de galhardetes entre alguns deles, e o público na plateia a assistir como se estivesse (e está) em pleno teatro.
Para compor o cenário, e emprestar mais veracidade ao debate, colocam nas primeiras filas da plateia pessoas, mais ou menos identificadas com o tema em discussão. Findo o espectáculo, moderadora, participantes e público, recolhem a suas casas com as consciências temporariamente limpas, e com a ideia de terem cumprido o seu dever. Nada mais falso.
O país irá continuar exactamente na mesma, com a agravante de, a partir daí, alguns dos ilustres convidados se sentirem mais confortáveis para continuar a repetir as trapalhadas a que, por vício, já não conseguem fugir. O programa serve, sobretudo, para muitos lavarem as suas consciências e afastarem, por mais algum tempo, as suspeitas que eventualmente recaiam sobre si. A RTP, por seu lado, vendeu-nos a ideia que pretendia: de ter prestado um inestimável serviço público.
Não está aqui em causa a necessidade dos debates, da exposição pública dos assuntos de interesse público (leia-se, de Lisboa), mas sim os seus resultados objectivos. Com a TVCabo, os cidadãos do Mundo estão hoje ao corrente das barbaridades que um pouco por todo o lado se cometem, mas pouco mais conseguem do que ficar a saber o que não sabiam. Não têm quaisquer meios práticos e eficientes para intervir, por isso, a grande maioria, limita-se apenas a constatar factos.
Por todas estas limitações de cidadania, e já com tanta experiência acumulada, continua a espantar-me como determinadas pessoas continuam a dar importância ao que os políticos (ou ex-políticos) dizem e escrevem. E, incomoda-me mesmo, vê-los por aí, em jornais, nas televisões, nas rádios, em fóruns, conferências, a serem pagos para darem pareceres de toda a ordem e feitio, como se, atrás de si, transportassem créditos acumulados de savoir-faire acima de qualquer suspeita! Maus resultados, darão créditos? Isto, não faz qualquer sentido, meus senhores, como não faz sentido continuarmos a vê-los à frente de grandes empresas depois de mal cumprido o serviço público! Tal, só tem serventia para os próprios, e para a manutenção da mediocridade política.
Até nestes aspectos os media fazem as opções erradas. Se eles pretendem realmente útil os pareceres dos políticos, então, será muito mais avisado e justo, conferir créditos - ou o benefício da dúvida - àqueles que ainda não tiveram oportunidade de mostrar o que valem, não aos outros, que já estiveram no Poder sem conseguirem realizar nada de verdadeiramente relevante para o bem estar dos cidadãos. A relevância, deveria ser dada ao conteúdo, não ao estatuto. Ou, não será assim? Há uma manifesta falta de rigor nas opções da comunicação social quanto a estes costumes, onde ninguém sabe bem porque deverá ouvir pareceres de homens que contribuíram com a sua incapacidade e negligencia para o fraco desenvolvimento do país.
Ora, os debates,as crónicas jornalísticas, elaboradas com demasiada frequência por ex-governantes, não trazem nada de novo ao país, por mais legítimas que sejam as suas explicações, e tendem a transmitir aos assuntos uma credibilidade discutível, dando aos seus autores uma noção de competência altamente perniciosa. São estes maus hábitos, aparentemente inofensivos que geram os mitos e a tendência para delegar nos outros responsabilidades próprias. Os mitos, nunca governaram coisa nenhuma.

2 comentários:

  1. Meu caro Rui, isto funciona em circuito fechado: os amigos, os amigos dos amigos, os conhecidos, os amigos dos conhecidos e assim sucessivamente... os que não são amigos, conhecidos ou amigos de uns e outros, estão, perdoe-se-me a expressão, feitos ao bife.
    É o caso da grande maioria do zé pagode.
    Como se altera isto numa altura de crise, em que muita gente não vive, mas apenas sobrevive?

    Um abraço

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  2. Está na hora de provocarmos curto-circuitos, para que eles se abram.

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