A implementação da regionalização sempre esteve em perigo. Os sucessivos governos não querem fazê-la. O maior partido da oposição tem agora uma lider que é declaradamente contra. Como se não bastasse, a população portuguesa tem, na generalidade, um desconhecimento quase absoluto do problema porque tem sido pouco esclarecida e não adquiriu a sensibilidade necessária para conseguir fazer o balanço entre vantagens e inconvenientes. Com a passividade que caracteriza a sociedade portuguesa, uma grande parte dela adopta aquela posição imobilizante proveniente do ditado que diz que " é melhor o diabo que se conhece que o diabo desconhecido".
Foram dezenas de anos de irresponsabilidade, no sentido de que não tínhamos obrigação de pensar, de escolher entre várias soluções. Alguém pensava por nós, alguém decidia o que na sua opinião era melhor para nós (ou melhor para eles...). A nossa função era obedecer , sem questionar. E foi assim durante 50 anos. Tivemos paz social, a chamada paz dos cemitérios. Tivemos algum progresso material, com aumento do nível de vida, embora o nosso atraso para a Europa continuasse a crescer, porque ela se desenvolvia mais depressa do que nós.
Mas o preço foi altíssimo: transformamo-nos num povo castrado, num povo sem iniciativa, que se habituou a resolver as dificuldades, não através do esforço próprio, mas olhando com olhar de pedinte para o Governo, essa entidade superior que, na nossa opinião, tem obrigação de resolver todos os nossos problemas. E tanto assim é que, repare-se, não foi a sociedade civil que acabou com o Estado Novo, foram os militares e por razões que tiveram essencialmente a ver com a sua comodidade: eram militares mas estavam cansados de fazer a guerra.
Deste modo, a generalidade da população portuguesa não está hoje preparada para defender causas, para participar em movimentos cívicos, a não ser que daí resultem imediatas vantagens materiais. A nossa História mostra que nem sempre assim fomos. Algures no decurso dos séculos caimos nesta "apagada e vil tristeza" de que fala Camões.
Mas as coisas são como são e não adianta chorar. Desistir da regionalização porque o ambiente está desfavorável? Nunca! No entanto é imperioso termos a consciência que nós, os que acreditamos na regionalização, temos um trabalho ciclópico pela frente, o primeiro dos quais será pormo-nos de acordo com o respectivo mapa, não por unanimidade, que é impossível, mas por largo consenso. Não se diga que este já existe em torno das cinco regiões-plano. É falso e pessoalmente acredito que é um erro. Não podemos dar pretextos para a reedição da desculpa tão frequente em 1998: " eu sou a favor da regionalização, mas desta não, e por isso voto contra". Isto corresponderia a darmos armas adicionais a quem está contra.
Permito-me deixar ficar para um próximo post alguns comentários adicionais.
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Afinal, o que impede os senhores políticos que se dizem favoráveis à regionalização de promover, desde já,debates sobre tão interessante assunto? O quê, em concreto? Se a vontade fosse ganuína não podiam começar calmamente a discutir o tema, sem a pressão das campanhas eleitorais e com tempo?
ResponderEliminarSe o assunto é importante e realmente lhes interessa por que não o fizeram já? Não me refiro a Rui Rio, porque esse não me convence agora como nunca me convenceu. Não presta.Nem com regionalização quero vê-lo no Porto.
Caro amigo.
ResponderEliminarContinuar a falar e não esmorecer.
Esta reforma que a Constituição contempla já deveria ser uma realidade face à Lei em vigor.
Mas não podemos descansar e tentar ajudar todos aqueles que defendem a regionalização. Há alguns politicos da nossa praça que a defendem e estou certo que a irão tentar implementar.
Batalhemos sem cessar. A vitória será uma certeza.
E não podemos esquecer a componente politica com a formação do Partido "Regional" Livre.
Um abraço