18 março, 2011

Autoridade contra a mediocridade

Vão pensar que sou um puritano, que sou demasiado intransigente com a mediocridade, mas estão redondamente enganados. Estou longe de ser puritano e de ser intransigente que chegue com a mediocridade. O meu 'drama' consiste em querer continuar a acreditar que, apesar da aridez verificada em matéria de líderes no panorama internacional , ainda deve haver algures, nalgum canto do planeta gente com coragem, dimensão intelectual e ideológica q.b. para propor novos caminhos à governabilidade dos povos.

A Democracia tem sido tão maltratada nestes últimos anos, que se tornou no melhor aliado dos medíocres. Não creio que - tal como está actualmente - haja quem a defenda mais  do que eles.. E por quê? Porque são todos esses figurões que por razões óbvias não estão interessados em torná-la mais eficaz em termos legais. Quanto mais fácil for contornar a Lei, mais fácil se consegue fugir às responsabilidades. Mas para que o respeito pela Lei comece a ser um hábito natural dos cidadãos é imperioso que os representantes do Estado sejam os primeiros a dar o exemplo. A autoridade não deve ser mais do que o permanente zelador do cumprimento da Lei.

Quando a Lei não funciona, não vale a pena  criar outras, porque ela já existe no papel, mas não sendo levada à letra pouco ou nenhum efeito produz. A Lei, contemplando direitos, obriga também a deveres, e é por aí que ela se fragiliza. É por estar profundamente convencido dessa fragilidade, por vê-la cada vez mais apetecível a potenciais ditadores, que defendo urgentemente o reforço, ou melhor, a implementação efectiva da autoridade. Não vejo [ao contrário dessa clã medíocre], que a autoridade passe a ser autoritarismo apenas por passar a ser respeitada. 

Nesta perspectiva, não seria eu que me atrevia a criticar o líder de um futuro Governo que começasse por impor alguns condicionalismos aos seus colaboradores [Ministros, Secretários de Estado, etc.]. Três simples exemplos relacionados com o futebol:
  •  Distanciamento físico das manifestações de índole desportiva com qualquer clube, excepto para homenagear a comemoração de troféus nacionais ou internacionais.     
  • Inibição na participação de programas de índole desportiva ou quaisquer outros que pudessem transmitir a ideia de preferências ou proteccionismos em relação a determinado[s] clube[s].
  • Limitação de participação em debates mediáticos a situações de comprovada excelência governativa, de forma a promover a competência.
Estas "barreiras" estratégicas não seriam impingidas, seriram colocadas. Quem não concordasse só tinha que recusar. Ponto. Quem aceitasse, tinha de obedecer, ou correria o risco de ser demitido. Ponto.

Condições, regras - chamem-lhes o que quiserem -, que obviamente seriam para respeitar. Mesmo.

Dentro do respectivo contexto, medidas similares seriam aplicáveis a Ministérios e demais organismos públicos. Talvez assim deixássemos de ouvir o senhor Procurador da República queixar-se da falta de condições ou de suspeitas de violação do segredo de justiça. As direcções servem para dirigir e controlar, se existem e falham, é porque não cumprem eficazmente a sua função, logo, devem ser demitidas e substituídas.

A responsabilidade bem sucedida pressupõe competência e seriedade, mas contempla a exoneração, em caso de falhanço. Como não é assim que ela é encarada, os incompetentes mantêem-se agarrados aos lugares, disponíveis para corromper ou serem corrompidos. O caso do Procurador Geral é paradigmático: é ele próprio que não sabe exercer os Poderes que tem, simplesmente porque não tem a coragem necessária para o efeito. E aqui a mediocridade começa mesmo pelo topo da pirâmide do Poder. O resto, vem por acréscimo.

Por acréscimo, surgem também outros sinais de défice de autoridade e excesso de folclore institucional. Tornou-se comezinho vermos os advogados defenderem as suas causas [ou clientelas] publicamente frente às câmeras da Televisão, quando deviam, por obediência à probidade deontológica, cingí-las às salas dos Tribunais. Depois, seguem-se os senhores Juízes que, por dever de honra à Justiça se deviam resguardar dos holofotes e da boatice da comunicação social, também esta a abusar do muito poder que já goza, sem qualquer regulação...

Se me disserem que tudo o que acabo de explanar nada tem a ver com a falta de autoridade, eu não acredito. Porque é neste ponto preciso que nasce a bandalheira do actual regime. Havendo dinheiro, há advogados, logo, o crime compensa.

A autoridade nunca foi por natureza uma coisa simpática para ninguém, e é verdade. Não devemos é continuar a pensar que ela só é importante para os outros. O autoritarismo não é mais do que a palavra de ordem que alguém inventou para abortar o efeito inibidor da autoridade e tornar as sociedades de hoje sem valores, e quase insuportáveis.


F.C. Porto é o melhor líder do campeonato desde há 38 anos

O actual F.C. Porto, de André Villas-Boas, é o melhor líder do campeonato português de futebol dos últimos 38 anos, desde que o Benfica, de Jimmy Hagan, chegou à 23.ª jornada da Liga 1972/73 só com vitórias.

Para o mesmo número de jogos é preciso recuar quase 40 anos para assistir a uma "performance" tão elevada. Na época, sob a orientação do inglês Jimmy Hagan, o Benfica chegou à 23.ª jornada com um pleno de vitórias e até ao final dessa temporada viria a ceder dois empates - o primeiro na jornada seguinte, com o F.C. Porto -, terminando a prova invicto, com 28 triunfos.

Esta época, o F.C. Porto - que até se pode sagrar campeão dentro de duas jornadas no Estádio da Luz -, cumpre o melhor percurso desde há longos anos, com 21 triunfos e dois empates (com Vitória Guimarães e Sporting, ambos fora).

Na sua primeira época ao serviço dos "dragões" e em tão curta carreira de treinador - foi observador de José Mourinho no F.C. Porto, Chelsea e Inter Milão e treinou a selecção das Ilhas Virgens Britânicas -, Villas-Boas quer também fazer história.

Já esta semana o médio portista João Moutinho disse que um dos objectivos dos "dragões", cada vez mais perto do título, é chegarem ao final da época sem qualquer derrota, igualando a proeza do Benfica em 1972/73.

Em toda a história da Liga de futebol apenas o Benfica conseguiu terminar o campeonato sem derrotas e não só nessa época.


Pinto da Costa volta a atacar Sócrates por causa da Regionalização

José Sócrates voltou a estar na mira de Pinto da Costa. Depois de há pouco menos de um ano, em entrevista ao GRANDE PORTO, o ter acusado de ter tentado transformar o Benfica no clube do regime, por ter desejado a vitória do Benfica na final da edição da Taça da Liga do ano passado frente aos azuis e brancos, o presidente do FC Porto voltou criticar o Primeiro-Ministro, agora por causa de mais um adiamento da reforma da Regionalização.

“Todos aqueles que não têm cumprido as promessas eleitorais, prometendo a Regionalização e metendo-a depois na gaveta, deviam ter vergonha da situação em que nos colocaram”, afirmou o líder portista, naquilo que pareceu uma alusão à decisão de José Sócrates, plasmada na moção estratégica que levará ao congresso nacional, de travar a reforma político-administrativa do País na actual legislatura.

As palavras de Pinto da Costa ouviram-se em Rio Tinto, no salão nobre da junta de freguesia, curiosamente liderada pelo PS, que também é cidade. Cidade que, corria o ano de 824, tomou o nome do rio que foi tingido de sangue após uma batalha vencida pelos cristãos aos mouros. Inspirado pelo episódio, Pinto da Costa não perdeu a oportunidade para disparar em vários sentidos e abordar a actualidade, no dia em que a geração à rasca saía à rua para se manifestar: “O País está à rasca, as pessoas estão à rasca, os jovens estão à rasca, os reformados estão à rasca e tudo isso acontece porque os que estão bem na capital mantêm a decisão de teimosamente não querer a Regionalização que lhes permitiria deixar de estar à rasca. Somos tão portugueses como aqueles que deviam estar no rio tinto”, defendeu o dirigente, lembrando que o FC Porto “é dos poucos que ainda resistem à tentativa de conquista do poder da capital”.



Voltar para celebrar

Pinto da Costa não poupou críticas ao poder central e “centralizador”, mas enalteceu a “briosa” missão do poder local, das autarquias e freguesias, no esforço de melhor servir as populações. Ao seu lado estava, para além de Marco Martins e Nuno Coelho, respectivamente presidentes da freguesias vizinhas de Rio Tinto e Baguim do Monte, Valentim Loureiro, que fez questão de sublinhar a amizade que nutre pelo presidente portista, a quem lançou o repto para avançar para a construção de uma casa do FC Porto no centro da cidade para toda a população. “Eu sou presidente de todos os gondomarenses, portistas, benfiquistas ou sportinguistas, mas reconheço que os adeptos do FC Porto estão em maioria no concelho e que já há muito tempo merecem uma casa”, desafiou o presidente da câmara de Gondomar.

No dia em que o clube azul e branco inaugurou a sua 135.ª delegação, a primeira em Gondomar, o mais antigo dirigente do futebol português teve honras de Estado em Rio Tinto, sendo efusivamente recebido por mais de três centenas de simpatizantes portistas da cidade onde prometeu voltar para festejar a conquista do 25.º campeonato.

15 março, 2011

Portugal à rasca, ou é rasca?


A mim não me importa que o slogan escolhido para a manifestação soe mal aos ouvidos, o que realmente importa é que tenha sido funcional. E foi. Se foi a Geração à Rasca, os Homens da Luta, os Deolinda ou os três ao mesmo tempo que funcionaram como dinamizadores para o sucesso da grande manifestação nacional de 12 de Março de sábado passado, é quase irrelevante. O que é relevante e triste, é identificar as fontes que a inspiraram: Governo e classe política em geral.  

O Governo desgoverna com competência rara, mas a oposição não consegue dar sinais de poder fazer melhor. O drama maior de Portugal é esse. Temos maus governantes e políticos sem novas ideias. As crises dão-lhes muito jeito. Quando se é incompetente, não há melhor álibi do que uma boa crise, ou então lançar as culpas para o antecessor.

Dos partidos com hipóteses de formar governo, é notória a desorientação própria de quem não está preparado para tomar conta do fardo que é governar o país neste momento ou até noutro qualquer. Porque não há ninguém com coragem e saber para reformular a política e a forma de a exercer. Para que isso acontecesse seria preciso encontrar alguém com uma invulgar capacidade de liderança capaz de apresentar ao país um novo plano reorganizativo da sociedade e uma outra forma de administrar a economia sem fazer muitas ondas, o que é praticamente impossível, devido aos obstáculos que uma classe hiper-conservadora habituada a influenciar o Poder sempre tende a criar. O comunismo faliu. O capitalismo sempre esteve falido mas a espaços, tem a "arte" de criar no povo as ilusões de um futuro melhor. A economia serve-lhe de barómetro: se está em linha ascendente o futuro "existe", se cai é por causa das crises, pouco mais há para dizer. O cículo vicioso não passa disto. Até aos dias de hoje que é assim. Bastaria lançarmos um olhar atento sobre o que é a vida na maior potência Mundial, como são os Estados Unidos da América, para percebermos que os americanos estão longe de constituir uma sociedade equilibrada, independentemente dos seus pontos positivos. As aberrações sociais, são do que há de pior. Não é por acaso que os carros de polícia circulam por todo o lado...

Analistas e politólogos repetem-se nos comentários. Não há vontade de experimentar fazer diferente. Ou se faz ['governa'] como sempre se fez, ou então não se faz. Eu gostava de dizer a essas pessoas que devem passar a ser mais moderados quando tiverem de falar dos maus governos e dos respectivos culpados. É que já cansa ouví-los incluir no lote dos culpados pessoas [como é o meu caso e o de outros] que nunca deram o voto de confiança a esta gente que tem destruído o país, pela simples razão de não lhes reconhecerem méritos para o conduzir. Há sempre que ter em conta aqueles [poucos, talvez] que tiveram a lucidez ou mesmo o instinto suficiente para perceber a mediocridade dos candidatos ao trono. Aliás o próprio sistema eleitoral nos impossibilita de conhecer profundamente os candidatos aos órgãos do poder. Ninguém pode votar em consciência. 

Os salários precários como os pluri-empregos e os recibos verdes, são outras das palavras mais ouvidas nos últimos tempos por gente tida como responsável. Coisas ditas como a mesma naturalidade que o sedento bebe um copo de água. Não oiço porém estas sumidades opinantes aplicarem o pardigma  à prole, ou a eles próprios. Só acredito quando vir o Durão Barroso a guarda de noite, ou o Sócrates a caixa de super-mercado. Antes disso não há paradigma para ninguém...pelo menos eu não o engulo. Além disso é uma vergonha e uma falta de ambição ideológica chocante insistir neste discurso miserabilista. Revela conformismo e uma total falta de solidariedade cívica. Revela também que os muitos anos de estudos "superiores" não bastaram para lhes ensinar que o Mundo é um bocadinho maior que o raio que dista dos próprios olhos ao umbigo.  Com protagonistas ideologicamente tão ambiciosos não é apenas a geração que está à rasca, é Portugal inteiro.   

14 março, 2011

INFORMAÇÃO SOBRE A PETIÇÃO

Na sequência das alterações já anunciadas pela comunicação social sobre uma nova nomeação para o cargo de Director de Informação na RTP, procedeu-se  a uma pequena actualização do texto da petição em: *post-scriptum [PS]. 

Petição Contra a discriminação ao Futebol Clube do Porto e pela demissão dos Directores de Informação da RTP Para:Assembleia da República

Considerando o acentuado descontentamento de uma expressiva parte da população portuguesa, de Norte a Sul do país, simpatizante, adepta e sócia do Futebol Clube do Porto, com a forma sectária e desrespeitadora como a RTP tem vindo a eleger e a promover a programação e informação desportiva, tentando denegrir e desvalorizar, directa ou veladamente, não só a sua imagem de cidadãos, como a imagem do próprio clube, vêm os signatários apresentar junto da Assembleia da República esta petição no sentido de pedir a demissão imediata do seu Director de Informação, José Alberto Carvalho, bem como da estrutura directiva da RTPN, José Alberto Lemos [Director], Carlos Daniel e Dinis Sottomayor [Directores Adjuntos].

O sentido da presente petição é tanto mais pertinente quanto profunda e incontrolável é a revolta da população local perante outros factores similares de discriminação a que vem sendo submetida por total insensibilidade governativa, quer sejam de ordem política, económica, como social.

Sendo os colaboradores da Rádio Televisão Portuguesa, funcionários do Estado, como tal, obrigados a uma isenção acrescida em relação aos media privados, é legítimo que os adeptos do FCPorto de todo o país, cujos impostos contribuem para lhes pagar os vencimentos, exijam para as Direcções dos canais públicos gente da sua confiança e não se revejam na actual.

Como tal, exigem a imediata demissão dos directores supra-citados e a respectiva substituição por gente competente e com uma noção profunda e rigorosa do que é um verdadeiro serviço público.

*Ps. Por coincidência, ou não, decorridos dois mêses da data deste documento, o Director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, abandonou esse cargo para ocupar outro de similar responsabilidade na TVI. Este facto, obriga os signatários a adaptarem o texto desta Petição sem prejuízo de posterior responsabilização do Ex-Director da RTP. Assim, mantem-se o pressuposto de exclusão dos directores adjuntos que constam desta petição bem como o desejo manifesto dos peticionários de que o novo Director de Informação reformule uma nova equipa com quadros mais qualificados.

Respeitosamente,
Os signatários

13 março, 2011

Sobre a origem do político Rui Gomes da Silva

Rui Manuel Lobo Gomes da SilvaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ministro de Portugal
Mandato: XVI Governo Constitucional
Ministro dos Assuntos Parlamentares
Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro


Nascimento: 23 de Agosto de 1958 (52 anos)
Lisboa, Portugal
Partido: Partido Social Democrata

Rui Manuel Lobo Gomes da Silva (Lisboa, 23 de Agosto de 1958) é um advogado e político português.

Licenciado em Direito (1981), é senior partner da firma Legalworks, em Lisboa. Na política foi deputado à Assembleia da República nas V (1987-1991), VI (1991-1995), VII (1998), VIII (1999-2002), IX (2002-2004) e X (2005-2009) Legislaturas, tendo presidido à Delegação Portuguesa da Assembleia Parlamentar da OTAN (2002-2004). Foi membro das Assembleias Municipais de Lisboa (1990-1994 e 2002-2005) e Cascais (1998-2002). Foi membro do XVI Governo Constitucional, chefiado por Pedro Santana Lopes. No desporto é, hoje, vice-presidente da Direcção do Sport Lisboa e Benfica e vogal do Conselho de Administração da respectiva SAD. Integrou o Conselho Superior do Ministério Público (1994-1999).

[editar] Funções governamentais exercidasXVI Governo Constitucional
Ministro dos Assuntos Parlamentares
Ministro-adjunto do Primeiro-Ministro

Fonte: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Manuel_Lobo_Gomes_da_Silva

As manifestações da "geração à rasca"

Gostaria que as manifestações de ontem marcassem o início de uma nova época em Portugal. Uma época em que os portugueses abandonassem a sua inércia indiferente e comodista, com a consequente convicção que as "coisas " só mudam se "eles" quiserem, porque "nós" somos impotentes, e que portanto não vale a pena "nós" nos mexermos.

É só por isso, pela criação duma consciência cívica que origine uma mentalidade nacional mais interventiva, que as manifestações de ontem podem constituir um marco. Quanto à finalidade anunciada, isto é, a resolução dos problemas de emprego da "geração à rasca" (e não só! ) elas não resolverão nada de nada. Empregos "para a vida" como antigamente, só muito dificilmente voltarão. Empregos decentemente pagos e com um mínimo de estabilidade, infelizmente não se criam por decreto e serão crescentemente mais difíceis numa economia cada vez mais anémica como a nossa.

Gostaria que pelo menos houvesse uma (improvável) consequência do dia de ontem : a erradicação dos famigerados recibos verdes, que são uma vergonhosa exploração do trabalho, com o oportunismo de empresários sem consciência e a cumplicidade culposa dos governos, incluindo um que se auto-intitula de "socialista".

Outro aspecto em evidência no dia de ontem, foi a condenação dos "políticos" tal como os conhecemos. Acompanho a opinião de todos aqueles que têm clamado que o actual sistema político português, aquilo a que chamam uma democracia representativa, está esgotado, já deu o que tinha a dar, e que só se mantém porque perpetua os interesses dos partidos políticos, dos seus dirigentes e respectivos serventuários, e das clientelas que vivem à sua custa, tudo isto perante o olhar bovinamente abúlico das populações. Receio que no imediato nada mudará e que à sua condenação pública, os políticos profissionais farão o equivalente das vítimas das inundações, que procuram os lugares mais altos para escapar às águas, na certeza que elas acabarão por baixar e tudo voltará ao mesmo.

Os nossos políticos são uns desavergonhados incorrigiveis. Só à força serão corridos. Será possível que das manifestações surja uma nova classe de gente jovem com outra mentalidade, capaz de iniciar uma nova época? Ou será necessário uma revolução? Ou a União Europeia considera-nos inimputáveis e nos quer transformar num protectorado?

Os oito séculos de História que Sócrates invocou em Bruxelas, serão suficientes para evitar que nos despenhemos no buraco negro que se abre na nossa frente?

O PSD não tem vergonha deste homem? E o Dr. Rui Rio, também não?


Fosse a previsibilidade a mesma coisa que a sorte, a crise económico-financeira teria passado ao lado dos portugueses e Sócrates teria conseguido um feito impar na história universal: gerar riqueza no país, sem governar. Mal comparando, se Rui Gomes da Silva não fosse um aldrabão compulsivo, um homem sem escrúpulos e uma das várias fontes de humilhação do Partido Social Democrata cujo comportamento tem, estranhamente, merecido a complacência aos pregaminhos de Rui Rio, talvez ainda houvesse alguém capaz de o levar a sério.

O Benfica tudo tem feito para fazer a vida negra ao FCPorto. Qualquer pessoa séria o percebe. Tudo lhe serve para tentar infernizar a vida ao clube azul e branco. Considero que já nem vale a pena recordar o miserável histórico de actos de terrorismo e de perseguição perpretados contra o clube do Porto, só para falar dos últimos anos. Toda a gente já percebeu que, independentemente das performances desportivas, o Benfica, vergonhosamente apoiado por uma comunicação social desonesta e sectária, acha que nenhum outro clube nacional tem o direito de se lhe atravessar no caminho e de conquistar troféus. Tem exactamente a mesma noção obessessiva do fair play desportivo como o centralismo tem da democracia com o resto do território, onde Lisboa desempenha sempre o papel de actor principal e o restante  de secundários e resignados figurantes.

Todo este comportamento da clã benfiquista nos faz recordar os mais pérfidos processos nazis de perseguição e de intimidação e, no entanto, ainda não mereceu da parte das autoridades nacionais, desde o Presidente da República ao 1º Ministro e à Procuradoria Geral um único reparo. Para estas entidades não é importante exercer uma acção de pedagogia preventiva contra este permanente clima de crispação. Isso dá trabalho e compromete. Preferem manter-se num cobarde e cumplíce silêncio e intervir apenas quando a violência se extremar. Então, nessa altura, sem deixar cair a máscara da incompetência e do cinismo, lá aparecem a pregar-nos discursos moralistas sem qualquer efeito prático, excepto o de potenciar a nossa indignação.

Ontem, finalmente, o povo saiu à rua numa manifestação geral de repúdio não só contra a inoperância do Governo como contra toda a classe política. Esperemos que surta algum efeito e que continue para não lhes revigorar o folego. Seria útil que aqueles que ainda têm alguma autoridade institucional pusessem os olhos no que está a acontecer noutros países e soubessem transferir para o futebol alguma autoridade de forma elevada e isenta. O futebol pode ser o rastilho que tem faltado na sociedade civil para, a exemplo do que aconteceu na Grécia, a violência ganhar outras proporções que não as de um tabefe merecido e...tardio*.

*Sobre este assunto, da suposta agressão ao incendiário Rui Gomes da Silva só tenho a dizer que duvido dos seus depoimentos, porque tamanho trafulha é bem capaz de ter simulado a agressão. Mas, se foi verdade, e se foi só um bom par de tabefes, acho que os estava a pedir. Quem não quer ser lobo... 
Ah, que ninguém se atreva a vir para aqui dar-me lições de urbanidade, porque nem do Presidente da República as aceito. Também ele é responsável, por inacção, pelo clima crispado que se está a instalar no futebol.

Para quem desconheça a peça ou viver noutro planeta aqui vai uma amostra:


11 março, 2011

O Estádio do Dragão também é Porto


Não é a primeira vez que o faço, nem será certamente a última,  tocar num assunto que se tornou uma espécie de vaca sagrada  à liberdade de pensamento.Reporto-me à trilogia   cidadão /adepto de futebol / bom senso. Não é por espírito de contradição, mas parafraseando o Almirante Pinheiro de Azevedo - que achava uma chatice e não gostava de ser raptado -, também eu tenho uma certa aversão ao unanimismo de certas "verdades" fossilizadas. Além de mais, é sempre útil procurar retirar o pó  às ideias feitas que o tempo e a incapacidade de pensar diferente quase transformaram em factos científicos.

Tendo lido vários  artigos  contra o centralismo de algumas figuras públicas portuenses simpatizantes do Benfica, , fica-me sempre a dúvida se teriam capacidade para manter a coerência intelectual caso fossem desafiados a falar com igual  honestidade sobre o que pensam da personalidade de Pinto da Costa. Como não sou jornalista, interesseiro e cobarde, vou escrever o nome de alguns desses [poucos] exemplos: Paulo Morais, António Souza Cardoso, Júlio Machado Vaz [que em jovem, cheguei a conhecer na praia da Aguda] e Mário Dorminsky. Todos, excepto Júlio Machado Vaz, colaboram activamente no semanário regional Grande Porto, e todos se têm assumido como adeptos da Regionalização, o que se aplaude, mas já não estou tão crente que essa lucidez possa ser extensível a uma análise honesta sobre os méritos do Presidente do FCPorto.

Dir-me-ão que uma coisa nada tem a ver com a outra, e é verdade. Porém, não é isso que parece. António Souza Cardoso, homem aparentemente civilizado, já foi comentador desportivo num canal de televisão, e tal como outros benfiquistas menos polidos, não foi capaz de fugir da vulgaridade de fazer as mesmas insinuações prejorativas acerca de Pinto da Costa. E estou a falar de uma raridade, de um benfiquista com nível, educado...  A clubite tolda-lhes a seriedade analítica de cidadãos. É que, ao fim e ao cabo, depois de tantas acusações públicas infundadas, de tantas tentativas de linchamento ao seu carácter, Pinto da Costa não fez mais [se calhar até fez menos] que muitos outros dirigentes desportivos, políticos e cidadãos comuns fizeram, ou seja, olhar pelos seus interesses.  

Fanatismos excluídos, encontrar no panorama actual da sociedade,  um benfiquista capaz de separar as águas do clube das águas da análise ao carácter de pessoas [PdCosta], é como encontrar uma agulha num palheiro. Os benfiquistas são todos iguais, têm características idênticas ao eucalipto, adoram secar tudo que os rodeia... E é aí que o conflito de afectos entre portuenses/portistas e benfiquistas se revela insanável, porque, enquanto os primeiros defendem um todo indivisível [cidade versus clube], os outros, esquartejam-no, dividem-no, como se o clube fosse um intruso e não fizesse parte dela, procurando impor-lhe um corpo estranho, um outro clube sem qualquer afinidade com a região e a cidade. Confundem o clube com a Selecção...

No Porto, para a maioria dos portistas, falar mal de Pinto da Costa é bem mais grave que criticar Rui Rio, porque realidades à parte, o primeiro fez incomparavelmente mais pelo nome e pela visibilidade da cidade que o outro. Não devia ser assim, concordo, mas cada qual tem as capacidades e  o prestígio que merece...

Mário Dorminsky disse no GP: "Lisboa é um minúsculo país, não temos aquele caquético jet set que aparece invariavelmente nas revistas". De acordo, mas essa Lisboa pindérica, é a mesma que pertence à região do seu clube de eleição, ao ninho do centralismo, cuja grande massa de adeptos, incluindo políticos, passam a vida a subalternizar o Porto, a incendear e a apedrejar autocarros, a destilar ódios em programas ditos desportivos contra o FCPorto, e a tudo fazerem para o destruir. Em que ficamos? O FCPorto e seus simpatizantes não são afinal mais Porto que os portuenses que os desprezam ?

É que esta coisa de lançar por sistema a culpa para cima do FCPorto é uma história que já fede de podre. Esta mania de querer separar à força os portuenses dos portistas é como tentar decepar os braços e as pernas a uma pessoa. A livre escolha dos afectos é um direito, mas nem por isso explica a incoerência inestética de um corpo amputado. E o Porto, custe o que custar, tem de continuar a manter o seu intacto, com o FCPorto incluído. 

10 março, 2011

O país Faz de Conta

Se os paises tivessem cognome, tal como era hábito fazer com os reis, Portugal só podia ser o Faz de Conta.

O jornal de ontem diz-nos que a PJ tem apenas metade dos efectivos que devia ter, que 70% da sua frota automóvel tem deficiências graves, e que os agentes estão há três meses em greve às horas extraordinárias, com a consequente falta de capacidade operacional que daí resulta. No entanto o ministério da Justiça faz de conta que está tudo bem.

Se fosse só isto...!

O país faz de conta que vive numa democracia representativa. Os políticos fazem de conta que estão honestamente empenhados em servir o seu país. O primeiro-ministro faz de conta que a crise económica já terminou, e também faz de conta que a crise não foi causada basicamente porque a nossa economia está estagnada há anos e nós gastamos sistematicamente mais do que aquilo que produzimos. Os partidos políticos fazem de conta que são a favor da regionalização mas sabotam-na de todas as formas e feitios. O sistema faz de conta que nã há promiscuidade entre o poder político e económico, e que todos os gestores de topo que estão no sector empresarial do Estado, foram aí colocados exclusivamente pela sua capacidade de gestão. O presidente do benfica faz de conta que é sério, impoluto, e irredutivelmente paladino da transparência. O seu treinador faz de conta que é um mestre de futebol e que sabe o que mind-games significa. O presidente dos árbitros da liga de futebol faz de conta que é imune às pressões exercidas pelo clube do regime. Os paineleiros televisivos benfiquistas fazem de conta que são modelos de fair-play, incapazes de caluniar, mentir, insultar, ou bolsar ódios contra quem não é da mesma cor.

A lista podia continuar, indefinidamente...

Entretanto nós, portugueses, fazemos de conta que somos europeus, primeiro-mundistas, membros insignes de um club restrito chamado Comunidade Europeia.

Pinto da Costa repórter...

Jogo de palavras entre Benfica e F. C. Porto aquece ronda da Liga Europa
Terá Pinto da Costa mudado de actividade, ou estará a tramar alguma? Assim raciocinam os mentecaptos do regime...

09 março, 2011

A pirâmide que vai cair de pôdre

A vida não é uma coisa fácil, sabemos isso. Nunca o foi. Em Portugal como noutros pontos do globo, quem tiver escrúpulos e se recusar enveredar pela via do compadrio ou da marginalidade, dificilmente terá acesso a grandes facilidades. Contudo, seria gratificante podermos contar com a boa vontade dos governos para tornar o futuro dos jovens minimamente atractivo. Em vez disso, o que é que temos?  Demagogia!

A comunicação social deixou de ser um suporte positivo de informação para o público.   Pela manhã, mal raia o sol, ligámos a televisão e  somos logo massacrados com toneladas de notícias negativas. Mais desemprego,
greves, corrupção, despedimentos, guerras,  revoluções, inflacção, negócios falidos, e muito poucas notícias positivas. Chamam a isto civilização.

Se optarmos por     mudar de  canal, é bem provável desembocarmos num outro qualquer onde  figuras públicas procuram passar por figuras de prestígio [leia-se,de competências confirmadas],  debatendo a(s) crise(s) e apelando, como manda a moda,  ao positivismo. Pelo meio, talvez para conferir alguma  "coerência" ao discurso, vão-nos "prevenindo" que o emprego para toda a vida tem os dias contados, o que faz todo o sentido...

E os jornalistas, naquele jeito peculiar de quem se acha actor insubstituível  da causa pública,vão dando corda ao populismo dos comentadores,sem se atreverem a confrontá-los com a aberração das suas sábias premonições. Sempre dá menos trabalho fazer as mesmas perguntas, das quais todos adivinham a resposta, do que confrontá-los com a sua mediocridade ideológica e desafiá-los a apresentar respostas sérias.

Seria serviço público sim, se em vez de aceitarem "soluções"  simplórias e fatalistas, como essa do múltiplo emprego precário, os jornalistas lhes colocassem questões pertinentes, embaraçosas mesmo, como por exemplo: "não estará o Mundo equivocado sobre o conceito de progresso/produtividade? Afinal, a quem serve uma máquina que produz mais, em menos tempo, se o resultado acaba invariavelmente no desemprego de centenas ou milhares de seres humanos? Que importância terá  afinal  produzir mais e  melhor  se, consequentemente, essa "mais valia" acaba invariavelmente por gerar um menor poder de compra das populações? Não haverá que reformular toda esta concepção absurda e atabalhoada   de desenvolvimento?

Aceitar placidamente paradigmas de regressão económica e social inconsistentes, sem ao menos os contestar,será contribuir para o progresso da Humanidade?  Estarão os líderes mundiais, sem se aperceberem, a exercer discriminação com o próprio progresso? Isto é, existe empenho e capacidade para aperfeiçoar, inovar a tecnologia da máquina e não se é capaz de usar a mesma vontade para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos?

Colocar este tipo de questões é coisa de que ninguém se lembra, nem os jornalistas. Preferem imitar os políticos: falar, sem dizer nada. Os poderes copiam-se.

07 março, 2011

Orelhas de burro

No rescaldo do jogo entre o Sporting de Braga e o Benfica, em que a equipa nortenha levou de vencida o clube de bairro lisboeta, o presidente benfiquista [ mais conhecido por "Orelhas"], decidiu romper o silêncio que um período inabitualmente longo de victórias deixou os mais crédulos confundir com estratégia ou, na melhor das hipóteses, com fair play... Puro engano.

Decididamente, o "Orelhas" é bronco dos pés à cabeça, e não consegue disfarçá-lo mesmo quando a vida lhe parece sorrir. Ontem perdeu, e como perdeu resolveu ir para a zona mista falar com os jornalistas para desatar a bater nos árbitros e em tudo o que mexia ou estava quieto. Desta feita, recorreu à astrologia para se inspirar e proferir a frase do ano:

"estava nas estrelas que tudo isto ia acontecer", ou então esta: " se houvesse dúvidas, provou-se que era muito difícil o Benfica chegar lá acima. Fomos constantemente empurrados"

O Renovar o Porto soube, de fonte fidedigna, que a conversa com os jornalistas andou dentro destes parâmetros:

Jornalista:
Senhor Orelhas, o que é o senhor quis dizer com "estava nas estrelas que isto ia acontecer", é capaz de explicar?

Orelhas:
- Então você não viu o que toda a gente viu?

Jornalista:
- Vi o Benfica perder...

Orelhas:
-No espaço homem, você não viu? Toda a gente viu, até um cego via!

Jornalista:
-No espaço vi umas estrelinhas, mas poucas. O céu estava um tanto encoberto...

Orelhas:
-Entre a estrela Sirius e a Alfa de Centauro, ele estava lá...

Jornalista:
-Ele quem?

Orelhas:
-Ele, o Pinto da Costa, quem havia de ser

Jornalista:
-E o que é que ele estava a fazer entre as estrelas?

Orelhas:
-A suborná-las

Jornalista:
-A subornar as estrelas, presidente? Para quê?

Orelhas:
-Para que havia de ser, homem! Estava a subornar as estrelas para, através da energia magnética influenciarem o árbitro e prejudicar o glorioso. Percebe? A Liga tem de ver isto é sempre a mesma coisa!

Jornalista:
-Acha que foi por isso que o Benfica perdeu o jogo?

Orelhas:
-Por isso, e por causa das toupeiras

Jornalista:
-Das toupeiras? Também elas foram subornadas por Pinto da Costa?

Orelhas:
-É claro, foram elas que deram o efeitinho à bola - sem ninguém ver -, nos golos do Hugo Viana e do Mossoró, senão nunca entravam na baliza. O nosso guarda-redes defende tudo. Tudo!

Jornalista:
-Então foi por isso que o Benfica não ganhou?

Orelhas:
-Estava tudo viciado. Estava escrito nas estrelas, nas toupeiras, nos pneus...

Jornalista:
-Disse pneus, presidente?

Orelhas:
-Quem falou em pneus? O que eu disse foi que tinha fé em Deus. O Benfica ainda vai ser lampião - quero dizer - campeão.

Jornalista:
-sim, senhor presidente...





05 março, 2011

Fado, maldito fado.

Qualquer pessoa minimamente atenta - que não do tipo básico, viciada em medir a qualidade dos políticos pelo status, pela aparência ou pela desenvoltura no patoá -, já teve tempo de sobra para concluir que os nossos governantes não andam longe deste estereótipo, ou que até o superam por defeito. A cada acção do Desgoverno Socialista segue-se a asneira, e à accção seguinte, uma asneira ainda maior. Depois, vem o desaforo e por fim a traição. É uma espécie de concurso endógeno de mediocridade individual e colectiva talvez para descobrir qual das medidas é pior que a antecedente.

Numa democracia árida de valores, que ainda não nos oferece meios para podermos desbaratizar as pragas do pós 25 de Abril, antes de se tornarem viroses, estas graves evidências são apreciadas com o mesmo grau de indignação que um mau filme de terror em que o espectador se limita a levantar-se para abandonar a sala de cinema. Grave, é  não termos consciência da responsabilidade que nos cabe de continuarmos a avaliar a incompetência governativa com excessiva ligeireza. Não percebemos as poucas "armas" que temos e não somos capazes de as usar a nosso favor de modo a livrarmo-nos desta garotada que ascendeu ao Poder sem qualquer sentido de responsabilidade nem grande experiência da vida.

Não fora isso, não haveria réstea de autoridade moral para nos sonegarem alguns direitos caso já tivéssemos conseguido penalizar sem hesitações este e outros governos por vários actos de traição à pátria decorrentes de sucessivos incumprimentos legais e constitucionais. Hoje, a Regionalização só é um "problema" porque alguém quis que o fosse. Passou a ser um "problema" forçado por alguns "iluminados"que decidiram, por moto próprio, incumprir com o Artº.256 da Constituição da República de 1976 boicotando assim a sua implantação.  O referendo por isso é um embuste. Não passa de mais uma burocracia formal cujo único objectivo é dificultar o processo de Regionalização.

Agora, até Rui Rio já anda por aí "empenhado" em debates de âmbito regionalista... Diz ele que quer promover a discussão e a reflexão colectiva sobre o tema. Para isso, vai convidar algumas pessoas [personalidades de grande relevo intelectual, diz ele]  que pouco ou nenhum interesse têm mostrado pela Regionlização. Querem saber quem são as figurinhas? Então, aqui vai [mas não se riam]:

o 1º. debate que é o mais tragicómico, será com Pinto Balsemão, Mário Soares e Freitas do Amaral... O 2º. é com Santana Lopes, Rui Ramos e Garcia Leandro. O 3º. debate [um pouco mais convincente] é com Rui Moreira, Lobo Xavier e Abel Mateus. 4º. com Marinho Pinto, Laborinho Lúcio e Paulo Rangel. O 5º. [não gozem ] Maria João Avillez, Azeredo Lopes e Manuel Teixeira.

Há mais, mas prefiro ficar-me por aqui. Suponho que chega. São as "elites" que temos... e o país correspondente.

04 março, 2011

Parceria FCPorto / PortoCanal

Sendo prematura qualquer opinião aprofundada sobre a parceria anunciada no post anterior, atrevo-me contudo a dizer: "Até que enfim!"  Tinha de ser o FCPorto! Ai, sociedade civil por onde andas... 

É conhecida a forma competente e cuidadosa como o FCPorto estabelece os seus negócios, quer sejam as contratações de jogadores, como os momentos que escolhe para as divulgar. Daí, estar plenamente confiante que a direcção da SAD saberá salvaguardar os interesses do clube também neste protocolo com a Porto Canal de modo a manter a sua autonomia inteiramente intacta. Do mesmo modo se  louva a abertura do Canal da Senhora da Hora por esta parceria com a qual, estou convencido, terá muito mais a ganhar do que a perder.

Como já antecipei, ainda é cedo para deitar foguetes, mas esta iniciativa só peca por tardia, embora,  como é óbvio, caiba apenas e só aos intervenientes a responsabilidade de escolher os timings. Esta notícia é mesmo assim uma lufada de ar fresco no panorama poluído dos media nacionais dado constituir uma janela de autonomia de expressão não só para o Porto como para todo o Norte Nacional. Por isso também me parece acertada e louvável a ideia de querer manter o carácter generalista e territorial da estação, e não apenas um canal do FCPorto, continuando apostada em cobrir todas as regiões e cidades nortenhas dando-lhes a voz que os media centralistas lhes têem recusado de forma justa e equilibrada.

Por outro lado, espera-se que este seja um "casamento"  feliz de mútuo interesse e que saiba por-se a salvo das investidas cobiçosas do centralismo que tudo irá fazer [podem estar certos] para o conduzir ao divórcio...

FC Porto poderá assumir posição estratégica no Porto Canal


O FC Porto e o Porto Canal assinaram um protocolo que conjugará interesses das duas instituições, podendo o clube, “até ao Verão, assumir uma posição estratégica” naquela estação televisiva, revelou hoje à Lusa fonte ligada ao processo.

A cooperação entre as partes foi anunciada hoje pelas duas entidades em comunicado oficial nos respectivos "sites" na internet e ambas referem o reforço da sua imagem e intenções ao nível da comunicação.

O Porto segue assim um caminho diferente do Benfica, que tem um canal próprio, sendo que o clube nortenho aposta num canal regional e generalista já existente.

A sinergia de meios e plataformas de comunicação e marketing “levará a um posicionamento estratégico" do clube na empresa que gere o Porto Canal, assegurou a mesma fonte.

A transmissão em directo do FC Porto-Benfica, da 20.ª jornada do campeonato nacional de hóquei em patins, no sábado, será já um sinal claro do entendimento em curso entre as duas instituições.

O FC Porto revela no memorando de entendimento com os proprietários do Porto Canal (Media Luso, empresa participada do grupo espanhol Mediapro) que tem “como objectivo reforçar a expressão pública e o relacionamento" da instituição, "assim como promover a marca e os produtos e serviços associados”.

Por sua vez, sobre as intenções do protocolo, o Porto Canal anuncia que “será chamado a assumir uma dimensão reforçada no panorama televisivo português, consolidando o trajecto de reforço da notoriedade, da relevância e das audiências que tem vindo a percorrer”.

A Media Lusa é uma empresa com experiência nas transmissões televisivas do futebol português, assegurando os meios técnicos para a totalidade das transmissões televisivas para os vários canais portugueses, SportTv, RTP, SIC e TVI.

“O acordo é o primeiro passo de um plano que permitirá o reforço dos canais de comunicação e marketing do FC Porto, nomeadamente a nível da televisão, novos media, e ferramentas sociais”, lê-se ainda no comunicado do FC Porto, que remete para data oportuna mais informações sobre o assunto.

Por sua vez, o Porto Canal refere que o acordo “assegurará o incremento de meios de comunicação ao dispor de uma das instituições mais importantes do País”.

03 março, 2011

Matar a Regionalização


Sob pena de fruir de uma candura já sem hipótese de redenção, ninguém se pode admirar pelo facto de José Sócrates ter enjeitado mais um dos seus múltiplos compromissos eleitorais.

Na verdade, é difícil recordar um só que tenha sido levado até ao fim - a regionalização, apesar de reiteradamente anunciada nos programas dos dois Governos socialistas, no fenecido PRACE, em comícios e em exibições "marketeiras" variadas, acabou por ter o triste fim de todas as demais declarações de intenções deste primeiro-ministro.

Servindo-se da boleia falaciosa da crise, que tudo quer desculpar (na premissa instalada de que fazer política se reduz à arte de tratar as pessoas como seres incapazes de raciocínio próprio), Sócrates voltou a dar o dito por não dito e disse que "não estão reunidas as condições" para cumprir a regionalização.

Só que não ficou por aí: na moção que leva ao Congresso deste PS tragicamente domesticado, Sócrates precipita-se num arremedo de medidas amalgamadas, sem amparo na Constituição e cujos efeitos redundariam em (ainda) mais centralização. Falo, sobretudo, na ideia de eleger directamente os líderes das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

A descentralização territorial, constituiu o modo mais idóneo de se adquirir um desenvolvimento homogéneo - até a Grécia, (pen)último reduto dos ideais centralistas, para poupar na despesa pública, regionalizou-se em Janeiro passado com o Plano Kallikratis.

Entre nós, a desigualdade mais gritante nos vários índices de riqueza e de massa crítica é a que existe entre uma faixa litoral de pouco mais de 50 quilómetros e o resto do País. E mesmo dentro dessa estreita cinta litoral, resistem discrepâncias assustadoras se compararmos os níveis de desenvolvimento da região de Lisboa (e até do Porto) com o que se passa em Setúbal, Viana do Castelo ou Leiria.

As medidas agora atabalhoadamente preconizadas por Sócrates têm o condão maligno de privilegiar as áreas mais apetrechadas e mais ricas, Lisboa e Porto, com os benefícios evidentes da descentralização, esquecendo, novamente, as restantes e, sobretudo, as necessidades pungentes do interior do País - zona que parece governamentalmente predestinada a remeter-se a lides de apascento de cabras, de turismo rural e num imenso eucaliptal, cada vez mais deserto de gente e de condições mínimas de desenvolvimento.

Sócrates, em 2007, fez cessar a "Reforma Relvas" em nome da futura regionalização - agora, reproduz vários dos seus aspectos mas retirando-lhes qualquer bondade descentralizadora.

Recordemos que as cinco CCDR já foram despidas de poderes e relevância e que foi proibida a eleição dos seus presidentes. Este chorrilho de medidas hoje ameaçadas por Sócrates irá extinguir a viabilidade do mapa das cinco regiões-plano e o projectado ensaio das regiões-piloto: nem o mais carunchoso centralista se atreveria a tanto...

Sejamos claros: Sócrates não se limitou a adiar a regionalização - caso avance o seu deplorável remendo de remodelação administrativa, liquidou o ensejo de se poder realizar uma reforma descentralizadora decente neste País, de longe, o mais obsessivamente centralizado do mundo civilizado.

[Carlos Abreu Amorim/DN]

Ponte de Entre os Rios cai pela segunda vez

Paulo Teixeira, presidente da Câmara de Castelo de Paiva à data da tragédia da ponte de Entre os Rios, vai apresentar amanhã um livro que escreveu sobre o assunto. Este livro pode ser considerado uma espécie de epitáfio da Regionalização, que o PS acaba de enterrar pela segunda vez com o silêncio cúmplice do PSD e o alívio do CDS.

A propósito do livro recordou Paulo Teixeira que recebeu em Castelo de Paiva 19 membros de dois governos, sendo que pelo menos dois deles lhe confessaram que nunca tinham ido ao Norte. (E atenção que para muita desta gente o Norte começa nas portagens de Alverca.)

Quanto mais depressa se voltava a pôr na agenda a questão da Regionalização, mais depressa os seus figadais inimigos arranjariam forma de abortar o tema. Na verdade, ao longo dos últimos meses políticos e não políticos de vários quadrantes fizeram um esforço para que o debate sobre esta reforma essencial para a modernização e desenvolvimento geral do país voltasse a ser discutida.

Como novidade em relação aos tempos anteriores de debate assistimos à entrada em cena de novos protagonistas, muitos deles antigos adversários convertidos à bondade do tema e também à introdução de novos argumentos que vieram colocar a questão da Regionalização completamente fora da velha disputa entre Porto e Lisboa.

Hoje em dia, ninguém minimamente informado considera que a Regionalização seja apenas mais um episódio da guerra de disputa do Poder entre as macrocefalias das áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa. É ponto assente que o que está claramente em discussão é uma melhor, mais eficaz e mais justa distribuição dos recursos nacionais pelo todo nacional que os gera. Também já ninguém minimamente sério vai na historieta de que a Regionalização é um paliativo para criar "mais tachos" e gastar mais dinheiro. Ainda há um ou outro "Velhinho do Restelo" como Medina Carreira, que são capazes de dizer que a Regionalização é apenas uma forma de gastar mais dinheiro público, mas isso é hoje visto como uma tolice a que já poucos ligam.

O verdadeiro problema que a Regionalização não consegue resolver (e por isso mesmo nunca mais a deixam avançar) é como é que é possível fazer uma reforma destas sem beliscar o Poder, os interesses financeiros e as mordomias dos senhores que vivem em Lisboa sentados à mesa do Orçamento.

[Manuel Serrão/JN]

02 março, 2011

Tão 'socratista' que ele está...


Pacheco Pereira segurou-se enquanto pôde. Agora, em pânico mal escondido, na cauda das doutas dicas de Pedro Santana Lopes e de Proença de Carvalho, receando que estes tempos do fim de Sócrates redundem numa vitória do PSD que não o ‘seu’, surge desastradamente a defender o ainda primeiro-ministro: “Se este governo conseguir manter a execução orçamental, acho preferível que continue até ao fim da legislatura”, garantiu o desolado ex-guru da liderança de Ferreira Leite.

Então, agora, inopinadamente, Pacheco Pereira já deseja Sócrates por mais 3 (três) anos? Já julga a sua governação minimamente decente, já a tem como “preferível” a uma mudança que prevê irremediavelmente “traumática“?

Pacheco Pereira parece confundido. Embaraça as conveniências do seu grupo com os interesses do partido e crê-os, os primeiros, sempre, como as únicas vantagens disponíveis para o País. Tragicamente ofuscado pelo sectarismo, avisa que “tem de haver uma razão fortíssima para o PSD participar em qualquer processo que implique a queda do governo”.

Pois tem – se calhar, essa “razão fortíssima” radica no modo como temos vindo a ser desgovernados nos últimos 6 anos. Ou na forma como este Governo nos tem enganado, martelando números e estatísticas, esfacelando as esperanças das gerações mais novas e desesperando todos os outros sem nunca mostrar competências mínimas naquilo que faz.

Pacheco Pereira sabe bem, mas não se importa, que este Governo é a crise dentro da crise. Que o maior trauma que este País pode continuar a sofrer é a manutenção deste primeiro-ministro de anúncio em anúncio e de mentira em mentira. Ao fazer as vezes de paladino de Sócrates, cinicamente, Pacheco Pereira inverteu novamente o símbolo do seu partido. A sua preocupação exclusiva centra-se nos pequeninos proveitos do seu pequeno cardume de aduladores – o País que se lixe, que fique com o Sócrates…

[Carlos Abreu Amorim, in Basfémias]

Regionalização outra vez

O secretário-geral do PS aproveitou o regaço que a reunião de tropas sempre concede para, no passado sábado, apresentar aos militantes e ao país a moção global que levará ao congresso em que será reeleito. O texto tem um sugestivo título - "Defender Portugal, Construir o Futuro", poderosas empreitadas que José Sócrates promete liderar. Devemos desejar-lhe boa sorte.

Defender Portugal e construir o futuro far-se-ão (se se fizerem...) sem regionalização, pelo menos até ao final desta legislatura (se lá chegarmos...). José Sócrates tentou fugir do tema como o diabo foge da cruz, mas, lá pelo meio, acabou por dizer que não estão reunidas as condições para avançar com a reforma que prometera, cheio de pujança, quando se candidatou a um segundo mandato como primeiro-ministro.

Justificação aduzida: "Neste momento, as circunstâncias económicas e políticas - em boa parte dada a recusa do PSD em avançar efectivamente para a regionalização - não favorecem, de todo, este movimento. Ignorá-lo seria um sinal de falta de lucidez, que poderia conduzir à derrota definitiva da regionalização".

Isto cola? Não cola. Se é verdade que o argumento da crise económica e financeira deve ser devidamente ponderado (é discutível se meter um tema como a regionalização no meio do desarranjo do país não pode ter mais custos do que benefícios políticios), já não é verdade que a actual posição do PSD seja obstáculo de monta. A nova direcção social-democrata quer avançar com uma região-piloto (em princípio, o Algarve) para testar os efeitos da regionalização. Pode discutir-se se o teste não deve ser feito nas cinco regiões, pode discutir-se tudo e mais alguma coisa, mas não pode discutir-se a abertura do PSD.

Mais: sendo evidente que a região-piloto rapidamente provaria a sua eficácia em relação ao que hoje existe, dar-se-ia um passo importante para referendar a regionalização.

De modo que tudo não passa de conversa fiada. O que o PS verdadeiramente não quer é correr o risco de sofrer, a meio de uma legislatura tão complicada, uma derrota nas urnas, caso a regionalização fosse de novo rejeitada. O que o PS verdadeiramente não quer é alinhar com o PSD para, de uma vez por todas, desembaraçar o nó que os dois partidos criaram, quando pateticamente instituíram o duplo referendo (ao modelo concreto, por um lado, e ao mapa das regiões, por outro). Essas são as razões para o novo posicionamento táctico dos socialistas. Os mesmos que desejam defender Portugal e construir o futuro.

[Paulo Ferreira/JN]

01 março, 2011

Burocratas, fora da capital!

O que as pessoas realmente querem não é conhecimento mas certeza e, certamente por isso, comentadores ilustres, seguindo, literalmente, o pensamento de Bertrand Russell e imaginando-se como ele matemáticos geniais, divertem-se (e divertem-nos) a dar opiniões com a firmeza de axiomas. Não precisam de apresentar premissas nem sequer de estabelecer uma argumentação básica. Como Medina Carreira no i de ontem, ao proclamar (afirmar é pouco) que "a regionalização é uma forma de gastar dinheiro". O antigo ministro das Finanças assume, neste como noutros assuntos, uma posição dogmática, filiada no facto de, segundo ele, em Portugal haver "uma cambada de burocratas a quem a regionalização serviria muito bem". Mas, na sua fúria fundamentalista, o notável observador acaba por indicar o caminho: tirar os burocratas da capital, por ser aí que a esmagadora maioria está sedeada, graças a um centralismo que sangra e mirra o país.

Gostaria de ver brilhantes analistas a fazer proclamações, de Bragança ou Portalegre, Melgaço ou Lagos, contra as duas faces da mesma moeda que são o PS e o PSD, os quais, desde Francisco Sá-Carneiro, têm andado a desenterrar e enterrar a regionalização e outras coisas, ciosos de uma prioridade: manter o poder segurando bem a gamela. Não importa que, conforme dá jeito, se distorçam os PIDDAC e os QREN, se consolide a desertificação, se opte por um TGV para a Europa que conta. Este Portugal cada vez conta menos e os portugueses que o sentem já não precisam de ir a salto como antigamente. Nem necessitam de um comboio de alta velocidade. Vão, e deixam os centralistas a acabar de destruir a terra lusitana.


Alfredo Barbosa
Docente da
Universidade Fernando Pessoa
[Fonte: Jornal i]

27 fevereiro, 2011

Povo burro

Custa-me afirmá-lo, porque também nasci em Portugal, mas o povo deste país sofre mesmo de um baixíssimo quociente de inteligência. Este povo ainda não percebeu que não lhe vale de muito imitar a chico-espertice da classe política porque nunca poderá contar com o mesmo protectorado do Estado, nem tão pouco com a defesa de advogados caros. Este é um povo burro e com a dignidade dos vermes, caso contrário nunca Sócrates teria na vida sido 1º. Ministro, nem Cavaco, Presidente da República.

Temos o que merecemos?  Talvez alguns tenham, não todos. Eu, pelo menos - desculpem-me descartar-me das multidões -, não tenho, porque nunca dei [nem darei] o meu voto de confiança a este tipo de protagonistas. E orgulho-me muito disso, ainda que pouco possa fazer com esse orgulho para alterar o rumo da realidade, que é o que mais me deixa frustrado.

Sócrates, um mentiroso compulsivo, não se cansa de espalhar as provas da aversão que tem pelo rigor, e pela honra e, contudo, mantem-se no Poder, "cheio" de optimismo... Ontem, deu mais uma cambalhota de 180º às promessas que fez no passado remoto e recente para impingir ao povo do Norte mais uma desculpa básica para renunciar à reforma administrativa do Estado, que é como quem diz, à Regionalização, alegando a sempre "utilitária" crise. É uma peta antiga, infantil, mas para um povo sem brio nem orgulho como o nosso, a peta ainda pega. Isto explica de per si o total descaramento, a completa falta de respeito que os políticos demonstram pelos eleitores e Sócrates não será seguramente o último. Outros se lhe seguirão, vão ver. No horizonte político não se vislumbra ninguém com capacidade para inverter esta tendência, com a agravante de o "exemplo" ser copiado por uma classe empresarial arcaica e oportunista.

Como eu gostava de viver num Norte Unido, que fosse capaz de se organizar e de lançar ao mais profundo desprezo os próximos actos eleitorais, deixando completamente  vazias as urnas de voto.  É isso mesmo. Sou um sonhador, eu sei, mas pela minha parte garanto-vos que farei desse sonho realidade.

Ah, pois...há o Movimento Pró Partido do Norte. A esse irei acompanhá-lo e apoiá-lo até ao fim. Depois, veremos se tenho ou não razão...

26 fevereiro, 2011

PARA QUÊ REGIONALIZAR O QUE JÁ ESTÁ “REGIONALIZADO”?

Mário Dorminsky

Ainda pensei que, por ser Inverno, tivesse sido assaltado por uma febre súbita. Mas voltei a ler a notícia e não: estava lá. Houve mesmo quem propusesse que a região-piloto (a eventual rampa do processo de Regionalização) fosse em Lisboa(!) e há um mês falou-se no Algarve…em tempos de Fantas, valerá a pena dizer que tais ideias são “fantásticas”!

Como é que se pode “gozar” com um tema tão sério e importante como este? Se fosse o Minho e Grande Porto, áreas que integram a região “mais pobre da Europa”, aí sim, notar-se-ia coragem e vontade dos nossos governantes de levar para a frente este, que para mim é um desígnio nacional mas…este Norte continua (e continuará infelizmente por alguns anos mais…) a ser qualquer “coisa” residual para este país minúsculo a que se chama “Lisboa”.

Ironia e sarcasmo de parte, esta introdução serve-me apenas para ponderar muito seriamente sobre a existência de uma corrente ideologicamente bem preparada, que não consegue vislumbrar soluções politicas e orgânicas para o Pais que não aquelas que centralizam, como disse, todo o Poder na capital.

E pergunto-me se ainda vale a pena continuar a explicar, tal como se explica a uma criança de cinco anos, que o Centralismo coloca toda a máquina do Estado num único local, que o Poder faz convergir para esse local todos os centros de decisão, sejam eles públicos ou privados e que isso é desastroso para o País.

Basta ver que mais de metade dos fundos comunitários continuam a convergir para Lisboa e que o rendimento per capita de um cidadão da Grande Lisboa é, na maioria dos casos, quase mais um terço que no resto do Pais.

Três décadas depois de implantada a Democracia, custa-me que o velho jargão do antigo e caduco regime ainda esteja na ponta da língua dos que desabafam as agruras no Porto, Bragança, Castelo Branco, Beja ou Faro: Lisboa é cidade e o resto é a tal “paisagem”.

O problema é que ainda por cima é uma “paisagem” que definha continuamente. Enquanto se perora sobre as virtualidade do TGV (tê-las-á, mas falta-nos dinheiro e estratégia séria para também ter palavra sobre o tema), fechou mais uma fundamental estrutura de saúde pública em zona deprimida: Celorico de Basto. O Serviço de Atendimento Permanente (SAP) agora encerrado não servia apenas aquele concelho, será importante referir.

Os critérios meramente economicistas de hoje (que poupam uns euritos para se enganar os critérios públicos das Finanças) vão ser caríssimos para a sociedade no futuro próximo. Na realidade, aqui pelo Norte e por outras regiões já o estamos a pagar...

Não fazer a Regionalização é continuar a pôr mais de metade dos Portugueses a pagar as facturas dos restantes. É travar o desenvolvimento e acentuar assimetrias. Não regionalizar é continuar a permitir o envelhecimento das comunidades e a desertificação interior e até do Norte em geral.

Por isso, dizer que Portugal não pode gastar agora dinheiro a reciclar o regime é enganar as pessoas, é mentir aos cidadãos. O País – este regime – tem é de ser reciclado. A Democracia tem que melhorar as suas ferramentas ao nível da cidadania. E uma delas é, indubitavelmente, a Regionalização.