12 novembro, 2012

Isto já cheira mal

Ainda a propósito das irreflectidas declarações de Isabel Jonet, o director do JN, Manuel Tavares decidiu tomar as dores da senhora,  e apelidar de  iluminadas as milhares de pessoas que neste momento estão sem emprego e sofrem na pele as consequências da austeridade. Fê-lo contudo, enveredando pelos mesmos caminhos levianos da protegida, sem parar um segundo para pensar no impacto que uma frase mal apresentada pode ter neste momento na cabeça daqueles que passam por imensas dificuldades. Para o director do JN, os contestatários não passam de: «iluminados que recusam sempre dar esmola aos pobres para não desresponsabilizar o Estado das suas obrigações constitucionais, mas que ao mesmo tempo dão sempre gorjeta aos arrumadores com medo que lhe risquem o automóvel». 

Foram conclusões próprias de quem tem de si mesmo uma visão suprema da psicologia humana, como se a voz do povo fosse pertença sua. Mas, devo dizer que a expressão entre aspas acima apresentada por Manuel Tavares deve ser fruto de algum resquício do tempo em que militou no Partido Comunista. É que eu, fui um desses "iluminados", e recuso-me a enfiar a carapuça, por duas simples razões:  primeiro,  porque as esmolas, são de facto típicas dos países subdesenvolvidos que servem muitas vezes para mascarar o egoísmo das sociedades e de alguns daqueles que supostamente a "praticam", e para branquearem obscuras negociatas. Duarte Lima, fazia questão de exibir em igrejas o seu amor pela música sacra, e no entanto, não passava de um assassino e um grande ladrão. As senhoras do antigo MNF (Movimento Nacional Femenino) também pertenciam a uma mera associação de "tias", criada para encobrir a discriminação social e apoiar as guerras coloniais no Estado Novo. Portanto, estas coisas valem o que valem. Em segundo lugar, porque eu não só não dou gorjetas aos arrumadores, como os enfrento se ousarem ameaçar-me. E por último, a questão de ajudar ou não um mendigo, depende muitas vezes da impressão que o mesmo me causar. Se o suposto mendigo me parecer genuíno ajudo, e com vontade. Se me parecer um pequeno mafioso, passo. Pode não ser um hábito muito justo, mas não tenho outras fontes de informação sobre desconhecidos que não as fornecidas pela aparência. Aliás, não há razão para espantos, porque tem sido assim que os portugueses têm escolhido quem os tem (des) governado. Pelas aparências... Ou não será assim?

Não quero terminar este já fétido tema, sem antes acrescentar o seguinte: pessoas com cargos de alta responsabilidade cívica e social, têm o dever de perceber melhor que ninguém a situação de desespero em que muitos portugueses se encontram. Por isso, quando se fazem declarações relacionadas com a austeridade, ou se explica muito bem o extracto social a que queremos referir-nos, ou então sujeitámo-nos ao triste papel da senhora Isabel Jonet. Sobretudo, depois de ouvirmos gente que não abdica um cêntimo dos seus luxos e mordomias, como os Borges, os Ulrichs e os Cavacos. É isso que o director do JN parece não ter capacidade para entender: a revolta que declarações generalizadas do tipo das proferidas pela madame Jonet provocam no actual contexto de pobreza e desemprego que se vive no país, situação essa que infelizmente não a abalam muito a ela, nem ao próprio. 

A tal gente cuja "missão única na Terra é desconfiar de tudo e de todos", só tem motivos para acentuar os níveis de desconfiança. Outra coisa não sugerem os exemplos passados e recentes dos governantes e do próprio jornalismo... Talvez o Sr. Manuel Tavares tenha uma boa argumentação escondida para justificar as 4 páginas diárias de publicidade que o JN faz à prostituição e à oferta de empregos desonestos, já que tanto se incomoda com as reacções justas do povo. Por falar nisto, vou repensar se devo ou não contemporizar o JN e o seu director, pelo facto de este "iluminado" ter andado a contribuir há muitos anos para o seu ganha pão...

09 novembro, 2012

Isabel Jonet, a néscia

Isabel Jonet está debaixo de fogo
Mais uma, a imitar o Ulrich e o Borges. Que medíocres!
Bem, vamos lá ver se colocamos os pontos nos "is". As nossas elites devem ter enlouquecido completamente. Acho mesmo que conseguiram contagiar-me, porque isto de tratar como elites  um grupo de cromos, incultos e incompetentes com salários e responsabilidades  imerecidas, pode já ser um sinal de senilidade. Tenho de me cuidar... O melhor remédio é passar a chamar-lhes merdas, que é a fatiota que melhor lhes assenta. 

Primeiro, obrigam-nos a pagar uma dívida monstruosa sem sequer nos explicarem onde, quando e como a contraímos, e depois ainda se dão à petulância de fazerem de nós parvos.

A patética, a atrasada mental,  presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, devia ser imediatamente despedida e proibida de abrir a boca antes de provocar algum ataque de loucura no povo. Mais. Deviam-lhe retirar todos os salários e as regalias e pô-la a viver a partir de agora do RSI, para se lembrar que não passa de uma simples mortal que um dia a terra há-de comer e apodrecer como uma merda que efectivamente é! Se é doida, então que se vá tratar! Isto, aplica-se igualmente a toda a tropa fandanga que anda a proferir [e fazer] barbaridades do mesmo jaez por tudo quando é canal de tv, talvez para ver se nos colocam depressa na idade da pedra.

Prendam-nos, ponham-nos a pão e água! Cretinos! Imbecis! Fascistas! Ó Otelo, porque é que só ameaçaste, por que é que não os mandaste mesmo para o Campo Pequeno? Estás a ver o resultado?

Podem ler a notícia aqui.  Depois, sugiro que vomitem.

PS-Peço desculpa aos leitores pelo vocabulário, mas é assim mesmo que vejo esta garotada. 

08 novembro, 2012

Traição à moda de Nuno Miguel Maia

Já aqui abordei há uns tempos o tema. Aparentemente, pode tratar-se de alguma "confusão" que se instalou na sociedade portuguesa [de modo particularmente acentuado depois do 25 de Abril], entre o significado das palavras traição e bufonaria. Volto hoje de novo ao assunto, "inspirado" por uma notícia do jornalista Nuno Miguel Maia publicada no JN, cujo título, em letras garrafais, rezava assim:  "COLEGAS E ESCUTAS TRAÍRAM GNR CORRUPTOS". Logo mais abaixo, em subtítulo, prosseguia: "Os 4 militares da GNR presos pela PJ por suspeitas de corrupção foram traídos pelos colegas, que os denunciaram, e por escutas telefónicas, das quais decorrem indícios de terem recebido "luvas" de chineses" (sic). 

O referido jornalista, que já se celebrizou negativamente pela forma pouco criteriosa como publicou certas notícias, parece querer ver as coisas ao contrário. Quando foi da caça às bruxas montada pela comunicação social centralista a Pinto da Costa, que despoletou o miserável processo "Apito Dourado", este mesmo rapazinho - que presumo ser do Porto - não se coibiu de copiar o mesmo tipo de difamações que os pasquins de Lisboa publicavam sobre o presidente portista, que como todos estamos lembrados, foram inqualificáveis. Deve pois tratar-se de um daqueles espécimes que abundam no nosso país, que andam a colocar a reputação dos verdadeiros jornalistas numa situação vergonhosa. Adiante.

Se consultarmos um bom dicionário de português verificaremos que o significado da palavra traição quer dizer: acto desleal, perfídia, aleivosia, infedilidade, emboscada, etc. Ora, voltando à notícia do JN, salvo melhor interpretação, traidores não foram os colegas que denunciaram os GNR's corruptos, como foi publicado, mas foram, isso sim, estes últimos, que traíram a instituição à qual juraram servir com honra e lealdade. Além disso, traíram os próprios colegas sérios. Esta inversão de valores é recorrente a este nível de jornalismo, e explica em parte o abandalhamento a que hoje chegaram muitos profissionais da comunicação social. Lamentavelmente, mesmo aqueles [poucos] jornalistas mais rigorosos, não têm feito nada de verdadeiramente importante para se demarcarem desses que andam a enxovar-lhes a profissão. Este laxismo só pode dever-se a duas coisas: ou é por corporativismo irresponsável, ou por medo de represálias [o que não deixa de ser uma cobardia]. Às tantas, os tais bons elementos, também pensam que denunciar colegas maus profissionais pode ser interpretado como um acto de traição, ou de bufonaria...

A propósito, vejamos agora também o que diz o dicionário Augusto Moreno sobre bufo: acção de bufar, homem avarento ou misantropo, polícia secreta, beleguim, burlesco. Como facilmente se conclui, esta palavra pouco tem a ver com a outra (traição), mas a qualificação que erradamente lhe querem dar, é a de um sinónimo, o que, diga-se de passagem, em nada abona a instrução do (bom) jornalismo.

Se juntarmos a este "magnífico" exemplo de como não deve fazer-se jornalismo aquilo que todos os dias vemos nos jornais desportivos e nos próprios programas do mesmo tipo, onde é privilegiado de uma forma descarada [sim senhor Presidente da República & Companhia] o Benfica, remetendo para segundo plano o FCPorto, que nos últimos 30 anos superou o clube lisboeta em número de títulos, tanto dentro de portas como internacionalmente, teremos o retrato completo do verdadeiro nível de jornalismo que hoje se faz em Portugal. E os (bons) jornalistas consentem, porque calam.

Como querem que os portugueses acreditem no futuro de um país, com gente tão ordinária?

07 novembro, 2012

Crónica de Manuel Serrão. A não perder.


De quem o Porto não precisa

Publicado às 00.20

 
O Porto não precisa de políticos que só estariam disponíveis para combater por ele em fim de carreira, dr. Rangel! Ainda o país não descobriu como e onde vai cortar os fatídicos 4 mil milhões, que pelos vistos nos separam de mais uma grande classificação na "escola" da Europa e já as próximas eleições autárquicas no Porto estão na ordem do dia. E ao rubro!

A primeira coisa que se discute é se já é tempo para discutir. Claro que é! Para um portuense que se preze, discutir o futuro da sua cidade está sempre a tempo e vem sempre a horas.

Por um lado, mais vale tarde do que nunca, em relação às questões e problemas que se vêm arrastando com os anos, como é o caso, por exemplo, da perda de importância da cidade e dos seus protagonistas nos contextos nacional e internacional.

Por outro lado, nunca é cedo de mais para pôr em cima da mesa questões estruturais que possam alavancar o futuro, como pode vir a ser o caso da fusão do Porto com Gaia.

Sem menosprezar o excelente trabalho contabilístico dos últimos anos (e também sem reduzir a esta dimensão as únicas mais-valias dos atuais e anteriores responsáveis autárquicos do Porto) a nossa cidade precisa de mais e melhor. Diria, até, de muito mais e muito melhor.

Quem pensa assim não pode achar que falta muito tempo para as eleições municipais de 2013 e não pode defender que o lançamento de discussões deste cariz são intempestivas.

Como me parece descabido agitar fantasmas como o despesismo, numa cidade que conheceu os melhores anos da sua história recente, quando Fernando Gomes soube pôr ao serviço do desenvolvimento do Porto o "pé de meia" que Fernando Cabral juntara, mais por falta de engenho e visão, que por cálculos contabilísticos.

Acontece que ainda existe mais uma razão ponderosa que recomenda que se abram cedo estas hostilidades no Porto. A lei de limitação de mandatos (que já tem quase mais "pais" do que artigos) precisa de ser clarificada de uma vez por todas. Não que a mim me ofereça alguma dúvida (sendo eu, aliás, contra uma lei que considero uma entorse à democracia autárquica), mas porque já foram publicitados tão "doutos" pareceres sobre as suas possíveis interpretações, que não seria de estranhar que um qualquer juiz viesse a aceitar discutir a coisa em tribunal uns dias antes das eleições. Com as consequências inerentes.

Como até parece que a clarificação desta lei de limitação de mandatos só interessa no caso do Porto (e para já só à anunciada candidatura de Luís Filipe Menezes) nada melhor do que iniciar atempadamente esta discussão para ver se ela acaba em tempo útil.

No terreno já temos o ainda presidente da Câmara de Gaia e Manuel Pizarro pelos socialistas. Era bom que a eles se juntassem todos aqueles que se andam a insinuar e a pôr a jeito, ou a pedir que os candidatem, porque esta discussão só ganha em se alargar.

Como aqui já escrevi em tempos que já lá vão, o Porto precisa de gente para quem o Porto seja bastante. De candidatos que sintam e amem o Porto, mas que não se deixem ficar nessa contemplação amorosa, afirmando ideias novas e interessando-se por uma cidade que não tenha como principal objetivo ser a miss Simpatia num concurso nacional.

Praticamente vencida a "guerra" das obras, o Porto precisa de candidatos disponíveis para se bater por ele e pelas suas gentes, nas guerras de defesa dos seus interesses, que não param de ser atacados. A crise, tenha ela a dimensão que tiver, agora ou no futuro, não pode continuar a servir de desculpa para capitulações perante o Poder Central, seja na questão do aeroporto, seja na constante mudança para a capital dos principais centros de decisão públicos e privados.

Do que o Porto não precisa, caro Paulo Rangel, é de gente que só se interessaria por ele em fim de carreira. Carreira essa, a sua, que, no que dependesse de mim, teria acabado no dia em que um político do Porto, eleito pelo Porto, prestou tais declarações.

Nota do RoP:
Por manifesta falta de tempo, só agora me foi possível publicar este oportuno artigo de Manuel Serrão, que considero bem contundente, e realista. 

06 novembro, 2012

Força Marinho! Que a verdade não te canse!

   
  • António Marinho Pinto

05 novembro, 2012

Que comichões andas a provocar Marinho! Não sei como ainda não tens a cabeça a prémio...


Tapar o sol com a peneira

 
A empresa Águas de Barcelos (AdB) publicou na sexta-feira passada, aqui no JN, ao abrigo do Direito de Resposta, um texto onde pretende pôr em causa a minha crónica de 24 de setembro, sobre a decisão de um "tribunal" arbitral de Lisboa que tinha condenado, em janeiro deste ano, o Município de Barcelos a pagar-lhe mais de 170 milhões de euros como compensação por os habitantes do concelho terem cometido o despautério de não consumirem os irrealistas volumes de água que essa empresa e o município haviam estabelecido em 2004.

O Direito de Resposta da AdB mais não é do que uma tentativa de tapar o sol com a peneira, procurando desviar as atenções do essencial (uma indemnização superior a 170 milhões de euros sem convincente fundamentação jurídica) para o acessório, ou seja, para aquilo que não constituía o cerne da minha crónica. A AdB diz, por exemplo, que os honorários dos senhores "juízes" arbitrais "não totalizaram o valor indicado" superior a 500 mil euros. Não, de facto o valor dos honorários foi "apenas" de 474 246,00 euros a que acresceu o IVA à taxa de 23%, ou seja, totalizaram na verdade um montante de 583 322,58 euros que as partes tiveram de pagar.

A empresa diz ainda que "não cobra qualquer aluguer de contadores" mas sim uma "tarifa de disponibilidade". Aceito. Não sei se o investimento da AdB foi muito grande como diz. O que sei é que uma parte significativa da rede de saneamento não funciona devido à não existência das respetivas estações de tratamento (ETAR) que estão previstas no plano de investimentos mas que não foram executadas.

Mas onde a posição da Águas de Barcelos se torna mais insustentável é ao tentar justificar um tarifário totalmente desfasado da realidade com base no qual obteve uma indemnização superior a 170 milhões. Diz a empresa no seu texto de resposta que o consumo de água por habitante foi fixado, em 2004, pela Câmara de Barcelos, tendo, alegadamente, em conta o histórico de consumos do concelho. Mas que histórico é esse que permitiu previsões que nunca se aproximaram da realidade e que em 2008 previam consumos de água quase 60% superiores aos que na realidade se verificaram? Quem fez os estudos que serviram de base a essas previsões completamente loucas? Ou se tratou de um erro grosseiro ou de uma alteração superveniente das circunstâncias ou então de uma moscambilha semelhante a muitas outras celebradas entre certos políticos e certos empresários à custa do erário público.

De qualquer forma, um tribunal digno desse nome, ao apreciar esse contrato, teria de aplicar, pelo menos, o regime do erro sobre as circunstâncias que constituíram a base do negócio (artigo 252.0º do Código Civil) ou então determinar a sua resolução ou a sua modificação segundo juízos de equidade conforme estatui o artigo 437.0º do mesmo código. Condenar uma parte a pagar à outra, integralmente, durante 30 anos, a diferença entre os consumos realmente verificados e os consumos errados que foram levianamente previstos não é um ato de justiça, mas sim um diktat totalmente à margem do Direito. Só assim, ou então com tarifários como os de Paços de Ferreira, é que se compreendem os lucros usurários de certas empresas.

Convém frisar, porém, que as projeções de consumos que integram o célebre "Caso Base" foram efetuadas depois da adjudicação provisória e que há uma ata em que as partes aceitam que esse "Caso Base" seja elaborado pela parte privada. De qualquer forma aquelas projeções não tiveram por base os consumos de água por habitante indicados pelo Município de Barcelos, pois esses consumos eram, à data em que foi feita a concessão, semelhantes aos que ainda hoje se verificam. Se as projeções tivessem por base os consumos reais nunca se teria verificado o erro colossal que serviu de pretexto para uma indemnização não menos colossal.

Por fim, espero que a AdB transcreva publicamente a norma do Estatuto da Ordem dos Advogados (EOA) que impede o seu bastonário de comentar um processo findo ou uma sentença transitada em julgado. Eu sei que as arbitragens, sobretudo em certos negócios público-privados, só funcionam bem em segredo ou mesmo na clandestinidade. Mas não contem com o silêncio da Ordem dos Advogados.

03 novembro, 2012

Quero mais!

VarelaGol
Ontem, os portistas que tiveram o privilégio de se deslocar ao Estádio do Dragão, não viram ópera, nem ballet,  não senhor [como costumam dizer os adeptos mais tolerantes aos que reclamam maior empenho da equipa], viram futebol do melhor, como há muito não se via naquele maravilhoso espaço. É para isso que servem os estádios de futebol. Para assistir a ópera ou a ballet existem o Scala em Milão e o L´Opera de Paris.

A noite de ontem é para louvar e recordar, nem deixou lugar para criticas, porque os jogadores desta vez praticaram um futebol de alta qualidade a lembrar a espaços o fabuloso tic-tac do Barcelona. Como tudo parece simples, quando os jogadores entram concentrados e com evidente vontade de jogar! Ontem, os adeptos não passaram pelo calvário de outros jogos porque a equipa não afrouxou logo após o primeiro golo, continuou a trocar a bola com clarividência com passes muito bem medidos e deslocações inteligentes deleitando o ego dos espectadores. Se o Victor Pereira for capaz de os convencer a repetir a gracinha, com mais regularidade, não só podemos estar a construir uma grande equipa, como a assistir à  derradeira afirmação de mais um grande treinador. Nem o facto do FCPorto ter jogado contra uma equipa de categoria inferior deslustra a boa exibição e o  resultado volumoso, porque é assim, se não com o mesmo brilho, ao menos com igual empenho, que os jogadores devem procurar jogar, qualquer que seja o adversário.  

Como andamos há muito tempo a assistir a exibições intermitentes, é natural que sintamos necessidade de mais alguns jogos desta categoria para assimilarmos a convicção de que a equipa se está realmente a consolidar, e a  liderança de Victor Pereira também.

No jogo de ontem tive a prova daquilo que sempre pensei sobre o futebol: as qualidades técnicas individuais dos jogadores são muito mais evidentes e produtivas quando a equipa joga enquanto tal. Como uma equipa. Falar da bomba em arco de Silvestre Varela, já se falou. Da jogada soberba que originou o 1º. golo de Jackson também. E do jogão produzido por esse magnífico jogador que é James Rodriguez, idem aspas.

Ontem, todos foram uns verdadeiros craques! E o Victor Pereira também. Só espero, é que tudo o que vimos [e gostamos], seja o início de uma grande temporada. Vamos lá Victor,  impõe-te de vez!

PS-Já sei que nem sempre podemos ter ballet, mas ontem vimos futebol [que não lhe fica atrás]... 

PS-1-Faltou-me falar do mau estado do relvado que talvez possa ter estado na origem das lesões de Fernando, Maicon e Lucho. Recordo-me que quando li que o relvado ia ser substituído por uma empresa portuguesa ter pensado: oxalá não se arrependam... Se a memória não me falha a empresa que fez o trabalho anterior era, creio que holandesa. Urge reparar este problema, caso contrário podemos aumentar a lista de lesionados.
  

02 novembro, 2012

Justiça para os pobres, prescrição para os ricos

Já terão notado que sou leitor regular do JN e que não me privo de fazer críticas à sua política editorial e a algumas cronicas que lá são publicadas. Além disso, não gosto muito de ler aquelas páginas das rubricas relacionadas com a "Polícia" e a "Segurança", sobretudo agora que o país atingiu sem dúvida o ponto mais alto da ingovernabilidade, desde que me conheço. Mas também é verdade [e os leitores são disso testemunhas], que publico imensas crónicas de variados articulistas, mesmo daqueles a quem pontualmente critiquei, o que significa que procuro ser justo em ambos os casos. Li durante alguns anos o jornal "Público", porque gostava mais do formato e da qualidade dos cronistas que lá colaboravam, e dos próprios jornalistas. Só deixei de o ler, quando comecei a dar-me conta que, sendo o Público um jornal com sede e propriedade no Porto, pouco escrevia sobre a nossa cidade. O Jornal de Notícias, apesar de algumas desconexões com a ética [promove diariamente a prostituição] e com a defesa do Norte, sempre lhe dedica mais espaço. Daí a minha preferência.

A circunstância de não gostar de ler as páginas das desgraças nos jornais, não invalida a sua importância,  até porque é também através delas que podemos medir o nível de estabilidade económica e social do país, facto que o Governo, pelo que se vê, irá continuar a ignorar, enquanto nenhum dos seus elementos sofrer directamente e na pele as suas consequências... Foi precisamente numa dessas páginas, que após ter lido o caso de uma mulher detida por assaltos a agências bancárias [com uma pistola de plástico], desempregada, mãe de família, e com grandes dificuldades financeiras, que me lembrei de outra classe de marginais, muito mais perigosos e com elevado estatuto de responsabilidade pública, que continuam a "penar" no aconchego das suas faustosas residências [dentro e fora do país] com a "condescendência" da Justiça, e como esta vai ser seguramente célere e implacável com a inofensiva "Viúva Negra" para mostrar ao mundo dos pacóvios que ninguém brinca com a Lei. Mas, brinca, senhores magistrados, nas vossas barbas, e V. Exas. permitem-no [o que não os honra em nada] !

Gostava mesmo, era de ver igual empenho e rapidez, no julgamento dos casos BPN, Portucale, Submarinos, Freeport, Magalhães, Face Oculta, Duarte Lima, Vale e Azevedo, Dias Loureiro, e tantos outros similares, para poder finalmente acreditar que existe efectivamente um JUSTIÇA igual para todos em Portugal. Mas para isso, seria fundamental investigar e julgar [em caso disso]  todas as pessoas envolvidas nestes processos e suspeitas, com sanções proporcionais aos respectivos crimes, aos seus estatutos sociais e políticos, usando exemplarmente de discriminação negativa, dado os lugares de altíssima responsabilidade que ocupam [e ocuparam]. 

Será que algum dia os portugueses terão uma Justiça alheia ao estatuto social dos arguidos? Eu duvido, mas talvez.... Só que antes seria imprescindível desparasitar muito bem os anti-corpos que minam a sociedade portuguesa de alto a baixo. Mas para que tal empreitada venha a ter sucesso, o recurso à força é quiçá a única solução, porque este modelo de democracia, como é público e notório, ninguém respeita, mas as armas sim. Infelizmente, sou levado a acreditar nessa opção, ainda que preferisse métodos genuinamente democráticos. 
   

31 outubro, 2012

O Dragão de Honra, Pinto da Costa e Durão Barroso

Sobre a hipocrisia, que, dependendo dos casos, tão proveito faz a uns, e mais prejuízo provoca a outros, vou aqui recordar um episódio ocorrido num pub da Foz, já lá vão uns anitos, onde me encontrei com um grupo de amigos [e amigas] para beber um copo.

A determinada altura do convívio, um fulano, visivelmente embriagado, abordou a nossa mesa, e com a descontracção típica dos copofónicos, dirigiu-se a um dos meus amigos e disse-lhe: "não vou com a sua cara, não gosto de si"!   Como podem imaginar ficámos atónitos com tanta "sinceridade", mas não pudemos evitar um certo constrangimento que foi prontamente sanado com a intervenção sensata e oportuna do barman que nos disse baixinho: peço-lhes desculpa pelo incómodo, mas este senhor é o meu patrão. Não liguem.   Entretanto, o homem lá se afastou e o incidente morreu ali mesmo. Escusado será dizer que nunca mais lá voltamos, não é...

Esta cena veio-me à memória quando tentava descobrir o que motiva a falsidade de certas pessoas nas suas relações com os outros, e cheguei à conclusão que além do binómio simpatia/antipatia que todos nós sentimos naturalmente por alguém, existe um outro bem mais mesquinho, que é o interesse e o desinteresse. Para sermos cordeais e bem educados com estranhos também não precisamos de ser extremistas e seguir o exemplo de "frontalidade e boa educação" do homem do bar, porque há coisas que não se devem dizer, principalmente se não conhecemos bem a pessoa que temos pela frente. Já me sucedeu algumas vezes [poucas, é certo] antipatizar com pessoas que vieram a revelar-se excepcionais, e o contrário também, embora deva dizer que o instinto raramente me traiu . Por isso, nada de exageros. 

Mas foi a entrega do Dragão de Honra a Durão Barroso por Pinto da Costa que me incomodou e inspirou para a história que vos contei.  É que, em certos aspectos, não tenho nenhuma afinidade com Pinto da Costa, embora o admire em muitos outros. Pessoalmente, não fui capaz de encontrar uma razão plausível e de justa objectividade para ele, ou se preferirem, para o FCPorto, brindar Durão Barroso, um ex-1º.Ministro banal, que abandonou literalmente o cargo para ir ocupar outro mais atractivo na União Europeia. Dir-me-ão que não trocou um cargo importante por outro qualquer, é verdade. E daí? É assim que se credibiliza a responsabilidade política? E o que é que os portugueses ganharam com isso? Prestígio? Não, está claro!. Se prestígio houve, foi para ele, mas não deixa de ser um prestígio meramente formal, de fachada, sem qualquer benefício prático para nós ou para a própria União Europeia, excepto para Angela Merkel, a quem obedece com invulgar fidelidade... Prestígio, quem o teve - porque soube fazer por merecê-lo - foi Jacques Delors, que teve um papel fundamental na realização do Tratado de Mastricht que esteve na origem da actual União Europeia, e que agora está, como sabemos, sob a presidência de Barroso...  

Mas voltando a Pinto da Costa, que é bem mais importante. Eu não gostei do que vi, é verdade, mas eu não tenho o mesmo temperamento que ele, nem a mesma aptidão para negociar adversidades. Ele tem-na, e nisso supera qualquer um, tanto cá dentro como no estrangeiro. Todavia, continuo a pensar que, depois dos vexames públicos a que foi submetido, com a comunicação social em coro a perseguí-lo, a acusá-lo de toda a espécie de ilegalidades, sem que se ouvisse claramente da parte dos governantes uma palavra de repúdio contra a situação, achei despropositada a ideia de distinguir Durão Barroso, só porque esteve presente nas finais de Sevilha e Gelsenkirchen. Vejamos:  não terá sido antes Durão Barroso que procurou colar a sua imagem à carreira de sucesso de FCPorto, ou terá sido por simples respeito ao clube e a Pinto da Costa? Por que não apareceu ele então quando o presidente portista foi tratado abaixo de cão? São estas "tolerâncias" de Pinto da Costa que me fazem impressão.

É claramente neste tipo de terreno, meio pantanoso, que PC se mexe como poucos. No fundo, é próprio de alguém com um enorme talento para se adaptar a uma sociedade cínica, que não valoriza a frontalidade, que hoje abraça e amanhã já está a enganar, que explica em parte o seu êxito como dirigente supremo do FCPorto. Ele tem a perfeita noção de que, para atenuar tensões e ultrapassar os obstáculos que certos adversários lhe montam, não pode criar rupturas definitivas [sobretudo com gente politicamente poderosa]. Pinto da Costa, ao contrário dos presidentes dos clubes de Lisboa, nunca teve a comunicação social a apoiá-lo, e muito menos o(s) Governo(s), que como estamos fartos de saber, é o mais centralista e castrador da Europa.

Neste ambiente de constante perseguição e suspeita [que incrivelmente ainda se mantém, embora de forma menos descarada, e depois de PC já ter sido julgado e ilibado da maioria dos crimes de que era acusado], não sei se outra pessoa, mesmo com créditos firmados, com uma personalidade diferente de Pinto da Costa, teria capacidade para lidar com tanta adversidade, tanta ratoeira e tanto ódio.

É também por essa razão que, embora discorde de algumas das decisões que tomou ao longo da sua gloriosa carreira, que continuo a sentir uma grande admiração por Pinto da Costa e que estarei sempre contra os autores destes embustes. Até porque, a nível regional não conheço ninguém que defenda a sua dama [o FCPorto] e o Norte como ele. E mais: creio que lá no fundo, até deve ser um gajo porreiro. Difícil,  talvez, mas Pinto da Costa é mesmo um tipo fixe!




30 outubro, 2012

Ter estatuto não pode chegar

Não sei quanto tempo mais será possível manter a fraude e a mentira como forma de exercer a política, e até a própria justiça, o que sei, é que algo vai ter de mudar. Perpetuar estas situações de absoluta discriminação e impunidade é que não pode ser.  

O artigo do bastonário Marinho e Pinto, abaixo publicado, revela bem o estado a que a política chegou, e a dualidade de critérios usada por pessoas que deviam ser as primeiras a servir de exemplo, mas que fazem exactamente o contrário. É portanto "compreensível" o ódio de estimação que alguns magistrados e a própria Ministra da Justiça devem votar ao actual bastonário da O.A. Estão fartos dele, nota-se, e a pedir aos Deuses que o seu mandato chegue depressa ao fim, para ver se lá colocam mais um aldrabão bem falante, com máscara de sábio, igual ou pior aos que o antecederam, e tudo voltar à (a)normalidade.

A manutenção das regalias e direitos dos magistrados [mesmo depois da aposentação] é, à luz do discurso de austeridade usado pelo governo, uma autêntica aberração. Tanto para o Governo, que  mantém essas regalias [e se põe a jeito para suspeitarmos das suas verdadeiras intenções], como também para os próprios beneficiados, que parecem não ter ideia da dignidade do lugar que ocupam. E a propósito de dignidade, convém que isto fique dito e cravado na cabeça de muita gente: a dignidade de um magistrado, ou de um sapateiro, não são mensuráveis pelas regalias que se tem, ou não se tem, e sim pela seriedade e pelo zêlo com que desempenham os respectivos ofícios. Só à posteriori é que as benesses e o prestígio se outorgam, se forem merecidas... Assim é que terá de ser. Tanto para uns, como para outros. 

A maior indignidade que se pode conceber é aceitar-se como naturais as discrepâncias salariais escandalosas entre diferentes actividades, como acontece principalmente neste país. Há gente que apesar de mortal é tratada como se o não fosse, ou como se produzisse paraísos para a sociedade.

Um médico, ou um juíz, são de facto profissões com características e sensibilidades muito próprias, e por isso justificam vencimentos e tratamento privilegiados, mas para isso é preciso que  sejam os próprios cidadãos a reconhecer que o "fato" que vestem assenta bem nos seus corpos, e sobretudo nos seus valores morais e intelectuais. Estamos fartos de ver incompetentes em todas as profissões, isto já para não falar de corrupção, que é o que mais há.

Portanto, senhores governantes, vejam se acabam com essa treta da "dignidade" que reclama para vós carros topo de gama, mas  manda para a fome ou para a emigração os governados, porque tais mordomias deviam dar passaporte directo para  prisão a quem as apregoa. Terão percebido a mensagem, ou precisam de um desenho?            

29 outubro, 2012

Apesar da hora tardia, é importante ler


Austeridade e privilégios

 
Logo após surgir na Comunicação Social a informação de que as escutas de conversas telefónicas entre o primeiro-ministro e um banqueiro suspeito de envolvimento em graves crimes económicos tinham sido remetidas pelo Ministério Público ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça para validação processual a ministra da Justiça entrou em cena com a subtileza que lhe é peculiar. Primeiro declarou que era preciso mexer na legislação sobre o segredo de justiça (quando as vítimas das violações do segredo de justiça eram outras ela dizia que a impunidade acabou) e logo de seguida "solicitou" à Procuradoria-Geral da República que viesse ilibar publicamente o primeiro-ministro e líder do seu partido, o que a PGR prontamente fez garantindo não existir contra ele «quaisquer suspeitas da prática de ilícitos de natureza criminal».

Sublinhe-se que, nos termos da lei (artigo 87, n.0º 13 do CPP), "a prestação de esclarecimentos públicos pela autoridade judiciária" em processos cobertos pelo segredo de justiça só pode ocorrer a "pedido de pessoas publicamente postas em causa" ou então para "garantir a segurança de pessoas e bens ou a tranquilidade pública". Uma vez que nenhum dos escutados (PM e banqueiro) solicitou tais esclarecimentos, os mesmos só podem ter sido "solicitados" e prestados com o nobre intuito de garantir a "segurança" e a "tranquilidade" de todos nós. Mas a PGR foi mais longe e informou que também "foi instaurado o competente inquérito, tendo em vista a investigação do crime de violação de segredo de justiça". Não há como ser zeloso!...

Num segundo momento, a ministra da Justiça (que não chegou a vice--presidente do PSD pela cor dos olhos ou dos cabelos) tratou, no maior sigilo, de tomar outras medidas mais eficazes, prometendo aos magistrados que continuarão a usufruir do privilégio de poderem viajar gratuitamente nos transportes públicos, incluindo na primeira classe dos comboios Alfa. Para isso garantiu-lhes (sempre no maior segredo) que o Governo iria retirar da Lei do Orçamento a norma que punha fim a esse privilégio. O facto de o Orçamento já estar na Assembleia da República não constitui óbice, pois, para a ministra, a função do Parlamento é apenas a de acatar, submisso, as pretensões dos membros do Governo, incluindo os acordos estabelecidos à sorrelfa com castas de privilegiados.
Mas, mais escandaloso do que esse sigiloso acordo político-judicial é a manutenção para todos os magistrados de um estatuto de jubilação que faz com que, mesmo depois de aposentados, mantenham até morrer direitos e regalias próprios de quem está a trabalhar. E ainda mais vergonhoso do que tudo isso é a continuidade de privilégios remuneratórios absolutamente inconcebíveis num regime democrático, sobretudo em períodos de crise e de austeridade como o atual.

O primeiro-ministro, se ainda possui alguma réstia de dignidade e de moralidade, tem de explicar por que é que os magistrados continuam a não pagar impostos sobre uma parte significativa das suas retribuições; tem de explicar por que é que recebem mais de sete mil euros por ano como subsídio de habitação; tem de explicar por que é que essa remuneração está isenta de tributação, sobretudo quando o Governo aumenta asfixiantemente os impostos sobre o trabalho e se propõe cortar mais de mil milhões de euros nos apoios sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção, nos cheques-dentista para crianças e - pasme-se - no complemento solidário para idosos, ou seja, para aquelas pessoas que já não podem deslocar-se, alimentar- -se nem fazer a sua higiene pessoal.

O primeiro-ministro terá também de explicar ao país por que é que os juízes e os procuradores do STJ, do STA, do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas, além de todas aquelas regalias, ainda têm o privilégio de receber ajudas de custas (de montante igual ao recebido pelos membros do Governo) por cada dia em que vão aos respetivos tribunais, ou seja, ao seus locais de trabalho.

Se o não fizer, ficaremos todos, legitimamente, a suspeitar que o primeiro-ministro só mantém esses privilégios com o fito de, com eles, tentar comprar indulgências judiciais.



26 outubro, 2012

Sobre Jornalismo

A comunicação social é, a par da actividade política, aquela a que tenho dedicado mais atenção. O Prof. Alfredo Barbosa, escreveu [semanário Grande Porto] sobre a comunicação social o seguinte:

«A crise dos média não é apenas económica e financeira: é ética, é de valores.

Os órgãos de comunicação social que julgam saber o que os leitores desejam equivocam-se no essencial : são os leitores que os escolhem. E não o fazem apenas porque querem ler o escândalo da capa ou ver a mulher nua da terceira (como no Reino Unido). Os leitores podem comprar, aos milhões, diariamente, os jornais que investem na investigação de escândalos, mas não querem que lhes vendam gato por lebre. Se os leitores estivessem disponíveis para comprar lixo e mais lixo, o magnata dos média, Rupert Murdoch, não teria de sacrificar o seu filho e a sua editora predilecta depois do escândalo das escutas». 

Dos vários parágrafos que compõem o artigo de Alfredo Barbosa, há um detalhe que o excerto acima publicado não permite esclarecer e que faz toda a diferença: os leitores e o jornal a que se referia A.B., não são portugueses, são norte-americanos. Se até aqui, o dinheiro dos portugueses era parco para comprarem jornais, agora não sobra, nem para o pão. Por isso, a forte cumplicidade que os grupos económicos americanos ligados à comunicação social conseguiram estabelecer  com os leitores está ainda longe de acontecer em Portugal. Talvez a razão principal se prenda com a formação cívica dos proprietários dos nossos grupos económicos. Tanto o Jornal de Notícias, como o Diário de Notícias pertencem à Controlinveste, de Joaquim Oliveira [dono de 8 jornais, da TSF, 4 canais da TVCabo, e 2 revistas], que não é propriamente um homem ligado por vocação às letras, e o jornal Público de Belmiro de Azevedo também não, apesar de editorialmente mais criterioso. 

Pena é que crónicas com a relevância das publicadas por Alfredo Barbosa no Grande Porto, não tenham  outra visibilidade*, e que as Direcções dos jornais diários nacionais mais lidos não tenham a coragem de as comentar, quanto mais não seja para saber o que pensam sobre regras de ética, e da discussão que nos Estados Unidos se vem fazendo sobre a "lógica fundacional ou cooperativa" da actividade dos média...

  
* O Semanário Grande Porto continua na tacanhez do quase anonimato. Mesmo eu, que sou leitor habitual, tenho dificuldade em localizá-lo nas bancas dos quiosques, tão bem escondido se encontra. Nem sei como ainda sobrevive. Um pouco de publicidade, não ajudaria, caro Rogério Gomes?  

24 outubro, 2012

Votar é um totoloto, mas não devia ser


Manuel Pizarro
Nem de propósito! O JN de hoje publicou uma interessante entrevista com o candidato pelo PS à presidência da Câmara do Porto, que li com a maior atenção. De modo geral, gostei do que li. E daí? Que garantias me dá uma simples entrevista onde são dadas respostas pertinentes a questões embaraçosas, mas que depois podem não ser levadas a cabo, como sucede frequentemente?





Luís Filipe Menezes
O post que ontem publiquei, se calhar demasiado idealista, ou se preferirem, um tanto ingénuo,  procurou precisamente focar-se nesse ponto: credibilidade.

Acho uma certa piada àqueles cavalheiros que muito se incomodam, com aquela sobranceria de quem tudo sabe, quando alguém enfatiza as questões de carácter dos governantes, como se os eleitores fossem profundos conhecedores da suas carreiras profissionais e sobretudo do seu lado humano. Afinal de contas não será essa a maior das qualidades? E a competência, dirão alguns, não conta? Na minha escala pessoal de valores a competência vem logo a seguir, e por uma razão muito simples. É que um Homem de carácter na acepção positiva do termo, é inevitavelmente dotado de uma consciência cívica e de um sentido de honestidade que as pessoas vulgares não podem possuir. A diferença entre quem tem e não tem carácter, está na consciência do dever. Se entregares o Poder  nas mãos de um oportunista competente, o mais certo é que ele use as competências em seu próprio proveito, descurando inevitavelmente o interesse público, levando-o a agarrar-se ainda mais ao poder até que veja realizadas as suas ambições pessoais. Ao passo que, uma pessoa de carácter e sensata, sabe muito bem o momento de resignar quando percebe que, por limitações próprias ou alheias, não pode pôr em prática os projectos que tinha em mente. A resiliência é contraproducente se for confundida com teimosia irresponsável.

Manuel Pizarro até pode ser um excelente candidato à Câmara do Porto, mas tem pela frente um forte opositor, como Luís Filipe Menezes, com obra feita notável [apesar de muito endividado] em Vila Nova de Gaia. Pizarro tem a vantagem de não pertencer ao partido do Governo e é dos poucos socialistas capaz de inspirar alguma confiança aos portuenses. É um homem afável e aparentemente humilde. Revela uma capacidade para socializar que não parece falsa, o que lhe pode ser de grande utilidade para negociar e empreender. Vive sob o espectro desastroso do Governo anterior. Na entrevista ao JN, teve uma frase inteligente e factual:  "Se votar Menezes, o Porto premeia o Governo PSD". Contará também ele com a curta memória do povo para ter esquecido o legado que Sócrates deixou? É bom que não se fie.

Tenho a impressão que Menezes vai ultrapassar o estigma de violar o prazo legal dos mandatos numa Câmara, mesmo usando o buraco legal que a Lei deixou em aberto para se poder candidatar noutra cidade [Porto]. Como o governo central e o Estado são maus pagadores [e agora estão sem dinheiro], não condeno um autarca que contraia algumas dívidas, desde que justificadas e controladas, para o bem das cidades. Por isso, não é por aí que não votarei em Menezes. Tenho contudo uma espinha entalada com LFMenezes: não gostei do volte-face que deu quando como líder do PSD desvalorizou a Regionalização mal aterrou em Lisboa. Disso, não gostei nada.

Como tal,  para votar só posso mesmo intuir, ou fechar os olhos... Se votar, talvez aposte em Manuel Pizarro. E se ele me sair um outro aldrabão, o que é que faço? Demito-o? Como?

É por não conviver muito bem com estas dúvidas que às vezes prefiro abster-me. Se há coisa que me chateia é passar por anjinho, ou contribuir para promover o estatuto de pessoas sem qualquer qualidade. Ainda tenho muito tempo para me decidir.  


  


23 outubro, 2012

Sonhar, não custa...

Podemos sempre argumentar que quem expõe publicamente o que pensa num blogue também o pode fazer no Facebook, ou no Twitter, exponenciando consideravelmente a visibilidade e por inerência, o número de leitores, e isso é um facto. Agora,  duvido é que haja genuínas vantagens nisso. 

As redes sociais vieram para ficar, tal o poder de sedução que exercem sobre os internautas, incluindo deputados, governantes e o próprio Presidente da República. No entanto, essa excessiva participação com um crescente número de comentadores e de bloguistas, pode ter um efeito contrário ao pretendido. O que acontece normalmente quando há multidões a comentar sobre determinado tema, é sobrar mais espaço para a reacção do que para a reflexão. Veja-se, como exemplo, os comentários alusivos ao futebol apresentados pela Net em jornais, e já sabem a que me estou a referir. Há algumas diferenças, é verdade, mas a tendência é seguir o mesmo modelo, ou seja, derrapar para o insulto fácil ou para inconfessáveis ajustes de contas... Por mim, prefiro o espaço mais "familiar" de um blogue.

É pelas mesmas razões que discordo da participação de governantes e demais figuras do Estado neste género de redes sociais. E não quero com isto dizer que defenda um distanciamento elitista entre os detentores do poder e o povo, mas sim uma postura em conformidade com a relevância que os cargos exgiriam.Os governantes, segundo os meus padrões pessoais, deviam obrigatoriamente ser sóbrios, e de uma honestidade irrepreensível, e dedicar a maior parte do tempo a trabalhar nos assuntos que lhes são inerentes.

O tempo e a vida real diz-me que não devo estar muito longe da razão. O nosso grau de exigência com a qualidade dos dirigentes políticos tem de ser incomparavelmente maior ao que tem sido até aqui. Tenho perfeita noção das dificuldades que tal exigência implica, sobretudo nos tempos que correm, onde não abundam figuras de grande dimensão humana e política. O mundo da política foi  invadido por burocratas e tecnocratas, frios, sem grandes preocupações éticas e sociais, que se não forem brevemente afastados vão continuar a decidir com a irresponsabilidade que se conhece. Caberá às populações procurar os melhores para liderar o país, e os melhores não podem emanar simplesmente do interior dos partidos, sem que nada de verdadeiramente relevante o justifique. 

Para sermos um país com alguma prosperidade teremos de ambicionar a excelência, sempre com a noção de que não será fácil. Mas se formos eliminando compulsivamente os páraquedistas do costume que logo aparecem, como ratos saídos de tocas, para substituir os que lhes antecederam e não mudar nada, talvez então consigamos dar passos firmes nesse sentido. Mas, para que tal aconteça teremos mesmo de deixar de alinhar com eles nos folclores das feiras e dos mercados, e passar a procurar analisar cuidadosamente o que é que eles realizaram de relevante para se arrogarem ao privilégio de nos governar.  A partir daí, se verificarmos que o currículo passa apenas por terem dirigido instituições financeiras, empresas de advocacia ou similares, pomo-los logo de parte. Não servem. A folha curricular terá forçosamente de ser muito mais vasta, rica, e diversificada.

Acima de tudo, terá de ser reconhecidamente: um humanista.  Mas, haverá ainda disso?

      

19 outubro, 2012

Morreu Manuel António Pina

Manuel António Pina
Quando, em 2011, Manuel António Pina soube que lhe tinha sido atribuído o Prémio Camões por toda a sua obra - que inclui poesia, crónica, ensaio, literatura infantil e peças de teatro – afirmou: “É a coisa mais inesperada que podia esperar”.

Também a sua poesia tinha sentido de humor – o que é raro na poesia portuguesa - e mantinha vivo o diálogo com Fernando Pessoa. Na literatura infantil, Pina mostrava também essa tradição do “non sense”, da brincadeira sem deixar de lado a complexidade.

Era um cinéfilo e sabia cenas de alguns filmes de cor. Numa pequena biografia publicada há alguns anos na imprensa francesa dizia-se que gostava de “cultivar a imagem de poeta de ‘série B’ – para usar uma metáfora cinematográfica – neutralizando assim a tentação de fazer ‘a grande poesia’ fruto de auto-ironia e de uma dimensão manifestamente lúdica dos seus textos”.

Costumava citar Luiz Pacheco, que dizia que daqui a cem anos ninguém se lembrará do que escrevemos, para contrapor que essa meta acabava: já daqui a um ano. No entanto os seus livros, nomeadamente os infantis que formaram a geração que hoje tem mais de 40 anos, continuam a ser reeditados e não envelheceram.

Quando em 2011 foi publicada pela Assírio & Alvim, “Todas as palavras – Poesia Reunida (1974-2011)” o crítico Pedro Mexia lembrava no “Expresso”, que “os primeiros poemas de M. A. Pina, não sendo estritamente políticos, documentam uma certa ‘paz dos cemitérios’ e sugerem que ‘não é possível dizer mais nada mas também não é possível ficar calado’. Embora seja tarde, talvez não seja ainda demasiado tarde.”

O título do seu primeiro livro de poesia, “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma é Apenas um Pouco Tarde”, que foi publicado em 1974 tem sido lembrado nas redes sociais e em cartazes espalhados pelo Porto. É uma iniciativa POP para se criar uma versão nacional e actual do cartaz “keep calm and carry on” que, dizem na página que mantém no Facebook, contou com “o apoio e incentivo directo” de Manuel António Pina. O cartaz original foi criado para ser afixado em Londres, caso houvesse invasão alemã durante a II Guerra Mundial. O cartaz português retoma o título de Pina e é uma homenagem ao poeta “pelas palavras que há muito tempo escreve”: “Não é o fim nem o princípio do mundo, calma é a apenas um pouco tarde” procura “de certa forma, sensibilizar, motivar e mobilizar as pessoas tal como o da situação original”, explicam no Facebook.

O escritor que nasceu, em 1943, no Sabugal, na Beira Alta, vivia no Porto desde os 17 anos numa casa com muitos gatos, que lhe davam material de sobra para os poemas. Conta-se, e foi relatado no “JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias” em 2001, que durante a visita a uma exposição de retratos de escritores portugueses na Feira do Livro de Frankfurt, Helmut Kohl terá parado em frente da fotografia de Manuel António Pina e de um gato e perguntado quem era o escritor. Responderam-lhe que era “o do bigode”. E o chanceler terá dito: “Bigodes têm os dois”. Além de integrar a representação oficial da literatura portuguesa na Feira do Livro de Frankfurt, em 1997, o escritor esteve também na comitiva do Salão do Livro de Paris, em 2000, e no Salão do Livro de Genève, em 2001.

Durante a infância, foi-lhe difícil fazer amigos. Andou de terra em terra por causa da profissão do pai que era chefe das Finanças e também tinha o cargo de juiz das execuções fiscais. A família nunca chegava a ficar mais de seis anos em cada localidade. Foi o pai que o ensinou a ler e a escrever mesmo antes de ir para a escola e treinava a ler os títulos do “1º de Janeiro”. Desde os seis ou sete anos que escrevia poemas, que a sua mãe guardava, e embora só tivesse publicado o primeiro livro de poemas em 1974, começou a escrevê-lo em 1965. 

(do  Público))


Nota de RoP:
Lamento sinceramente a morte deste grande jornalista [sem aspas]. Como ele, já não há muitos.

Olha mais um «populista»! Ai o grande malandro!

18 outubro, 2012

Maldita ingratidão

Otelo Saraiva de Carvalho, o mal amado
Às vezes passo-me com o que se escreve nos jornais. A última página do JN de hoje, na coluna dedicada à Figura do Dia, alguém não identificado, escreveu o seguinte, sobre Otelo Saraiva de Carvalho:

«A exemplo de D. Quixote, imagina-se a combater moínhos de vento. O capitão de Abril já antevê uma revolução e tem a certeza que não será pacífica. Haverá, portanto, derramamento de sangue. Olha para as manifestações populares com ansiedade e pede às Forças Armadas que organizem uma acção militar para derrubar o Governo. A sorte de Otelo é que, tal como as personagens de ficção, é inimputável.»

Ponto um. Não vejo Otelo Saraiva de Carvalho, como o vê o jornalista anónimo que escreveu esta piadinha sem sal a seu respeito, não obstante o considere um homem temperamental com - como se diz na gíria - o coração ao pé da boca. Contudo, uma coisa tem de lhe ser obrigatoriamente reconhecida pelos portugueses: é graças a ele, e a um grupo de jovens militares, que devemos o 25 de Abril, data  a partir da qual pudemos conquistar a liberdade e o direito de votar sem batotice. É igualmente verdade que a população aderiu naturalmente ao golpe militar, o que constituiu preciosa ajuda para ele não fracassar, mas não foi quem o concebeu.  Agora, se a democracia não é tão sólida como nós a imaginávamos [e não é, de facto], a culpa não é de Otelo, nem dos outros militares.

Ponto dois.Tenho idade suficiente para saber o que realmente aconteceu em Abril de 1974 e da evolução que a partir dessa data, até hoje, o chamado processo revolucionário sofreu. Portanto, não é qualquer imbecil, mesmo jornalista, que tem o direito de ridicularizar um homem, que, por mais polémico que seja, não enriqueceu com a revolução, e que afinal mais não expressou que aquilo que o povo nas ruas não pára de dizer: « que isto precisa, é de um novo 25 de Abril!».

Ponto três. Tenho bem fresca na memória a reviravolta que determinadas figuras públicas tiveram de dar às suas concepções de liberdade para poderem permanecer no país e não terem de fugir para o Brasil, como Marcelo Caetano, que apesar de tudo, era bem melhor que muitos desse tempo que ainda andam por aí e já mudaram tantas vezes de partido como as "mulheres de vida" mudam de parceiro. Por essa razão muitos deles, se viram forçados a "aceitar" a vida democrática para poderem salvaguardar o seu património. É bom não esquecer isso! Hoje, essas mesmas figurinhas até já se sentem à vontade para dizer que o 25 de Abril não pertence a ninguém, que é de todos, mas nada há de mais falso! Tal como hoje, à época, o povo sozinho nada podia fazer para derrubar o poder, e muito menos os jornalistas que agora se arrogam ao direito de se sentir superiores a alguém que deu, como se costuma dizer, o corpo às balas e... arriscou a própria vida, para fazer aquilo que só ele e os seus companheiros se atreveram a fazer. Se estivéssemos à espera dos jornalistas e dos que restam do antigo regime, acham que teríamos saído tão cedo de uma ditadura? Não se iludam. Não!

No chamado PREC [Período Revolucionário em Curso] cometeram-se excessos e muitas injustiças? Cometeram-se, sim senhor. E o meu saudoso amigo Rui Farinas foi vítima de algumas. No entanto, era das pessoas mais inconformadas que conheci nos últimos tempos.  Mas é esse o risco próprio de qualquer revolução. Há sempre algo que se perde. Mas, pergunto: e agora, decorridos 38 anos, o que é ganhámos? De significativo, nada! E a culpa disso, também será do Otelo? Terá sido ele porventura [e todos os outros militares de Abril] quem governou o país? Não foi, pois não? Então, senhores jornalistas, ridicularizem-se a si mesmos, porque ainda estão muito longe de subir ao pódio da integridade.

 

17 outubro, 2012

A crise agravou-se mas nunca saímos dela



Vitor Gaspar
Agora, todos falam em crise, incluindo muitos dos que a geraram, mas só alguns estão verdadeiramente a sentir na pele as suas consequências. Curiosamente, à medida que os experimentalistas do Governo vão ampliando o lastro social com as suas penalizações fiscais homicidas (mas ainda assim injustas), cresce o descontentamento entre as classes que até agora se achavam blindadas para tamanho saque. Só escapam os bancos, e os próprios responsáveis do Estado, que apesar de pregarem a austeridade á população não dispensam as viaturas topo de gama para se deslocarem, mais que não fora para dar provas de boa vontade e de algum altruísmo. Não percebem que o momento não é de campanha eleitoral, que é preciso praticar os sacrifícios antes de os exigir aos outros. Não há nada a fazer, a classe política não perde tempo com as questões de carácter. Para ela, o carácter apregoa-se, não se revela.

É por «exemplos» destes que, ao contrário do que a generalidade da comunicação social e dos comentadores políticos andam a pregar para entreter  a populaça, nunca me contentarei com o diagnóstico das doenças [o défice, e a crise] sem antes ter garantias que alguma coisa se está a fazer para as prevenir no futuro. Se alguma vez a resolução dos problemas passar por esta ordem [prevenção/diagnóstico], então talvez tenhamos finalmente condições para simplificar a cura. Não estou a dizer nada de insólito. Se esta receita é recomendada pela comunidade médica para o bem estar da saúde pública, por que motivo não há-de ser aplicada à política? 

Por outras palavras, como cidadão eleitor, o que mais me me interessa não é saber se determinado membro do Governo está profissionalmente bem cotado, o que me interessa é saber se tem qualificações éticas e características para o desempenho das respectivas funções. Consta que o actual ministro das Finanças tem uma excelente folha curricular, mas até ao momento não tem conseguido transparecer essa imagem. E não é preciso ser doutorado na especialidade para perceber que não há austeridade que resista ao asfixiamento da economia e ao consequente crescimento do desemprego.  Pode dar-se o caso [neste exemplo, como em muitos outros] que para Victor Gaspar o cargo de Ministro das Finanças constitua o ponto "proibido" da sua carreira política, o seu Princípio de Peter.

Isto até pode parecer populista aos olhos dos mais conservadores, a verdade é que desde o 25 de Abril de 1974, os portugueses não têm um único mandato governativo de verdadeira estabilidade social e económica para recordar e contar aos netos, com orgulho... Houve muito folclore, muita auto-estrada, muita propaganda política, muito oásis, mas nunca deixámos o país sair da crise, ela sempre cá esteve, independentemente de haver mais emprego que hoje. Portanto, para garantir competência governativa, não chega exibir um bom currículo profissional e académico . É importante, mas não é fundamental.

Sendo dado adquirido que ninguém se revela completamente antes de ser posto à prova, o que importaria no futuro era que os eleitos, além de resilientes, fossem dotados de grandes doses de bom senso e outro tanto de humildade, para saberem afastar-se do poder mal se apercebessem não ter capacidade para o desempenhar com mestria. O drama, é que eles pensam que abdicar do poder é sinal de fraqueza, talvez porque ninguém lhes ensinou que nalguns casos, recuar um passo pode significar à posteriori avançar dois. Ou então, pura e simplesmente não querem largar o poder.  

Porque tenho como sagrada a convicção que um governante é um mero [mas respeitável] representante do povo [vivemos uma Democracia representativa], nenhum direito lhe assiste de se prender ao poder contra a sua  vontade, seja porque ainda não atingiu o limite do mandato, seja porque não foi exonerado em sede parlamentar. Compete à sua boa consciência perceber quando é chegado o momento de sair. Façamos um exercício de memória e vejamos quantos é que o fizeram nas circunstâncias que citei.  

Ora, como a boa consciência de cada um, por enquanto, não é curriculável,  nem legível, e o risco de termos de passar por experiências angustiantes como as que vivemos nos últimos anos [antes com Sócrates, e agora com Coelho] é enorme, só vejo duas maneiras de evitar que elas se tornem crónicas: levar a tribunal os governantes corruptos e irresponsáveis e puní-los de forma exemplar. Se aceitamos a austeridade para a economia não podemos exigi-la para a Justiça?  Caso contrário, meus senhores, é corrê-los à vassourada como antigamente se fazia com os ratos. Se nada fizermos, podemos ter a certeza que só nos resta o desabafo como expressão democrática. Mas o desabafo por enquanto não derruba maus governos.

16 outubro, 2012

Carta aberta ao deputado Carlos Zorrinho

Exmo. Sr. Deputado, José Carlos das Dores Zorrinho

Senhor deputado

Se por ventura o tamanho e dimensão do carro ou viatura, em que se faz deslocar, for proporcional ao seu ego político, proponho que compre um autocarro de 50 lugares, à Empresa “Salvador Caetano”.

Vem o Sr. Deputado, que até é chefe parlamentar do partido Socialista, dar umas no cravo, outras na ferradura, após terem-lhe descoberto a pouca vergonha da despesa, por nós todos a ser paga a estes…. «Sultões da política».

Naturalmente que, não será só o PS, o único partido que, habilidosamente vai utilizando o erário público para tal despesismo, enquanto o “POVO estiver predisposto a pagar".

Dou comigo a matutar: Por que razão, esta gente tão foleira, tem que se fazer circular na via pública em carros topo de gama, carros esses de valores pornográficos, enquanto o povo ou a plebe, como queiram, sofre para comprar 1 Kg de arroz?

Não encontro explicação lógica, a não ser, a tão velha parolice, de quem tenha até então, andado de bicicleta, motorizada e que agora sim, “após serem eleitos senhores deputados, já se podem sentar em altas máquinas, estufadas com couro sintético, ar condicionado, portagens pagas e gasolina sem limite, tudo  pago pelo “ Povão”, tendo ainda, note-se, vários motoristas para todo o terreno ou situações, desde ir colocar os meninos ao colégio, ou transportar a excelsa esposa ao cabeleireiro!

Enfim, lá continuamos como é bem à moda do “Tuga”, num fartar vilanagem, apesar do esbulho inacreditável e assassino, com todo o tipo de impostos, imposto ao cidadão comum, pelo Ministro de Estado e Finanças!

Deixo ao Senhor Deputado Zorrinho, duas perguntas:

1ª Pergunta:

Será que um “MEGANE”, um “OPEL ASTRA”, um “FIAT BRAVO”, um (“TOYOTA”, não Toyota não,…. Pois não pertence a EU), mas um “WV GOLF” ou um “SEAT LEON”, simplesmente como exemplo, não chegarão para acomodar e aconchegar a  bunda e o ego dos Srs. Deputados?

2ª Pergunta:

Será que, os Senhores Deputados que, deveriam representar os pacóvios  ( como eu), que os elegeram, para nos defenderem da «««VILANGEM»»» não se coíbem, depois de serem nomeados, repentinamente  passarem, a usufruírem destas mordomias obscenas, não se apercebendo  tão pouco, da tremenda catástrofe social  que o País está a viver, com milhares de Portugueses desempregados e pior ainda  sem terem que comer?

Efectivamente senhor Deputado Zorrinho, quem para a política entra, a moralidade democrática e sensibilidade social para estas minudências (como a fome) fica no tapete da entrada da Assembleia da República, ou melhor, deixou pura e simplesmente de existir!

Venham lá as máquinas de alta cilindrada, para serem captadas pelos radares da GNR a 190 km à hora, que esse problema não existe para tais "Sultões", pois quem pagará a multa será o povo!

Quem o afirmou, foi o seu velho correligionário, Mário Soares.

Atenciosamente:

Fernando José Tavares

(email de um amigo)