25 julho, 2008

De que esperam para demitir o Sr. Procurador?

Alguém disse um dia que o Homem é um animal de hábitos. E disse bem. Bons e maus hábitos. Dos bons hábitos, parece-me que não vale a pena falar pelo óbvio que adjectiva, embora todos possam ser relativizados consoante quem os pratica. Dos maus, é que já não podemos ser tão condescentes, sob pena de termos de arcar com as consequências.

Durante toda a minha vida, não tenho memória de ver o Porto e os portuenses serem tão desconsiderados nos seus direitos de cidadania, como agora. Nem mesmo durante a Ditadura Salazarista pude observar tanta afronta! A desconsideração tem sido crescente ao longo dos últimos anos aproximando-se agora, gravemente, da humilhação.

Os poderes públicos e privados centralistas foram paulatinamente tomando o pulso às "elites" portuenses e, não lhes tendo percepcionado fortes reacções de contrapoder, foram abusando, avançando para patamares de desrespeito e usurpação inimagináveis. Os portuenses, não tendo então uma figura carismática, corajosa, capaz de lhes dar voz e de defender os seus interesses, foram-se habituando, mas apesar disso, estão bem longe de se conformarem.
O futebol, no caso concreto, o Futebol Clube do Porto, com os seus contínuos êxitos desportivos tem - ao invés do que alguns idiotas para aí apregoam -, servido de tampão à fúria de muitos portuenses e refreado outro tipo de comportamentos menos pacíficos. O Govêrno devia estar grato por isso ao Futebol Clube do Porto e ao seu Presidente. Pelo contrário, permite que o ataquem e coopera...

Há (não tenho a mínima dúvida), um tronante grito de revolta mal contido nas gargantas de imensos tripeiros que só não se soltará se os governantes arrepiarem caminho desde já sem mais promessas (falsas ou não) e começarem a descentralizar os poderes. Receio bem que as pessoas já nem sequer se sintam motivadas para esperar que a Regionalização se realize. Percebem que esse processo é longo e duvidam ainda estarem vivas quando (e se) ele se concretizar.

As elites* do Porto e do Norte do país, inversamente ao que se vem fazendo crer, foram e continuam a ser as mais conformadas com a situação humilhante que se vive na região. Ninguém mais do que elas tinham o dever e o poder para se imporem em devido tempo contra o estado de subalternidade lastimoso a que chegamos. A tese do "todos somos responsáveis" é infâme e contradiz totalmente o princípio conservador (elitista) que valoriza as competências, por isso, é mais sensato e inteligente terminar com ela, de uma vez.

As elites* e o empresariado locais, deixaram-se levar pela corrente, adaptaram-se fazendo sucessivas cedências ao poder central. Deslocalizaram as sedes das suas firmas para Lisboa encontrando dessa forma a solução mais "fácil" para se manterem competitivas. Os jornais, as rádios regionais fizeram o mesmo ou, pura e simplesmente desapareceram. A estratégia do empresariado local limitou-se a seguir o adágio popular: "se não podes vencê-los junta-te a eles!". Oportuníssima estratégia essa, mas cómoda e profundamente anti-social.

Os frutos dessa destreza economicista, estão à vista de todos e as repercussões, também. O Porto é a cidade mais pobre do país, e os seus nativos estão privados de alguns dos mais elementares direitos, sendo o da Liberdade um dos mais ameaçados. Não será por dizermos o que pensamos na Blogoesfera que esses direitos estão garantidos. É melhor do que nada, mas não tem ainda a força e a abrangência da Televisão e da Imprensa. Lisboa tem essa ferramenta e mais a da blogoesfera, mas retira claramente os maiores dividendos - tanto económicos como políticos -, da Televisão.

Claro que, tudo isto só é possível, devido ao estado desordenado e folclórico dos poderes públicos. Se lhe juntarmos a desqualificação técnica e cívica dos seus protagonistas temos a cereja em cima do bolo, e assim contemplámos o Portugal democrático-comunitário dos "novos"tempos.

Os casos que estão na ordem do dia (Maddie, Casa Pia, Liga, Apito Dourado, FPF,PJ, Ministério Público, etc.), são o retrato fiel desta amostra de país. Instituições como o MP e a PJ, desaprenderam os seus deveres éticos e deontológicos. É o desnorte total. Alguns dos seus elementos revelam diariamente não estarem à altura das suas responsabilidades. A sedução pelas câmaras de televisão é mais forte do que eles. Gostam de dar entrevistas, deixam passar para os jornalistas informações secretas, falam demais, exibem-se, provocam, insultam-se entre si, esquecem as normas estatutárias e por fim, escrevem livros.

Chegados a este apeadeiro sombrio e decadente, como podemos nós ficar surpreendidos com a credibilidade dada a Carolina Salgado por certos magistrados?

*Detesto esta expressão, mas ela existe. Só a escrevo, para que os elitistas percebam para quem estou a falar. De todo este comentário, faço questão de excluir o Dr. Rui Moreira, que tem sido a única voz inconformada que se faz de facto ouvir no Norte. Outros há, que deviam fazer muito mais do que ele. e não tugem nem mugem. Esperam que a reforma chegue...ou que Lisboa os chame.

6 comentários:

  1. Como eu o entendo Sr. Rui Valente!
    Como eu o apoio nesta verdadeira cruzada!
    Tenho um sonho de reunir Cidadãos do Condado para tertúlias que possam originar a formação de um Movimento de Regeneração desta Nação... Quer tembém pensar nisso?

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  2. Eu nunca tinha pensado dessa forma - Os exitos têm servido de tampão -, mas analisando bem...só posso estar de acordo.Assim como estou em relação ao resto do post.
    Como vamos fazer ouvir a nossa voz?
    Um abraço

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  3. Meus caros,

    É nosso dever transferir (sem entregar, claro) para a acção política a nossa paixão pelo FCP. A cidade precisa de nós, temos de arranjar forma de nos fazermos ouvir.

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  4. Caros amigos.

    As elites e empresários do Porto e do norte estão mais interessados a olharem para o seu umbigo do que propriamente os interesses da região.

    Kosta de alhabaite apoio a sua ideia de fazermos reuniões de forma a darmos uma grande volta nisto tudo.

    Vamos arranjar local para reuniões de forma a conseguirmos fazer valer os direitos dos Portuenses.

    Cada dia que passa mais me mete nojo este país.

    Renato Oliveira

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  5. Calma, calma. Cabeça fria para pensar em acções possíveis.

    Não vamos entrar em aventuras inconsequentes, devemos procurar organizar-nos, mas com cabecinha... Nada de precipitações. Somos ainda poucos para "incomodar". Temos de chamar mais gente ao nosso contacto. Temos de crescer...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...